Síndromes psiquiátricas
Transtornos do desenvolvimento
Autores

Francisco Baptista Assumpção Jr.

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre e Doutor em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Livre-Docente em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor-Associado do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Fundador e responsável pelo Laboratório Distúrbios do Desenvolvimento (PDD-IP-USP). Membro da Academia Paulista de Medicina (cad. 103) e de Psicologia (cad. 17).

Retardo mental
Definição

Funcionamento intelectual global significativamente inferior à média, acompanhado de déficits ou prejuízos concomitantes no funcionamento adaptativo atual, com início anterior aos 18 anos de idade.

Epidemiologia

Considerando-se QI < 50, é de 3 a 4:1.000. Para 50 < QI < 70 estima-se em 2 a 3%. Devem ser observadas as características da região estudada.

Diagnóstico

Segundo o DSM-IV-TR, seu quadro clínico é descrito como "funcionamento intelectual global significativamente inferior à média, acompanhado de déficits ou prejuízos concomitantes no funcionamento adaptativo atual, com início anterior aos 18 anos de idade".

Para a AAMR, é caracterizado como uma limitação substancial no funcionamento presente, com desempenho intelectual médio diminuído (com escores de quociente intelectual, QI, abaixo de 70-75), limitando a adaptação em áreas como comunicação, autocuidado, vida independente, sociabilidade, inserção na comunidade, autonomia, educação acadêmica, lazer e trabalho. É realizado independentemente de se verificar ou não a coexistência de um transtorno físico ou outro transtorno mental.

Classificação

Funcionalmente utiliza-se a International Classification of Impairments, Disabilities and Handicaps (CIF), que vai além da perspectiva puramente biomédica, uma vez que inclui aspectos sociais e ambientais, e complementa assim a CID-10, permitindo melhor compreensão do funcionamento e da deficiência propriamente.

Transtornos de aprendizado
Definição e epidemiologia

Funcionamento acadêmico substancialmente abaixo do esperado, tendo em vista a idade cronológica, as medidas de inteligência e a educação apropriadas à idade.

Epidemiologia

Transtornos de leitura de 5 a 15%, não sendo considerados antes da idade de 7 a 7,5 anos. Proporção de 3,2 meninos:1 menina. Transtornos de cálculo, mais raros, proporção de 1 menino:1 menina.

Diagnóstico
Transtornos de linguagem
Definição

Ausência e alterações na emissão e na funcionalidade da linguagem.

Epidemiologia

17,5%

Diagnóstico
Tratamento

A abordagem dos transtornos de desenvolvimento é multifatorial e complexa, demandando grande maleabilidade e compreensão por parte do avaliador. Um diagnóstico exclusivamente sindrômico tem pouca utilidade, demandando avaliações clínicas, laboratoriais, auditivas, de linguagem e psicométricas, bem como familiares.

Transtornos do espectro autista (TEA)
Autores

Fábio Pinato Sato

Médico Colaborador e Supervisor do Ambulatório dos Transtornos do Espectro Autista (PROTEA) do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Helena Paula Brentani

Psiquiatra. Professora Doutora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Marcos Tomanik Mercadante – in memoriam

Professor Assistente do Departamento de Psiquiatria da Univerisidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Definição

Os transtornos do espectro autista (TEA) têm como características principais prejuízos qualitativos na capacidade de interação social, na comunicação verbal e não verbal e nos interesses restritos ou comportamentos repetitivos. Os sinais são aparentes nos primeiros anos de vida e tendem a diminuir de intensidade com o tempo, mas as incapacidades são persistentes e limitam a vida independente, com prejuízos abrangentes e de intensidade variável em múltiplas áreas do funcionamento, como linguagem, aprendizado e comportamentos adaptativos.

Classificação

• Transtorno autista;
• Transtorno de Asperger;
• Transtorno de Rett;
• Transtorno desintegrativo da infância;
• Transtornos invasivos do desenvolvimento sem outra especificação (SOE).

Diagnóstico

A apresentação clínica dos TEA caracteriza-se por prejuízos qualitativos na capacidade de interação social, dificuldades qualitativas de comunicação verbal e não verbal, e interesses restritos ou comportamentos repetitivos. Os sinais são aparentes nos primeiros anos de vida, geralmente no 2o e 3o anos de vida, persistindo ao longo do tempo. Com frequência os pais descrevem que a criança "perdeu" habilidades que já havia alcançado no 1o ou 2o ano de vida, como deixou de olhar nos olhos ou deixou de falar palavras.

Há uma grande heterogeneidade clínica entre indivíduos acometidos pelos TEA, que se reflete principalmente pela intensidade dos déficits, sobretudo habilidades de linguagem e de funcionamento cognitivo. O diagnóstico é clínico e frequentemente evolutivo, de caráter interdisciplinar, exigindo treinamento especializado.

Propostas de mudanças presentes no DSM-5
Tratamento

O tratamento de indivíduos com TEA tem como objetivos maximizar a aquisição da linguagem, melhorar as habilidades sociais e comunicativas e reduzir comportamentos mal-adaptativos.

A intervenção precoce, quando o cérebro apresenta maior plasticidade, e focada no desenvolvimento de habilidades ainda não adquiridas, tem demonstrado grande sucesso e possibilitado melhores desfechos para os indivíduos ao longo da vida.

Tratamento medicamentoso
Intervenções não farmacológicas

Intervenções precoces efetivas incluem os seguintes componentes:
• Início da intervenção o mais precocemente possível.
• Alta intensidade, sugerindo-se 20 horas semanais em interação um a um com a criança
• Baseia-se no envolvimento, no treinamento e no suporte parental.
• Módulos e programas variados e personalizados para estimular o funcionamento social e comunicativo da criança com um enfoque orientado pelo desenvolvimento.
• Instrução sistemática com objetivos individuais, baseados na análise aplicada do comportamento com um enfoque progressivo e em estágios.
• Investimento na generalização das habilidades adquiridas para outras esferas da vida.

Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade
Autores

Guilherme Vanoni Polanczyk

Professor de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INCT-INPD, CNPq). Coordenador do Programa de Diagnóstico e Intervenções Precoces do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Luis Augusto Rohde

Professor Titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor Colaborador da Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Coordenador do Programa de TDAH do Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA) da UFRGS.

Definição

É entendido como um transtorno do neurodesenvolvimento, que tem origem em perturbações dos processos inicias do desenvolvimento cerebral, sob a forte influência de fatores genéticos de suscetibilidade. As manifestações clínicas do TDAH surgem na infância e tendem a persistir na adolescência e na idade adulta e caracterizam-se por dificuldade em sustentar o foco atencional, distratibilidade, dificuldades de organização e planejamento, inquietude motora e impulsividade.

Epidemiologia

A estimativa da prevalência do TDAH é de 5,29% entre crianças e adolescentes e de 2,5% entre adultos. As estimativas da persistência do TDAH até o início da vida adulta são de 15% para o diagnóstico pleno e de 40-60% quando casos de TDAH em remissão parcial são incluídos.

Principais manifestações clínicas do TDAH ao longo da vida
Diagnóstico

A avaliação clínica deve levar em consideração intensidade, duração, prejuízo funcional, pervasividade e idade de início dos sintomas. A avaliação clínica inclui entrevista com pais sobre a história do desenvolvimento e dos sintomas, exame da criança, informações fornecidas por professores, escalas de sintomas e avaliações complementares. Não há exames que tenham a capacidade de confirmar ou excluir o diagnóstico.

Tratamento

O tratamento do TDAH é multimodal, ou seja, inclui múltiplas abordagens, cada uma delas com objetivos particulares, focadas em aspectos específicos do transtorno e do quadro clínico, como sintomas, padrões cognitivos ou comportamentais, prejuízos e repercussões, comorbidades, psicopatologia parental e situações familiares ou escolares associadas.

A psicoeducação deve ser a primeira abordagem implementada seguindo à comunicação do diagnóstico.

Terapia comportamental e tratamento medicamentoso são as duas modalidades de tratamento que se mostraram eficazes para o tratamento dos sintomas nucleares do TDAH.

O tratamento farmacológico do TDAH tem como objetivos, além da redução dos sintomas, uma duração de efeito consistente ao longo do dia, com mínimos efeitos adversos e satisfação do paciente, facilitando a adesão.

Transtornos motores
Autores

Ana Gabriela Hounie

Psiquiatra. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Supervisora do Ambulatório de Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo da UPIA-UNIFESP e Colaboradora do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo (PROTOC) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Juliana Belo Diniz

Psiquiatra. Doutora em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo. Pós-doutoranda do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Transtorno de desenvolvimento da coordenação
Definição e epidemiologia

Conhecido como síndrome da criança desajeitada, é uma dispraxia que engloba déficits tanto no aprendizado, como no desempenho de habilidades motoras.

Epidemiologia

Afeta em torno de 5% das crianças em idade escolar, tendendo a ocorrer com maior frequência em meninos – proporção de 4 ou 5 meninos para cada menina. Provavelmente, essa prevalência é subestimada, havendo estudos que encontraram até 19% de crianças afetadas na idade escolar.

Diagnóstico

O diagnóstico é dado quando se observa atraso no desenvolvimento das habilidades motoras, grossas e finas, em relação ao desenvolvimento cronológico e à inteligência, que resultam em dificuldades no desempenho das atividades escolares e da vida cotidiana. Geralmente, são crianças inteligentes, mas que não conseguem desempenhar tarefas motoras com a mesma rapidez, precisão e/ou eficiência que seus pares (p. ex., não conseguem aprender a andar de bicicleta, são mais lentos para escrever ou têm dificuldade para se vestir ou comer sozinhos). Consequentemente, a criança pode vir a ter dificuldade na socialização e repercussões na autoestima.

Tratamento

Os profissionais que tratam os distúrbios da coordenação motora são, em geral, terapeutas ocupacionais especializados em psicomotricidade. No cotidiano, pais e professores podem auxiliar as crianças, modificando o ambiente e adaptando as tarefas para permitir o sucesso e aumentar o senso de competência.

Deve-se avaliar a situação individual da criança para desenvolver estratégias específicas que a ajudem a dominar os problemas que enfrenta no dia a dia.

Transtorno do movimento estereotipado
Definição e epidemiologia

Estereotipias são movimentos voluntários, repetitivos e estereotipados (com pouca variação), não tendo objetivo aparente. São encontradas nas crianças normais como um fenômeno do neurodesenvolvimento (fisiológicas, nesse caso desaparecem com o amadurecimento), como fenômeno isolado (estereotipia primária) e em pacientes hiperativos, com retardo mental, com déficits sensoriais, isolamento social e com transtornos do espectro do autismo (estereotipias secundárias), além de poderem ser secundárias a diversas condições médicas.

Diagnóstico

Os critérios do DSM-5 para o diagnóstico desse transtorno, resumidamente, são:

1. Conduta motora repetitiva, aparentemente voluntária e sem função.
2. O comportamento interfere nas atividades sociais e acadêmicas, normais ou causa lesões corporais infligidas pelo próprio indivíduo.
3. Início no período de neurodesenvolvimento.
4. O comportamento não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou a uma doença neurológica e não é mais bem explicado por outra doença mental (p. ex., transtorno obsessivo-compulsivo – TOC e tricotilomania).

Especificar se é com ou sem comportamento auto-lesivo e se é relacionado a uma doença clínica ou genética conhecida (p. ex., síndrome de Lesch-Nyhan, retardo mental e exposição ao álcool na gravidez).

Especificar gravidade: branda, moderada ou grave.

Diferenciação entre estereotipias e tiques

1. Início precoce (< 2 anos, inclusive desde o nascimento).
2. Padrão mais constante (tiques variam ao longo do tempo).
3. Envolvimento maior de mãos, braço e corpo inteiro.
4. Mais rítmicos que os tiques, que são mais súbitos.
5. Mais demorados que os tiques, que são rápidos.
6. Não associados a fenômenos sensoriais, nem causam alívio de tensão interior após sua execução.
7. Ocorrem mais frequentemente quando a criança está engajada em uma atividade.
8. Podem ser cessadas mediante distração, mas a criança não faz esforço para não realizá-las.

Tratamento

Estereotipias isoladas, em geral, não precisam ser tratadas.

tratamento comportamental é eficaz, mas de difícil emprego em crianças com menos de 7 anos. As técnicas utilizadas são reversão de hábito (RH), reforço positivo de outros comportamentos e interrupção de resposta e redirecionamento.

Transtornos de tiques
Definição

Os transtornos de tiques têm em comum a presença de contrações musculares bruscas e involuntárias que podem resultar tanto em movimentos motores evidentes (tiques motores), como na produção de sons e palavras (tiques vocais). Os tiques, em geral, não diferem de movimentos, sons ou palavras normais exceto pela frequência e pelo contexto de sua ocorrência.

Os tiques aparecem de forma repetitiva, porém não ritmada, e, apesar do caráter involuntário, podem ser controlados com muito esforço, mas não abolidos nem controlados permanentemente. Eles ocorrem de forma intermitente e, frequentemente, em "surtos" (ocorrência de vários tiques em um curto espaço de tempo). São comuns períodos de melhora e piora sem qualquer desencadeante observável.

Epidemiologia

A idade de início mais comum de aparecimento dos tiques é entre 4 e 8 anos. A pior fase costuma ser atingida entre 10 a 12 anos e, após a puberdade, os tiques tendem a diminuir e, muitas vezes, desaparecer sem qualquer necessidade de intervenção.

Os transtornos de tique, em geral, podem acometer até 15% da população com predomínio de 4:1 no sexo masculino. As formas graves, no entanto, são mais raras. É estimado que os transtornos de tiques crônicos acometam até 4% da população, enquanto a estimativa para ST é de 1%.

Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

O caráter intermitente e a ocorrência em "surtos" são elementos que ajudam a diferenciar os tiques de outros transtornos do movimento. Do mesmo modo, a presença de história familiar positiva para tiques e TOC corrobora esse diagnóstico.

Tratamento

O caráter potencialmente autolimitado dos transtornos de tiques torna dispensável o tratamento para supressão dos tiques quando o prejuízo funcional é muito leve ou inexistente. Muitas vezes, apenas psicoeducação e a orientação de familiares, colegas e professores são suficientes para reverter potenciais prejuízos relacionados aos tiques.

Quando os tiques são graves e resultam em prejuízo funcional, dificuldade de adaptação social, desconforto físico ou perturbação do ambiente escolar e os limites da psicoeducação e orientação já foram atingidos, tratamentos específicos podem ser indicados.

Tratamento medicamentoso
Tratamento não medicamentoso

Atualmente, a psicoterapia comportamental é a intervenção com melhor evidência de benefício sem riscos conhecidos em médio e longo prazos.

No caso de indisponibilidade da psicoterapia, falha dessa intervenção ou tiques muito graves que impeçam a realização da terapia como alternativa isolada, as intervenções farmacológicas podem ser indicadas.

Transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Autores

Helio Elkis

Professor-Associado III do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa de Esquizofrenia (PROJESQ) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Tais S. Moriyama

Médica psiquiatra da infância e da adolescência. Aluna de doutorado do programa de pós-graduação em Psiquiatria da Unifesp-EPM. Mestre em Ciências pelo programa de pós-graduação em Psiquiatria da Unifesp-EPM.

Mario Rodrigues Louzã Neto

Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. Médico Assistente e Coordenador do Programa de Esquizofrenia (PROJESQ) e do Programa de Déficit de Atenção e Hiperatividade (PRODATH) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Monica Kayo

Psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Definição e epidemiologia

O transtorno do espectro da esquizofrenia compreende a esquizofrenia propriamente dita, assim como outros transtornos psicóticos e o transtorno esquizotípico de personalidade. São definidos pela presença de sintomas como delírios, alucinações, transtorno do pensamento, conduta motora desorganizada, bem como pelos sintomas negativos.

Epidemiologia

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave, complexo e muitas vezes debilitante cuja prevalência aproximada é de 1% da população mundial. Há uma proporção maior de homens em relação às mulheres (1,4:1).

Diagnóstico de esquizofrenia
Diagnósticos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Diagnóstico diferencial

Várias doenças clínicas e neurológicas podem se apresentar com sintomas psicóticos e, por isso, o diagnóstico diferencial é essencial.

Diversos medicamentos podem induzir psicose, alguns exemplos:

• Antivirais;
• Antibióticos;
• Antiparkinsonianos (especialmente dopa e seus derivados);
• Ansiolíticos e antidepressivos;
• Anticonvulsivantes;
• Corticosteroides;
• Imunossupressores;
• Digitálicos;
• Psicoestimulantes (principalmente anfetaminas).

Exames complementares

No primeiro episódio psicótico é recomendável fazer um rastreamento sistemático de causas primárias, incluindo

Propedêutica que deve ser solicitada para exclusão de causa de base

• Exame físico e neurológico
• Hemograma completo, funções tireoidianas e hepáticas
• Pesquisa de substâncias psicoativas na urina
• Tomografia ou ressonância magnética do encéfalo
• Cálcio e cobre séricos
• Sorologia para sífilis e HIV

Exames que devem ser solicitados mediante suspeita clínica específica:

• Cariótipo
• Pesquisa para erros inatos do metabolismo
• Liquor
• Provas reumatológicas
• Eletroencefalograma

Tratamento
Algoritmo para o tratamento da esquizofrenia
Principais antipsicóticos disponíveis no Brasil
Tratamento não medicamentoso

Intervenções psicossociais são indispensáveis para o adequado tratamento da esquizofrenia. Entre elas podemos destacar as psicoterapias individuais, o treino de habilidade sociais, as intervenções familiares (psicoeducação), o emprego protegido, o treino comunitário assertivo e a terapia ocupacional.

Transtornos depressivos
Autores

Doris Hupfeld Moreno

Médica Pesquisadora do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médica Assistente do IPq-HC-FMUSP.

Ricardo Alberto Moreno

Professor Médico Colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Márcio Gerhardt Soeiro-de-Souza

Médico Pesquisador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Definição

O termo depressão pode designar várias condições, inclusive um sentimento normal. Quando patológica, ela se caracteriza por humor depressivo, desinteresse, perda do prazer e principalmente falta de energia.

Epidemiologia

A depressão associa-se com elevadas taxas de morbidade e mortalidade por conta da natureza recorrente e da sintomatologia persistente, levando a diferentes graus de incapacitação e risco de suicídio. Mundialmente, a depressão é a principal ou a segunda maior causa de anos perdidos por incapacitação e morte prematura (Disability-adjusted life years – DALYs).

Diagnóstico
Distimia
Depressão
Transtorno disfórico pré-menstrual

As principais características do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) são crises repetidas de labilidade do humor, irritabilidade, disforia e sintomas ansiosos, que têm seu pico na fase pré-menstrual do ciclo e remitem nos primeiros dias da menstruação.

O diagnóstico requer observação prospectiva dos sintomas durante pelo menos 2 meses e não representa o agravamento de TB, TDM ou transtornos ansiosos.

Diagnóstico diferencial
Psiquiátricos

O principal diagnóstico diferencial psiquiátrico é a depressão do TB, clinicamente indistinguível, mas de pior prognóstico. Cursa com depressões recorrentes, mais graves, crônicas, de difícil tratamento e maior risco de suicídio.

Não psiquiátricos
Exames complementares

Exames complementares servem para auxiliar o diagnóstico diferencial e o acompanhamento de potenciais eventos adversos, como alterações glicêmicas e lipídicas.

Tratamento

A terapêutica adequada muitas vezes consiste na combinação de farmacoterapia, psicoterapia, psicoeducação e/ ou suporte social. Os antidepressivos de segunda geração (como grupo) são considerados o tratamento de primeira escolha, como inibidores seletivos de recaptura de serotonina (ISRS) e de amplo espectro de ação (p. ex., venlafaxina, mirtazapina, duloxetina). Preconiza-se manter a dose eficaz por 1 ano para evitar recaídas e durante anos, se a depressão for recorrente. A manutenção do AD reduz 70% o risco de novos episódios.

Principais antidepressivos disponíveis no Brasil

Transtorno bipolar
Autores

Beny Lafer

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa de Transtorno Bipolar (PROMAN) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Sheila Cavalcante Caetano

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Médica pesquisadora do Programa de Transtorno Bipolar (PROMAN) e Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria (LIM 21) da Universidade de São Paulo. Professora Adjunta do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp).

Paula Villela Nunes

Psiquiatra. Doutora pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professora e Coordenadora da Disciplina de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí. Médica Pesquisadora do Programa de Transtorno Bipolar (PROMAN) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Definição e epidemiologia

Caracterizada pela presença de episódios de hipomania ou mania, intercalados por períodos de normalidade do humor (eutimia), geralmente acompanhados por episódios de depressão. Sintomas psicóticos estão presentes durante as alterações de humor em torno de 30% dos pacientes com TB. Assim, diferentemente do entendimento da antiga terminologia "psicose maníaco-depressiva", episódios depressivos ou psicóticos são frequentes, mas não são condições necessárias para seu diagnóstico.

Definição e epidemiologia

A prevalência ao longo da vida estimada no Brasil é de cerca de 0,9 a 2,1%, respectivamente.

Diagnóstico
Diferenciação entre mania/hipomania e depressão
Classificação
Episódio maníaco

Período distinto de humor anormalmente e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento de energia ou na atividade, durando pelo menos 1 semana, ao longo da maior parte dos dias ou de qualquer duração, caso seja necessária a internação. Devem estar presentes três ou mais dos seguintes sintomas (ou quatro se o humor for apenas irritável) que apresentem alguma mudança notável de um padrão habitual de comportamento e com prejuízo significativo:

• Aumento de autoestima ou grandiosidade.
• Diminuição da necessidade de sono.
• Muito falante ou até com pressão de discurso.
• Fuga de ideias ou a impressão dos pensamentos estarem acontecendo muito rapidamente
• Distração.
• Aumento de atividade direcionada a um objetivo (social, acadêmica, no trabalho, sexualmente)
• Agitação psicomotora (isto é, atividade sem um objetivo claro).
• Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas (p. ex., negócios arriscados, compras irresponsáveis, indiscrições sexuais).

Podem estar presentes sintomas psicóticos: os delírios (em geral, têm natureza expansiva e grandiosa, com conteúdo religioso, de poder e, às vezes, persecutório) e as alucinações (geralmente auditivas, são breves, flutuantes e inconstantes).

Episódio depressivo maior

Cinco ou mais dos seguintes sintomas (pelo menos um dos dois primeiros presentes), durante o mesmo período de duas semanas, quase todos os dias:


• Humor deprimido na maior parte do dia.
• Diminuição de interesse ou prazer na maior parte das atividades.
• Diminuição ou aumento importante de apetite ou peso (não causado por dieta).
• Diminuição ou aumento de sono.
• Agitação ou retardo psicomotor.
• Perda de energia ou fadiga.
• Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva.
• Dificuldades de concentração ou indecisão.
• Pensamentos de morte.
• Ideação suicida (com ou sem planos estruturados).

Episódio misto

Nos episódios maníacos ou hipo-maníacos com características mistas, precisam estar presentes, além dos sintomas de mania aguda, pelo menos três dos seguintes sintomas:


• Disforia ou humor deprimido, diminuição de interesse ou prazer.
• Retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, menos-valia ou culpa.
• Pensamentos de morte ou ideação suicida.

No episódio depressivo com características mistas, precisam estar presentes, além da depressão, pelo menos três dos sintomas de mania, exceto distração.

Ciclagem rápida

Caracteriza-se pela ocorrência de quatro ou mais episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos em um período de 12 meses, com intervalo de 2 meses entre eles (pode haver remissão parcial) ou com mudança de polo (depressivo ou maníaco).

Aparece com maior frequência em mulheres, com uso de antidepressivos e uso abusivo de álcool e outras substâncias. A importância clínica está na maior dificuldade de estabilização de humor e no maior risco de piora do quadro com medicações com ações antidepressivas.

Diagnóstico diferencial
Exames complementares

Não existem ainda exames que tragam o diagnóstico inequívoco de TB.

Exames complementares de neuroimagem são usados exclusivamente na prática clínica para descartar patologias de outra natureza e estão indicados normalmente apenas nos casos de apresentação ou idade de início incomum.

Exames de sangue, normalmente, estão indicados para todos os pacientes com sintomas característicos do TB e servem para descartar patologias de outra natureza e para monitoramento de segurança de uso dos medicamentos.

Tratamento

Os objetivos do tratamento são alcançar a eutimia, prevenir o aparecimento de novos episódios, além de obter a recuperação do funcionamento social e ocupacional. Como normalmente é um tratamento por toda a vida, deve-se atentar aos seus efeitos colaterais de longo prazo.

Tratamento farmacológico
Recomendações para o manejo da mania aguda
Recomendações para o manejo da depressão bipolar
Recomendações para o manejo de manutenção
Tratamento não farmacológico
Intervenções psicossociais

As intervenções psicossociais têm como objetivo geral melhorar a habilidade de reconhecer e intervir precocemente em sintomas prodrômicos de recorrência, aumentar a aceitação da doença e a adesão ao tratamento medicamentoso, melhorar a habilidade em lidar com estressores, manter rotinas saudáveis (p. ex., sono e atividade física regular), retomar papéis sociais, familiares e ocupacionais, melhorar comunicação e relações familiares e reduzir o uso nocivo de drogas e álcool.

Psicoeducação

A psicoeducação é fundamental, mesmo em poucas sessões, porque nela o paciente e seus familiares recebem informações sobre a doença e as melhores condições para o tratamento (exemplificadas anteriormente). Aumenta a adesão ao tratamento, pode reduzir em até 50% o número de recaídas e reduz o impacto da doença no paciente e em seu núcleo de relacionamentos. É, em relação à psicoterapia, uma excelente opção custo-benefício.

Psicoterapias

A psicoterapia cognitivo-comportamental (TCC) e a interpessoal são as que dispõem de mais evidências de eficácia no tratamento do TB. Outras psicoterapias, como a psicoterapia familiar e suporte assistido por computador, vêm apresentando evidências de bons resultados.

Transtornos de ansiedade ao longo da vida
Autores

Márcio Bernik

Psiquiatra. Doutor pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Ambulatório de Ansiedade (AMBAN) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Fábio Corregiari

Psiquiatra. Doutor pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Florindo Stella

Instituto de Biociências, Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Fernando Ramos Asbahr

Psiquiatra. Doutor pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Definição

A ansiedade pode ser caracterizada como um estado emocional aversivo, uma inquietação interna, uma preocupação exagerada com o futuro, acompanhada de sensações corporais. O medo é uma reação a um perigo específico. Medo e ansiedade são estados emocionais muito comuns. Tornam-se patológicos quando passam a ser disfuncionais, ou seja, a trazer prejuízos sociofuncionais e/ou sofrimento importante para o indivíduo.

Epidemiologia
Diagnóstico
Ataque de pânico
Transtorno de pânico
Agorafobia
Transtorno de ansiedade generalizada

É um transtorno crônico que envolve ansiedade excessiva e preocupações sobre diversos eventos ou situações na maioria dos dias por pelo menos 6 meses. A dificuldade para controlar as preocupações é marcante, e as queixas físicas são comuns. Os sintomas psicológicos podem incluir irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração e falhas de memória.

As preocupações não se restringem ao foco de outros transtornos psiquiátricos, como o medo de ter novas crises no TP, o conteúdo das obsessões no TOC ou o medo da avaliação negativa no transtorno de ansiedade social (TAS).

Transtorno de estresse pós-traumático
Fobias específicas

Fobia é uma condição na qual determinado objeto ou situação gera no indivíduo extrema ansiedade ou medo, acompanhada de comportamentos de fuga/esquiva do objeto temido. O paciente teme um ou mais objetos ou situações causadoras de ansiedade, como sangue, injeção, altura, animais, voar, entre outras.

Transtorno de ansiedade social

No TAS, as situações temidas são as sociais. Pacientes com TAS relatam intenso desconforto em situações cotidianas. Esse desconforto é caracterizado por sintomas somáticos de ansiedade ou pode manifestar-se na forma de crises de choro ou de raiva, irritabilidade ou imobilidade. Pelo seu comportamento de esquiva, crianças e adolescentes com TAS não desenvolvem bem suas habilidades sociais e podem se tornar pessoas restritas e solitárias. Participar em festas, reuniões sociais, manter um diálogo mais prolongado com autoridades, escrever, telefonar e comer em público são alguns exemplos do que o pacientes com TAS procura evitar.

Transtorno de ansiedade de separação

O transtorno de ansiedade de separação está entre os quadros psiquiátricos mais comuns na infância e na adolescência. Caracteriza-se pelo medo excessivo acerca da separação dos pais ou seus substitutos ou de sua casa. Ocorre um apego excessivo a seus cuidadores, evitando o afastamento deles ou telefonando repetidamente como forma de assegurar seu bem-estar.

Mutismo seletivo

Trata-se de um transtorno bastante raro da infância, caracterizado pela capacidade de compreender a linguagem e de falar, mas de não o fazer em certas situações. Crianças com mutismo seletivo podem ter desempenho escolar inferior e comprometimento dos relacionamentos em razão da falta da fala. Em geral, é diagnosticado na pré-escola, quando se espera que a criança comece a interagir em um ambiente mais amplo. Em vez de se comunicarem pela verbalização, essas crianças o fazem por gestos, acenos ou balanços de cabeça, puxando ou empurrando ou, em alguns casos, por monossílabos ou sussurros.

Diagnóstico diferencial

Os TA devem ser diferenciados de outros transtornos psiquiátricos, condições médicas gerais e quadros associados ao uso ou abstinência de substâncias. Sintomas psicóticos, depressão, demência e efeitos adversos de medicamentos incluem-se nesse contexto.

Em idosos, considerar agitação nas síndromes demenciais e excluir um episódio de engasgo ou congelamento da marcha na doença de Parkinson. Nessa população, também se deve considerar a possibilidade de que as crises de medo, eventualmente associadas a abuso, tenham uma base real, com ameaças à integridade física ou mental do idoso.

Exames complementares

Não há exames específicos para confirmação do diagnóstico de TA. Entretanto, é pertinente a avaliação clínica e laboratorial com a finalidade de identificar doenças médicas gerais, especialmente em idosos.

Tratamento

Muitas vezes, pacientes com TA resistem em aceitar o diagnóstico de transtorno mental. Uma explicação clara sobre os TA, seus sintomas e tratamento é um passo fundamental. Mudanças de hábitos também podem ser úteis como eliminar o uso de estimulantes (p. ex., cafeína e nicotina) e a prática regular de exercícios.

Principios do tratamento não farmacológico

Frequentemente, intervenções psicoterápicas específicas são necessárias. A eficácia da terapia cognitivo comportamental (TCC) foi demonstrada em diversos estudos controlados. Em crianças e adolescentes, deve haver uma abordagem múltipla, incluindo psicoeducação, TCC, consultoria escolar, terapia familiar e farmacoterapia.

Principios do tratamento farmacológico

Os medicamentos mais empregados nos TA são os inibidores seletivos da recaptura de serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptura de serotonina e noradrenalina (IRSN). Os antidepressivos tricíclicos não são considerados tratamento de primeira escolha em razão dos efeitos colaterais, como comprometimento cognitivo, turvamento visual, aumento do intervalo QT, obstipação intestinal e retenção urinária. Em idosos, recomenda-se a escolha de substâncias com perfil metabólico favorável e menor risco de interação medicamentosa. Benzodiazepínicos (BZD) podem causar sedação excessiva, com risco de quedas nessa população.

Aspectos específicos do tratamento
Transtorno de pânico

Uma particularidade do tratamento do TP é o fato dos pacientes serem mais suscetíveis aos efeitos de hiperexcitação inicial causados pelos ISRS.

Os BZD são considerados drogas eficazes no tratamento do TP. No entanto, o alto índice de recorrência após a interrupção, o risco de dependência iatrogênica e a falta de eficácia nos sintomas depressivos fazem com que essas drogas não sejam consideradas de primeira linha. Podem ser usados com cautela e por tempo limitado, principalmente no início do tratamento com antidepressivo e intermitentemente em épocas de exacerbação dos sintomas.

TEPT

Os ISRS e a venlafaxina são considerados tratamentos de primeira escolha no TEPT. Os BZD não apresentam resultados consistentes para sintomas específicos do TEPT, mas essas drogas podem ser úteis para sintomas associados, como outras condições ansiosas ou insônia.

Fobias específicas e TAS

Nas fobias específicas e no TAS de desempenho, a TCC é o tratamento de escolha. No TAS, o tratamento farmacológico de primeira escolha são os ISRS e a venlafaxina. Dificilmente, o tratamento farmacológico é suficiente. Na maioria dos casos, a dessensibilização das situações temidas e a aquisição de novos repertórios comportamentais são essenciais.

Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos relacionados
Autores

Daniel Lucas da Conceição Costa

Psiquiatra. Ex-preceptor da Graduação do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Doutorando do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Juliana Belo Diniz

Psiquiatra. Doutora em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo. Pós-doutoranda do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Maria Alice De Mathis

Psicóloga. Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Pós-doutoranda do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Marcelo Queiroz Hoexter

Psiquiatra. Doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-doutorando do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Vice-coordenador do Programa Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.

Roseli Gedanke Shavitt

Psiquiatra. Professora Colaboradora-Médica do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Coordenadora do Programa Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

Transtorno obsessivo-compulsivo
Definição e epidemiologia

Caracteriza-se pela presença de obsessões (pensamentos, ideias, imagens, medos intrusivos) e compulsões (comportamentos visíveis ou atos mentais repetitivos realizados de maneira ritualística). Na maioria das vezes, as compulsões ocorrem em resposta à ansiedade, ao desconforto ou ao mal-estar causados pelas obsessões.

O curso do TOC é crônico, com períodos de melhora e piora, sendo que o início dos sintomas pode ser agudo ou insidioso, não havendo um padrão de evolução determinado. Dificilmente os pacientes experimentam períodos assintomáticos.

Epidemiologia

Apresenta prevalência de 1 a 3% ao longo da vida na população geral.

Diagnóstico
Tratamento
Tratamento farmacológico

Atualmente, o tratamento medicamentoso de primeira linha para o TOC são os inibidores seletivos da recaptura de serotonina (ISRS). Não existe diferença de eficácia entre os diversos ISRS e a clomipramina. Os ISRS são considerados a primeira escolha no tratamento medicamentoso do TOC em razão de maior segurança e tolerabilidade.

As taxas de remissão completa dos sintomas em estudos de acompanhamento são baixas, ocorrendo em apenas 10-20% dos portadores.

Duas opções de potencialização do tratamento com ISRS são a associação com antipsicóticos (p. ex., risperidona) e o uso da TCC.

Tratamento não farmacológico

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a recomendada para tratar o TOC, com diversos estudos mostrando melhora dos sintomas. Dentro dessa linha, a técnica de exposição com prevenção de resposta (EPR) é a que reúne maior evidência de eficácia.

Transtorno dismórfico corporal (TDC)
Definição

A TDC relaciona-se a uma percepção distorcida da imagem corporal e preocupações exageradas com um defeito imaginário na aparência ou com um mínimo defeito corporal presente.

Epidemiologia

A prevalência do TDC varia de 1,7-2,4% na população geral, 7-15% em indivíduos que procuram cirurgia plástica estética e 9-15% em pacientes dermatológicos.

Diagnóstico

• Preocupação com um ou mais defeitos imaginários na aparência; caso uma mínima anomalia física esteja presente, a preocupação do indivíduo é marcadamente excessiva.
• Em algum momento ao longo do curso do transtorno, o indivíduo realizou comportamentos repetitivos (verificação no espelho, grooming excessivo, cutucar a pele, pedidos de reasseguramento) ou atos mentais (comparar sua aparência com a de outros).
• Essa preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo na vida social, ocupacional ou em outras áreas importantes do funcionamento.
• A preocupação não é mais bem explicada por outro transtorno mental (p. ex., insatisfação com a forma e o tamanho do corpo, relacionada ao peso, como na anorexia nervosa).
        • Especificar se:
                • Com dismorfia muscular: o indivíduo preocupa-se com a ideia de que o seu corpo é muito pequeno ou com a musculatura insuficientemente desenvolvida. O especificador deve ser usado mesmo se o indivíduo também apresentar preocupações com outras áreas do corpo, o que frequentemente ocorre.
                • Com insight bom ou moderado; insight pobre; sem insight ou delirante.

Tratamento

O tratamento medicamentoso é realizado preferencialmente com inibidores da recaptura de serotonina (clomipramina e ISRS). As doses utilizadas devem ser as máximas recomendadas por bula ou toleradas pelo paciente. Deve-se aguardar de 8 a 12 semanas para observar a resposta. Mesmo a variante delirante do TDC deve ser tratada com essa classe de medicamentos.

Uma metanálise mostrou que tanto a farmacoterapia quanto a TCC são eficazes no tratamento do TDC, mas a TCC associou-se a tamanhos de efeito significativamente maiores do que os medicamentos.

Transtorno de colecionamento
Definição e epidemiologia

O colecionamento tem sido caracterizado como um comportamento de adquirir objetos de pouca utilidade ou que tenham valor questionável e pela dificuldade persistente em descartá-los, levando ao acúmulo excessivo de objetos.

Epidemiologia

A prevalência do transtorno de colecionamento varia de 2 a 6% em estudos com populações adultas, sendo que homens e mulheres são igualmente acometidos.

Diagnóstico

O diagnóstico deve ser estabelecido quando:

• Os sintomas de colecionamento não estão relacionados a outros sintomas do TOC, ou seja, o comportamento de acumular objetos não está atrelado a aliviar o mal-estar provocado por uma obsessão ou impedir outras compulsões.
• Os sintomas geram o acúmulo de objetos em grande escala, que muitas vezes impedem que os cômodos da casa (escritório, cozinha, quarto) sejam utilizados para seus propósitos originais.
• O paciente pode ter a experiência de satisfação ou de prazer ao acumular objetos.
• Normalmente, existe interesse pela maioria dos objetos acumulados.

Diagnóstico diferencial de TOC

O colecionamento é considerado um sintoma do TOC quando:

• O comportamento de acumular está relacionado à presença de alguma obsessão (p. ex., medo de se contaminar, medo de executar impulsos agressivos, medo de fazer algo moralmente incorreto, pensamentos supersticiosos, sentimentos de incompletude) ou é mantido para evitar que outras compulsões aconteçam (p. ex., não jogar fora objetos para evitar rituais de lavagem, contagem, checagem).
• O colecionamento não está associado a um desejo genuíno de possuir coisas.
• Os sintomas devem causar sofrimento ou prejuízo social e ocupacional ao indivíduo.

Demais diagnósticos diferenciais

Na prática clínica, sintomas de colecionamento podem estar presentes em outros quadros psiquiátricos ou condições clínicas, que devem ser investigados para o diagnóstico diferencial:

• Síndromes depressivas: pacientes com quadros depressivos podem ter dificuldades em se desfazer de objetos em razão de acentuada falta de motivação.
• Síndromes psicóticas: pacientes com quadros psicóticos podem acumular objetos em decorrência da desorganização do pensamento.
• Síndromes demenciais: pacientes com déficits cognitivos podem ter dificuldades em se desfazer de objetos.
• Síndromes orgânicas: acidente vascular cerebral, lesões cerebrais, hemorragias cerebrais, tumores cerebrais acompanhados de manifestações comportamentais.
• Síndrome de Diógenes: quadro caracterizado pelo extremo descuido com a higiene pessoal, negligência com o asseio da própria moradia, isolamento social e sintomas de colecionamento.

Tratamento

A quantidade de estudos que relacionam a resposta ao tratamento com sintomas de colecionamento é reduzida e os achados são controversos. Alguns sugerem que a presença desse sintoma relaciona-se a pior resposta tanto aos ISRS quanto à TCC.

Transtorno de arrancar cabelos (tricotilomania) e transtorno de cutucar a pele (dermatotilexomania)
Definição e epidemiologia

A tricotilomania tem como sintoma principal o comportamento recorrente de arrancar cabelos ou pelos. A dermatotilexomania (ou escoriação neurótica), caracterizada pelo comportamento de cutucar a pele.

Epidemiologia

A ausência de estudos epidemiológicos impede o cálculo de uma estimativa confiável de prevalência na população geral.

Diagnóstico
TAC

O ato de arrancar cabelos atinge com mais frequência o couro cabeludo, seguido das sobrancelhas e dos cílios, mas pode acometer qualquer parte do corpo. Para o diagnóstico do TAC, é preciso que o comportamento não seja mais bem explicado por outra doença clínica ou psiquiátrica e que esteja associado a falhas aparentes de cabelos/pelos, além de incômodo significativo ou prejuízo funcional.

TCP

O TCP pode ser diagnosticado mesmo quando as lesões ocorrem em cima de lesões prévias, por exemplo, as lesões de acne. Assim como no TAC, lesões evidentes e incômodo significativo ou prejuízo social são necessários para o diagnóstico. Os sintomas do TCP não devem ser mais bem explicados por outro diagnóstico clínico ou psiquiátrico. A variante delirante do comportamento de cutucar a pele, também conhecido como delírio de infestação, é classificado como um transtorno delirante e não como TCP.

Diagnóstico diferencial

Os transtornos psicóticos podem estar associados ao ato de arrancar de cabelos/pelos em decorrência de delírios somáticos e o transtorno dismórfico corporal pode se associar ao arrancar de cabelos/pelos com o intuito de esconder um imaginado efeito na aparência. Nesses casos, o comportamento de arrancar cabelos/pelos não é considerado um transtorno psiquiátrico específico.

Tratamento

São também escassos os estudos controlados que avaliaram a eficácia dos tratamentos farmacológicos e psicoterápicos para esses transtornos. Para ambos, a técnica de psicoterapia comportamental conhecida como reversão de hábito é a terapêutica com melhor evidência de eficácia. Estudos abertos sugerem que os ISRS podem ser eficazes para esses transtornos.

Transtornos relacionados ao uso do álcool
Autores

André Malbergier

Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Illinois em Chicago.

Camila Magalhães Silveira

Professora Colaboradora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Doutora pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Pesquisadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Departamento e Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP e do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA).

Definição e epidemiologia

O álcool é uma substância psicotrópica depressora do sistema nervoso central (SNC) que age provocando mudanças no humor, comportamento, percepção e/ou consciência e pode provocar dependência.

Epidemiologia

No Brasil, 62% dos homens e 39% das mulheres acima de 18 anos ingeriram álcool no último ano. Dos que beberam no último ano, 66% dos homens e 49% das mulheres tiveram algum episódio de beber pesado (4 a 5 doses em um episódio).

Dez por cento dos homens e 3,6% das mulheres são dependentes de álcool.

TRA
Diagnóstico

A classificação da gravidade do transtorno baseia-se na quantidade de critérios preenchidos pelo indivíduo, sendo: dois a três critérios, um transtorno leve quatro a cinco, moderado e seis ou mais, grave.

Exames complementares

Dois testes sanguíneos podem se apresentar alterados nesses indivíduos, sendo eles: gama-glutamil transferase (GGT) e transferrina carboidrato-deficiente (CDT). Outros testes sanguíneos que podem ser úteis para indicar consumo abusivo e crônico: elevação do volume corpuscular médio (VCM) e de outros biomarcadores hepáticos, como aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT). O índice AST/ ALT ≥ 2 é muito sugestivo de doença hepática alcoólica.

Tratamento
Tratamento farmacológico

Dissulfiram (DSF) é um inibidor irreversível e inespecífico da enzima aldeído desidrogenase (ALDH). Ao inibir essa enzima, ocorre um acúmulo de acetaldeído no organismo, gerando uma série de sinais e sintomas desagradáveis, potencialmente perigosos. Os pacientes devem abster-se totalmente do álcool e possuir um completo entendimento acerca dos riscos e princípios do tratamento. O DSF oral supervisionado é eficaz quando incorporado a uma abordagem psicossocial.

A naltrexona é um antagonista do receptor opioide muito utilizado no tratamento do alcoolismo em razão da sua atuação como atenuante dos efeitos prazerosos do álcool. Realizar a monitorização dos valores da bilirrubina total e frações e das transaminases séricas nos 3 primeiros meses. A naltrexona deve ser suspensa se houver elevação das transaminases de maneira persistente.

O topiramato diminui o ato de beber pesado e promove a abstinência, além de melhorar outros parâmetros associados ao uso de álcool. As doses preconizadas variam de 100 a 400 mg, devendo-se fazer um aumento gradativo.
O uso de topiramato em alcoolismo ainda não é aprovado nem no Brasil nem nos Estados Unidos.

Tratamento psicoterápico

A abordagem do paciente dependente químico deve ser multidisciplinar. O envolvimento de diversos profissionais visa ajudar o paciente a mudar os padrões de comportamento que o levam ao uso da droga, assim como seus processos cognitivos e funcionamento social.

A chegada ao tratamento é um momento extremamente importante na construção de um vínculo com o paciente. A abordagem deve ocorrer de modo empático, desprovido de cobranças e discussões, em que o dia a dia do paciente deve ser organizado e seus progressos monitorados e reconhecidos. A motivação do paciente para mudança (promoção e manutenção da abstinência) deve ser avaliada já no primeiro encontro. O profissional de saúde é parte determinante para tal motivação e terá de ser hábil para vencer as resistências e a ambivalência do paciente.

A avaliação do estágio de motivação é o ponto de partida para iniciar o tratamento. A intervenção na motivação do paciente pode ser realizada pela entrevista motivacional (EM). A prevenção da recaída (PR) é uma técnica fundamentada nos modelos teóricos da terapia cognitiva que visa "ensinar" o indivíduo a reconhecer quais são as situações emocionais, cognitivas e ambientais que desencadeiam a vontade e o uso da substância.

Abordagem familiar

Em relação ao ajustamento familiar, preconiza-se que a família participe do tratamento.

• O dependente precisa de apoio para superar as dificuldades e estabelecer um novo modo de vida sem o uso do álcool.
• A família deve ajudá-lo estabelecendo regras que ajudem a afastá-lo do risco de recaídas.
• família deve também ser orientada quanto aos sinais precoces de recaída e sobre limites a serem dados para o paciente.

Intoxicação alcoólica
Diagnóstico

Sinais e sintomas decorrem de níveis crescentes de depressão do sistema nervoso central. Inicialmente, há sintomas de euforia, evoluindo para tontura, voz pastosa, ataxia e incoordenação motora, confusão e desorientação, podendo chegar ao coma. A intensidade da sintomatologia da intoxicação tem relação direta com a alcoolemia.

Tratamento

• Certificar que os sinais vitais estão estáveis, sem evidência de depressão respiratória, aspiração brônquica, arritmia cardíaca, alterações importantes na pressão sanguínea e traumatismo cranioencefálico.
• A possibilidade de intoxicação com outras drogas precisa ser considerada.
• Em geral, a interrupção da ingestão alcoólica em pacientes clinicamente estáveis e a acomodação destes em um ambiente calmo, livre de estímulos, é suficiente para tratar a intoxicação.
• Em caso de reposição de glicose, poucas vezes indicada, o médico deve antes administrar uma ampola de tiamina intramuscular ou endovenosa.
• Quando há risco de violência, procedimentos hospitalares devem ser seguidos, incluindo a possibilidade do uso da contenção pela equipe de intervenção. Uma alternativa é a utilização de um antipsicótico, mas essa conduta apresenta risco de convulsão já que os antipsicóticos diminuem o limiar convulsivo.

Diagnóstico diferencial

Hipoglicemia, alterações hepáticas, desnutrição e infecções.

Síndrome de abstinência alcoólica (SAA)
Diagnóstico

Os sintomas e sinais mais comuns são: tremores, agitação, ansiedade, hiperestimulação do sistema nervoso autônomo (taquicardia, taquipneia e aumento na temperatura corpórea), alterações de humor, náuseas, vômitos e insônia.

Sintomas iniciam de 5 a 10 horas após interrupção/diminuição da ingestão do etanol, com pico de intensidade no segundo ou terceiro dia e melhoram a partir do quarto dia. Ansiedade, insônia e disfunção autonômica podem persistir em algum grau por até seis meses, o que pode contribuir para a recaída.

Complicações da SAA incluem convulsões, alucinações e delirium tremens (DT).

Complicações
Convulsões secundárias a quadros de abstinência alcoólica

São geralmente do tipo tônico-clônicas (ou "grande mal") e incidem nas primeiras 48 horas (com pico entre 13 e 24 horas) após a suspensão ou redução do consumo de álcool. O aparecimento de convulsões está associado a quadros mais graves de abstinência.

Delirium tremens

Caracteriza-se por confusão mental, tremores e hiperatividade autonômica. Essa complicação grave e potencialmente letal da síndrome de abstinência alcoólica é vista em menos de 5% dos indivíduos dependentes de álcool.

O DT inicia-se até 72 horas após a abstinência e compreende sinais e sintomas variados como confusão mental, alucinações, tremores, febre (com ou sem sinais de infecção) e hiper-responsividade autonômica, com hipertensão, taquicardia e sudorese. Alterações sensoperceptivas (alucinações e ilusões) são comuns, sendo as alucinações visuais mais comuns, especialmente as microzoopsias (pequenos animais). Delírios também são frequentes, em geral, persecutórios e relacionados à desorientação temporoespacial.
Quadros de delirium usualmente apresentam sintomas flutuantes, com piora à noite.

Tratamento

Os benzodiazepínicos (BZD), dentre os agentes depressores do SNC, são a primeira escolha por possuírem boa margem de segurança, baixo custo, ação anticonvulsivante e preventiva do DT. Os BZD de meia-vida longa, como o diazepam, são os mais utilizados. Lorazepam é utilizado para pacientes com complicações hepáticas (não depende de metabolismo hepático).

Excluir complicações associadas, como arritmias cardíacas, hipoglicemia, falência hepática, infecções, desidratação, sangramento gastrointestinal e desequilíbrio hidroeletrolítico (hipopotassemia, hiponatremia e hipomagnesemia).

Oferecer nutrição adequada, repouso.

Administrar vitaminas orais contendo complexo B e 100 mg de tiamina intramuscular diária por 3 dias.

Pacientes com quadro de abstinência leve, sem complicações clínicas ou antecedentes convulsivos, podem ser tratados ambulatoriamente e medicados com diazepam de 10 a 60 mg por dia nos primeiros dias.

O acompanhamento deve ser diário na primeira semana e o aumento ou diminuição da dose deve ser realizado de acordo com as necessidades do paciente. Após o controle dos sintomas, a medicação deve ser retirada gradualmente.

Convulsões secundárias a quadros de abstinência alcoólica

Internar o paciente em ambiente hospitalar e utilizar benzodiazepínicos para o controle da crise convulsiva. A administração de benzodiazepínicos por via intravenosa requer técnica específica e retaguarda para manejo de eventual parada respiratória.

O uso de anticonvulsivantes (hidantalização) pode ser indicado em convulsões de repetição, mas se não houver outra etiologia que não a dependência de álcool, seu uso não deve ser mantido após a resolução do quadro.

Delirium tremens (DT)

A internação é sempre indicada e o tratamento de suporte é o mesmo dos casos de abstinência de álcool. Os pacientes devem permanecer em ambiente desprovido de estímulos e iluminado.

O tratamento dessa condição é feito, usualmente, com benzodiazepínicos, visando a diminuir a hiperatividade autonômica e o risco de agitação psicomotora. A associação de neurolépticos, em doses baixas, pode ser indicada em casos de sintomas alucinatórios.

Síndrome de Wernicke-Korsakoff
Diagnóstico

A encefalopatia de Wernicke é uma complicação potencialmente fatal (mortalidade de 15 a 20% se não tratada) composta por uma tríade: oftalmoplegia, ataxia e confusão mental. A presença de todos esses sintomas não é necessária para o diagnóstico e a recuperação é incompleta em 40% dos casos.

Tratamento

A dose de tiamina preconizada é de 100 mg/dia por via intramuscular ou intravenosa por pelo menos 3 dias e posteriormente via oral. O tratamento do TRA de longo prazo caracteriza-se pela combinação de estratégias farmacológicas e psicoterápicas.

Transtornos relacionados ao uso de substâncias
Autores

André Malbergier

Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (GREA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Mestre em Saúde Pública pela Universidade de Illinois em Chicago.

Hercilio Pereira de Oliveira Júnior

Psiquiatra. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

As substâncias psicoativas são definidas como aquelas que penetram no sistema nervoso central (SNC), causam efeito psíquico e são capazes de gerar dependência.

Diagnóstico

A classificação da gravidade do transtorno baseia-se na quantidade de critérios preenchidos pelo indivíduo, sendo: dois a três critérios, um transtorno leve quatro a cinco, moderado e seis ou mais, grave.

Tabaco
Epidemiologia

No Brasil, 52,6% das pessoas com mais de 35 anos de idade já fizeram uso na vida de tabaco e 10,1% são dependentes. Os homens ainda fumam mais que as mulheres, mas essa diferença vem caindo anualmente.

Síndrome de abstinência

Os sintomas de abstinência aparecem nas primeiras horas após fumar o último cigarro e em muitos fumantes podem durar até 6 meses. Os sintomas mais frequentes são desejo intenso de fumar (craving), humor deprimido, disforia, irritabilidade, ansiedade, insônia, bradicardia, aumento do apetite e dificuldade de concentração.

Tratamento

Compreende a associação de tratamento medicamentoso com abordagens não farmacológicas, como o aconselhamento e a psicoterapia. Outro fator fundamental do tratamento do tabagismo é o diagnóstico de comorbidades psiquiátricas, com ênfase nos transtornos de humor e ansiedade.

Tratamento farmacológico

A reposição de nicotina (RN) pode ser realizada com adesivos, gomas e pastilhas de nicotinas. Os adesivos são comercializados em 21, 14 e 7 mg, porém tabagistas com maior grau de dependência ou com comorbidades psiquiátricas podem usar doses maiores. Em relação ao adesivo, a diminuição deve ser gradativa, com redução média de 7 mg a cada 4 semanas de uso contínuo.

A vareniclina é um agonista parcial do receptor 42 colinérgico nicotínico que apresenta mais afinidade com o receptor do que a nicotina. A dose terapêutica é de 2 mg/dia, divididos em duas tomadas e atingidos gradativamente em 1 semana. Recomenda-se interrupção do consumo do tabaco após 10-15 dias do uso da medicação em doses terapêuticas.

A bupropiona é um antidepressivo que inibe a recaptação de dopamina e noradrenalina nos receptores pré-sinápticos. A dose terapêutica é de 300 mg/dia em duas tomadas, evitando-se seu uso à noite por causa do risco de insônia. Seu efeito colateral mais perigoso é a convulsão, que pode ocorrer em indivíduos vulneráveis em uso de doses altas. Recomenda-se interrupção do consumo do tabaco após 10-15 dias do uso da medicação em doses terapêuticas.

Tratamento não farmacológico

O tratamento não farmacológico pode ser realizado em grupo ou individualmente, existindo forte relação entre intensidade e resposta.

Cocaína
Epidemiologia

Dois por cento dos adolescentes e adultos no Brasil relataram uso de cocaína no ano anterior.

Intoxicação

Pequenas doses propiciam sensação de euforia, energia, fluência verbal, maior sensibilidade para visão, tato e audição e podem diminuir temporariamente a necessidade de comer e dormir. Os efeitos fisiológicos incluem vasoconstrição, dilatação pupilar e aumento da temperatura corporal, da frequência cardíaca e da pressão arterial.

As complicações médicas mais frequentes incluem as cardiovasculares, como arritmias e infarto agudo do miocárdio, e as neurológicas são cefaleia, convulsões, acidentes vasculares cerebrais e coma.

Síndrome de abstinência

A abstinência de cocaína está associada a sintomas relacionados ao humor, como fadiga, irritabilidade e ansiedade, que melhoram em alguns dias. Após consumo intenso da droga, os indivíduos experimentam o crash caracterizado por sintomas depressivos e ansiosos, agitação e intensa fissura.

Após esse período, o indivíduo passa por uma fase de abstinência com fadiga, baixa energia física e mental e pouco interesse pelo ambiente. Durante a abstinência tardia, podem ocorrer breves períodos de intensa fissura e pessoas e objetos podem ser estímulos desencadeantes (gatilhos) para recaídas.

Tratamento da dependência

O tratamento é realizado por meio de estratégias de intervenção psicoterapêuticas, psicossociais e farmacológicas, e cada paciente deve ser avaliado individualmente para o diagnóstico e o tratamento mais adequados ao seu caso.

Até o momento, não existem medicações aprovadas para o tratamento da dependência de cocaína.

Inalantes
Conceito

Os inalantes são substâncias voláteis que produzem vapores químicos que podem ser inalados para induzir efeito psíquico. Esta definição inclui ampla gama de produtos químicos, como solventes voláteis, aerossóis, gases e nitratos.

Epidemiologia

Segundo dados do Levantamento Nacional Domiciliar do CEBRID de 2005, o total de usuários de solventes foi maior para o sexo masculino (10,3% contra 3,3% para o feminino). Menos de 1% da amostra apresentou dependência de solventes.

Intoxicação

A maioria produz um efeito que se assemelha à intoxicação por álcool, com excitação inicial, seguida de sonolência, desinibição, vertigens e agitação. Se quantidades maiores forem inaladas, quase todos os solventes e os gases produzem efeito de anestesia e rebaixamento do nível de consciência. Náuseas e vômitos são outros efeitos colaterais comuns. A exposição a doses elevadas pode causar confusão e delirium. Além disso, o uso também está associado a tontura, sonolência, fala arrastada, letargia, reflexos deprimidos, fraqueza muscular generalizada e estupor.

Uso crônico

Os adolescentes usuários de inalantes apresentam piora sensível em funções cognitivas executivas e velocidade de processamento em comparação aos controles.

A exposição crônica também pode produzir danos significativos no coração, no pulmão, no fígado e no rim. Os danos causados pelos solventes, em alguns casos, podem ser irreversíveis.

Tratamento da dependência

Não há tratamento específico para dependência de solventes. São recomendadas a psicoterapia e a farmacologia, esta última em situações específicas.

Maconha
Epidemiologia

A maconha é a droga ilícita mais consumida na maioria dos países. Estima-se que existam entre 129 e 190 milhões de usuários de maconha no mundo. Ela é também a droga ilícita mais consumida no Brasil. Estudos realizados apontam uso em 8,3% da população e dependência em 1,2%.

Intoxicação

A intoxicação pela maconha é associada a sensação de bem-estar, relaxamento, euforia, aumento da fluência verbal, exacerbação de sentidos, como tato, olfato e paladar, aumento da acuidade e relevância a estímulos visuais, sensação de lentificação do tempo e risos.

Sintomas ansiosos, prejuízos da atenção, da memória de curto prazo e da concentração, redução da força muscular e perda de coordenação motora fina, ideação delirante paranoide, alucinações auditivas, conjuntivas congestas e aumento do apetite são os possíveis efeitos adversos.

Dependência

A interrupção do uso frequente da maconha pode gerar síndrome de abstinência caracterizada por alterações emocionais, mudança do padrão de apetite, perda de peso, alterações do sono e desconforto físico.

Tratamento da dependência

Não há medicações aprovadas em nenhum país para o tratamento da dependência da maconha.

As intervenções psicoterapêuticas mais efetivas parecem ser as que se iniciam com entrevista motivacional e passam a instrumentalizar o paciente com técnicas comportamentais e cognitivas para a prevenção da recaída.

Opioides
Classificação dos principais opióides
Epidemiologia

Segundo dados do CEBRID de 2005, 0,23% dos 7.939 brasileiros entrevistados am uso de opióides nos últimos 12 meses que antecederam a pesquisa. No Brasil, quadros de dependência de opióides prescritos (analgésicos) são os mais comuns.

Intoxicação

A intoxicação por uma substância opioide pode levar a analgesia, euforia ou disforia, calor, rubor facial, coceira na face, boca seca, miose, constipação, sonolência, depressão respiratória, arreflexia, hipotensão e taquicardia.

Síndrome de abstinência

A dependência física de opioides se desenvolve rapidamente, e sua interrupção abrupta pode gerar sinais e sintomas de abstinência. Entre os sintomas da abstinência de opioides, destacam-se perda de apetite, ansiedade, fissura, disforia, lacrimejamento, dores de cabeça, rinorreia, midríase, piloereção, dores abdominais, aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca, náuseas e vômitos, e espasmos musculares.

A síndrome de abstinência pode ser caracterizada pelos seguintes critérios:

• Midríase
• 10 mmHg de aumento na pressão arterial sistólica
• 10 bpm de aumento na frequência cardíaca
• Sudorese, calafrios, suspiros, dor no corpo, diarreia, rinorreia e lacrimejamento.

Tratamento da abstinência

Se o paciente preencher pelo menos dois dos critérios de síndrome de abstinência de opióides, recebe 10 mg de metadona. Seus parâmetros são, então, checados a cada 4 horas, recebendo mais 10 mg se apresentar pelo menos dois dos critérios. A dose total das primeiras 24 horas é dividida em duas no segundo dia e reduzida a 5 mg/dia até a retirada. Doses de 30 a 60 mg/ dia são suficientes para suprimir a maior parte dos sintomas de abstinência por mais de 48 horas. Alguns pacientes apresentam muita dificuldade para retirar rapidamente a metadona, por isso cada caso deve ser avaliado individualmente.

Tratamento de manutenção

O tratamento de manutenção envolve abordagens farmacológica e psicossocial. Dentre as abordagens psicossociais, bons resultados estão sendo obtidos com a utilização de enfoques psicoeducacionais e terapia cognitivo-comportamental.

Dentre as medicações disponíveis no Brasil, pode-se optar por usar agonistas opioides (metadona), antagonistas opioides (naltrexona) ou a clonidina.

Transtorno do jogo
Autores

Mirella Martins de Castro Mariani

Bióloga e psicóloga. Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Hermano Tavares

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP)

Definição

Quanto à prática de jogos de azar, as pessoas podem ser classificadas como:

• Jogador social, que joga ocasional ou frequentemente, mas sem sofrer consequências adversas;
• Jogador-problema, que joga com frequência, de vez em quando pode experimentar perda de controle e prejuízos psicossociais, mas não ao ponto de preencher os critérios para jogo patológico (JP);
• Jogador patológico, que joga regularmente e, como resultado dessa atividade, experimenta perda de controle na maioria das vezes em que o faz, com consequente prejuízo psicossocial, tal como sofrimento subjetivo relevante (ideação suicida eventual ou recorrente são comuns nesse grupo), comprometimento das relações interpessoais familiares, de amigos e de parceiros de trabalho e social, como desemprego e endividamento.

Epidemiologia

Dados iniciais sobre a prevalência de jogo de azar no Brasil indicam que 1% da população preenche critérios para JP e 1,3% para jogo-problema, além de mostrar que 12% da população realiza apostas regularmente (uma vez por mês).

Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

O principal diagnóstico diferencial de transtorno do jogo diz respeito ao transtorno afetivo bipolar (TAB).

Tratamento

As diretrizes principais no tratamento do JP são: a supressão do comportamento de jogo problemático, reparo dos problemas causados pelo jogo, promoção da saúde geral (mental e física) e promoção de qualidade de vida.

A abordagem comportamental se ocupa do contexto ambiental e dos estímulos que se associam ao jogo.

Dentre vários fármacos testados, a naltrexona, um bloqueador de receptores μ-opioide, é o que reúne evidências mais sólidas.

Transtornos de conduta e comportamento externalizante
Autores

Paulo Germano Marmoratto

Médico Pesquisador do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Definição e epidemiologia

O termo transtornos de conduta (TsC) refere-se ao agrupamento diagnóstico caracterizado por um padrão persistente de agressividade e comportamentos antissociais, pelos quais um indivíduo repetidamente rompe regras sociais básicas.

O conjunto dos TsC inclui (além do transtorno de conduta propriamente dito – TC) também o diagnóstico de transtorno opositivo-desafiador (TOD). No TOD, os comportamentos disruptivos são menos complexos e graves em relação aos do TC e apresentam forte componente de descontrole emocional.

Epidemiologia

Os transtornos de conduta apresentam prevalências que variam de 4 a 16% de acordo com as populações estudadas e os instrumentos utilizados. A prevalência tende a ser maior em grupos socioeconômicos menos favorecidos.

Diagnóstico
Transtorno de conduta

Um padrão repetitivo e persistente de comportamento, no qual são violados os direitos individuais dos outros, ou normas, ou regras sociais importantes próprias da idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos seguintes critérios nos últimos 12 meses, com presença de pelo menos um deles nos últimos 6 meses:

• Agressão a pessoas e animais
        • Provocações, ameaças e intimidações frequentes.
        • Lutas corporais frequentes.
        • Utilização de arma capaz de infligir graves lesões corporais (p. ex., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca, revólver).
        • Crueldade física para com pessoas.
        • Crueldade física para com animais.
        • Roubo em confronto com a vítima (p. ex., bater carteira, arrancar bolsa, extorsão, assalto a mão armada).
        • Coação para que alguém tivesse atividade sexual consigo.
• Destruição de patrimônio
        • Envolvimento deliberado na provocação de incêndio com a intenção de causar sérios danos.
        • Destruição deliberada do patrimônio alheio (diferente de provocação de incêndio).
• Defraudação ou furto
        • Arrombamento de residência, prédio ou automóvel alheios.
        • Mentiras frequentes para obter bens ou favores ou para esquivar-se de obrigações legais (i. e., ludibriar pessoas).
        • Roubo de objetos de valor sem confronto com a vítima (p. ex., furto em lojas, mas sem arrombar e invadir; falsificação).
• Sérias violações de regras
        • Frequente permanência na rua à noite, contrariando proibições por parte dos pais, iniciando antes dos 13 anos de idade.
        • Fuga de casa à noite pelo menos duas vezes, enquanto vivia na casa dos pais ou lar adotivo (ou uma vez, sem retornar por extenso período).
        • Gazetas frequentes, iniciando antes dos 13 anos de idade.
• A perturbação do comportamento causa comprometimento clinicamente significativo do funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
• Se o indivíduo tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para transtorno da personalidade antissocial (TPAS).

Transtorno opositor-desfiador

Um padrão de comportamento negativista, hostil e desafiador com duração mínima de 6 meses, durante os quais quatro (ou mais) das seguintes características estiveram presentes:

- Frequentemente, perde a calma.
- Frequentemente, discute com os adultos.
- Frequentemente, desacata ou recusa-se ativamente a obedecer a solicitações ou regras dos adultos.
- Frequentemente, adota um comportamento deliberadamente incomodativo.
- Frequentemente, responsabiliza os outros por seus erros ou mau comportamento.
- Frequentemente, mostra-se suscetível ou irrita-se com facilidade.
- Frequentemente, enraivecido e ressentido.
- Frequentemente, rancoroso ou vingativo.

• Nota: considerar o critério satisfeito apenas se o comportamento ocorrer com maior frequência do que a observada tipicamente em indivíduos de idade ou nível de desenvolvimento comparáveis.
• A perturbação do comportamento causa comprometimento clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.
• Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno psicótico ou transtorno do humor.
• Não são satisfeitos os critérios para transtorno de conduta e, após os 18 anos, não são satisfeitos os critérios para TPAS.

Comorbidades

As comorbidades mais frequentemente encontradas são:

• Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
• Transtornos afetivos (transtorno depressivo e transtorno afetivo bipolar).
• Transtornos ansiosos.
• Transtornos relacionados ao uso de substâncias.
• Transtornos específicos de aprendizado.
• Retardos mentais.

Exames complementares

Os exames complementares têm a função de identificar possíveis causas orgânicas envolvidas na causa de comportamentos externalizantes. Nesse sentido, exames de imagem do SNC e eletroencefalograma (EEG) estão indicados. A avaliação neuropsicológica é importante para identificar possíveis alterações cognitivas com papel relevante na gênese dos TsC.

Tratamento
Fundamentos

Avaliação ampla envolvendo diversas fontes (paciente, pais, outros familiares, professores, outros profissionais).

Integração dos diversos profissionais envolvidos. Em razão de múltiplos fatores de diferentes naturezas envolvidos, o tratamento apresenta melhores respostas quando envolve a atuação combinada de profissionais da área da psiquiatria, psicologia, pedagogia e serviço social na maioria dos casos.

Deve-se estabelecer um plano de tratamento adequado à condição clínica particular de cada paciente e aos diversos fatores sociais que o envolvem, com destaque para a família e a escola.

Grupos de orientação e treinamento de habilidades parentais

Alguns dos princípios do treinamento de habilidades parentais envolvem:

• Ajudar os familiares a identificar seus objetivos.
• Incluir meios de melhorar as relações familiares.
• Reduzir o reforço positivo de comportamentos disruptivos.
• Aumentar o reforço de comportamentos pró-sociais.
• Obter consequências ponderadas e consistentes para comportamentos indesejados com uso seletivo e adequado de sanções e punições.
• Tornar as respostas parentais previsíveis e imediatas.
• Auxiliar no estabelecimento de regras e comandos claros.
• Reorganizar o dia a dia da criança para prevenir problemas.

Treinos de habilidades interpessoais ao jovem

Esses programas têm em comum o treinamento de jovens para:

• Parar e pensar em situações de desafio para diminuir respostas impulsivas.
• Reconhecer seu nível de excitação fisiológica, assim como o próprio estado emocional.
• Reconhecer e definir problemas.
• Criar diversas repostas alternativas.
• Escolher a melhor alternativa, baseando-se na antecipação dos resultados.
• Reforçar o uso da proposta descrita.

Psicofarmacoterapia

Não existem medicações psiquiátricas de uso-padrão ou de primeira escolha para os TsC. O emprego de psicofármacos está mais claramente recomendado quando há presença das comorbidades que comumente ocorrem com os TsC. As medicações parecem agir melhor em agressividade e fúria, enquanto sintomas mais complexos, como furtos e mentiras, não respondem tão bem.

Medidas aplicadas em âmbitos escolar e social

Programas de educação pré-escolar para populações de alto risco mostraram a redução de incidência de prisões e a melhora do emprego na vida adulta.

Envolver a escola no tratamento por meio de visitas e oferecer estratégias para a lida com a criança são geralmente úteis, assim como a oferta de tutoria extra quando for necessário.

É importante também o contato com as escolas e tem sido crescente a proposta de atividades de capacitação de professores para lidar com alunos de comportamentos mais difíceis. O contato com redes de apoio social que ofereçam atividades esportivas e culturais também é instrumento útil para promoção de socialização e desenvolvimento de capacidades dos pacientes, assim como para afastá-los do contato com pares antissociais.

Impulsividade e transtornos de impulso
Autores

Hermano Tavares

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Henrique Moura Leite Bottura

Psiquiatra. Mestre em Psicologia do Esporte pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Médico colaborador do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos dos Impulsos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Definição e epidemiologia

Diagnósticos caracterizados por dificuldades no autocontrole das emoções e do comportamento, que em geral incorrem em condutas que violam os direitos de terceiros e denotam conflitos com normas sociais e autoridades.

Transtorno explosivo intermitente
Definição

A característica central desse transtorno são explosões súbitas de raiva e agressão, cuja exuberância e intensidade são desproporcionais ao seu desencadeante.

Epidemiologia

No Brasil, um estudo epidemiológico conduzido na região metropolitana de São Paulo encontrou uma prevalência de 12 meses de transtorno explosivo intermitente de 3,1%, sendo o segundo mais alto entre todos os levantamentos nacionais que investigaram essa condição.

Diagnóstico
Tratamento

Medicações como buspirona e inibidores seletivos de recaptação de serotoninca (ISRS) e neurolépticos atípicos, respectivamente, têm sido utlizados no controle de ataques de raiva. O tratamento farmacológico estrito não é suficiente para remissão dos episódios agressivos. Intervenções psicossociais também se mostram eficazes no tratamento do transtorno explosivo intermitente, particularmente programas pautados em técnicas de manejo de raiva, treino de assertividade e terapia cognitivo-comportamental (TCC).

Onimania (compras compulsivas)
Definição

A oniomania (ou compras compulsivas) não consta dos códigos atuais de classificação, exceto como outros transtornos dos hábitos e impulsos, no CID10.

Epidemiologia

Taxas estimadas de prevalência muito elevadas, de 5 a 8% da população geral.

Diagnóstico
Tratamento

ISRS em geral têm sido usados para tratar a oniomania, mas sua eficácia nesse caso permanece indeterminada.

Piromania
Definição

O paciente típico é descrito como sendo fascinado pelo fogo e tudo que se relaciona com ele desde jovem, apreciando testemunhar incêndios causados por terceiros ou por ele mesmo.

Epidemiologia

Essa apresentação clássica é rara e sua prevalência é desconhecida.

Diagnóstico
Tratamento

Não há modelos de tratamento específico para a piromania. As intervenções propostas até o momento são pautadas no tratamento das condições neuropsiquiátricas associadas ao comportamento incendiário, identificadas caso a caso.

Cleptomania
Definição

O paciente cleptomaníaco vive uma sofrida ambiguidade entre o risco da consecução bem-sucedida do furto e o prazer da posse do objeto de um lado e a culpa e o medo de outro.

Epidemiologia

Dados epidemiológicos da cleptomania são desconhecidos.

Diagnóstico
Tratamento

Vários métodos psicoterápicos, como psicodinâmicos, terapia cognitivo-comportamental, sensibilização encoberta e dessensibilização foram propostos, porém todos limitados a séries de caso sem controle adequado. O único fármaco testado em estudo controlado e randomizado foi a naltrexona, e se mostrou superior ao placebo.

Transtornos da personalidade
Autores

Hermano Tavares

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Definição

O termo transtornos de personalidade (TP) se refere a um grupo de condições psiquiátricas relacionadas ao desenvolvimento, com manifestação mais clara ao fim da adolescência ou início da vida adulta. O TP se caracteriza por deficiências na formação do "eu" ou self que se divide nos conceitos de identidade e autodirecionamento e no desenvolvimento de habilidades interpessoais, divididas em empatia e intimidade.

Epidemiologia

A prevalência dos TP apresenta taxas variáveis de 5 a 20%, com uma tendência para 15% da população. As variações são explicadas por diferenças nos critérios e instrumentos adotados.

Diagnóstico
Critérios gerais
Grupamentos de personalidade

As comorbidades entre as categorias são muito frequentes, então são propostos três agrupamentos que reúnem os TP mais comumente associados.

• O agrupamento A é composto pelos TP: paranoide, esquizoide e esquizotípica, caracterizados por valores excêntricos, crenças idiossincráticas e pouco apreço pelo contato social.
• O agrupamento B é composto pelos TP: antissocial, borderline, histriônico e narcisista, caracterizados por impulsividade, natureza dramática, emocional e errática.
• O agrupamento C é composto pelos TP: esquivante, dependente e obsessivo compulsivo, caracterizados por ansiedade acentuada, comportamento esquivo e necessidade de controle.

TP paranoide
TP esquizoide
TP esquizotípica
TP antissocial
TP borderline
TP histeriônica
TP narcisista
TP esquivante
TP dependente
TP obsessivo-compulsivo
Tratamento
Princípios do tratamento

No campo do tratamento dos TP, predominam as propostas de intervenções psicossociais. Estudos sobre tratamentos para TP específicos são poucos e são raros os estudos controlados.

Tratamento psicoterápico

Duas linhas de abordagem prevalecem no tratamento do TP borderline: psicodinâmica e comportamental.

Tratamento farmacológico

O tratamento farmacológico dos TP sofre dos mesmos problemas descritos para a psicoterapia. As intervenções farmacológicas focam principalmente a agressividade, a instabilidade afetiva e a impulsividade. A impulsividade e a agressividade têm sido tratadas com o uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina, lítio e estabilizadores do humor. Neurolépticos atípicos também são preconizados no controle da impulsividade agressiva e da raiva.

Transtornos alimentares
Autores

Maria Antônia Simões Rêgo

Preceptora da Residência Médica em Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Psiquiatra do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do IPq-HC-FMUSP.

Ana Clara Floresi

Médica Psiquiatra do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) e do Programa de Atendimento Intensivo dos Distúrbios Alimentares (Prada) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Eduardo Wagner Aratangy

Médico Supervisor do AMBULIM do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Administrador do Serviço de Eletroconvulsoterapia (ECT) do IPq-HC-FMUSP.

Alexandre Pinto de Azevedo

Psiquiatra. Coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade (GRECCO) do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Assistente do Programa de Transtornos do Sono do IPq-HC-FMUSP. Supervisor da Residência Médica em Medicina do Sono do HC-FMUSP. Mestre pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Fábio Tápia Salzano

Mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Vice-Coordenador do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Hospital Dia do Programa de Transtornos Alimentares do IPq-HC-FMUSP.

Táki Athanássios Cordás

Coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Coordenador do Programa Transtornos Alimentares (AMBULIM) do IPq-HC-FMUSP. Professor dos Programas de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da USP e do Programa de Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP.

Anorexia nervosa
Definição

A anorexia nervosa (AN) é um transtorno alimentar (TA) que se caracteriza por perda de peso autoinfligida e distorção da imagem corporal, acompanhado de medo ou recusa em ganhar peso.

Epidemiologia

A prevalência de AN é estimada entre 0,5 e 1% da população. Cerca de 90% dos pacientes são do sexo feminino e a faixa etária mais atingida é dos 15 aos 25 anos.

Diagnóstico
Complicações clínicas
Avaliação clínica inicial
Indicação de internação

O tratamento da AN depende da gravidade e da cronicidade da parte clínica e comportamental e pode ser feito sob regime de internação, hospital-dia ou ambulatorial.

Algumas indicações de internação são:

• desnutrição grave (peso menor que 75% do esperado de peso/altura);
• desidratação;
• distúrbios eletrolíticos;
• arritmia cardíaca;
• instabilidade fisiológica, bradicardia, hipotensão e hipotermia (< 36°C);
• mudanças ortostáticas (pulso e pressão sanguínea);
• estagnação do crescimento e desenvolvimento;
• falha no tratamento ambulatorial, recusa alimentar aguda;
• descontrole de purgações e compulsões;
• complicações clínicas da desnutrição e de emergências psiquiátricas (p. ex., ideação suicida e sintomas psicóticos);
• diagnóstico de comorbidades que podem interferir no tratamento do TA (p. ex., depressão grave, TOC e disfunção familiar grave).

Tratamento

O tratamento da AN requer assistência multidisciplinar. A equipe mínima deve ser composta por nutricionista, psicólogo e médico psiquiatra.

A abordagem na AN deve compreender o tratamento de complicações clínicas e comorbidades clínicas e psiquiátricas; promover recuperação cognitiva, volitiva e afetiva, do medo mórbido de engordar e da insatisfação relativa à imagem corporal; envolver a família dos pacientes nas diversas modalidades de tratamentos oferecidos; prevenir recaída e recorrência do quadro alimentar disfuncional; promover recuperação funcional e de autoestima; e desenvolver autorresponsabilização sobre o tratamento.

O tratamento da AN pura (cerca de 16% dos casos) é a renutrição criteriosa, preferencialmente por via oral, pois a terapia nutricional por essa via tende a ser mais bem-sucedida na recuperação a longo prazo. Em raras circunstâncias, a nutrição parenteral ou enteral é necessária. O monitoramento do peso é uma ferramenta importante, e o indicador nutricional mais utilizado em adolescentes e adultos é o IMC.

Ainda há pouca evidência do uso de medicamentos na AN pura. A fluoxetina pode melhorar o prognóstico de pacientes com AN após terem atingido peso adequado, prevenindo recaídas. A olanzapina tem diminuído a ansiedade e melhorado aspectos psicopatológicos da AN, além de contribuir para o ganho de peso em estudos abertos.

A recuperação da AN é longa e, mesmo sem medicamento, o suporte psicológico é essencial para se sustentar a mudança. A restauração do peso não significa a cura da doença, e o ganho ponderal forçado sem suporte psicológico é contraindicado.

Bulimia nervosa
Definição

A bulimia nervosa (BN) caracteriza-se pela compulsão alimentar, ou seja, ingestão de grande quantidade de alimentos em um curto período com a sensação de perda de controle e compensações inadequadas para o controle de peso, como vômitos autoinduzidos, dietas compensatórias, uso de medicamentos (laxantes, diuréticos, inibidores de apetite) e exercícios físicos exagerados. Observa-se excessiva preocupação com o peso e a forma corporal, que invariavelmente afeta sentimentos e atitudes do paciente.

Epidemiologia

A incidência de BN é de 13 para 100 mil habitantes por ano, com prevalência entre 0,5 a 4% da população.

Diagnóstico
Complicações clínicas
Tratamento

O tratamento da BN, assim como o da AN, deve ser feito por uma equipe multiprofissional, com no mínimo atendimentos psiquiátrico, nutricional e psicológico. Os objetivos incluem primeiramente a regularização do padrão alimentar, a suspensão de purgação e da restrição e a orientação nutricional.

A psicoterapia com enfoque cognitivo-comportamental é a que tem demonstrado melhores resultados, havendo também boa resposta com a psicoterapia interpessoal.

A terapia familiar é importante, apesar de as evidências serem mais reduzidas do que para pacientes com AN.

A farmacoterapia tem sido amplamente pesquisada. O uso de antidepressivos, sobretudo tricíclicos, ISRS e IRSN é eficaz para o tratamento da BN, diminuindo compulsões, vômitos autoinduzidos e possíveis sintomas depressivos. O uso do topiramato vem mostrando resultados eficazes.

A melhor resposta no tratamento da BN provém da combinação de TCC com o uso dos medicamentos já citados. De acordo com a gravidade do quadro, o tratamento pode ser feito ambulatorialmente, em hospital-dia ou em regime de internação.

Transtorno da compulsão alimentar periódica
Definição

Também conhecido como "comer compulsivo", o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar, na ausência de comportamentos compensatórios para promover a perda ou evitar o ganho de peso comuns na AN e na BN.

Epidemiologia

As taxas de prevalência do TCAP variam de 0,7 até 4% na comunidade. Entre populações de obesos, a prevalência atinge 8%, elevando-se a 25 e até 50% entre obesos graus II e III, respectivamente.

Diagnóstico
Tratamento

O tratamento de escolha é o tratamento psicoterapêutico, sendo a TCC o padrão ouro atual.

A combinação com orientações alimentares, como no programa de tratamento comportamental para perda de peso em indivíduos obesos com TCAP, tem se mostrado eficaz.

O tratamento farmacológico do TCAP visa ao controle da impulsividade alimentar e inclui basicamente três classes de psicofármacos: os antidepressivos (sendo que os ISRS são os de primeira escolha), os estabilizadores do humor e os promotores de saciedade. Ensaios clínicos mais recentes sugerem que a presença comórbida de obesidade torna a sibutramina uma escolha adequada. O topiramato pode favorecer o controle dos ECA e também auxiliar na perda de peso.

Disfunções sexuais, transtornos parafílicos e disforia de gênero
Autores

Carmita Helena Najjar Abdo

Psiquiatra. Livre-Docente e Professora Associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Fundadora e Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Giancarlo Spizzirri

Psiquiatra. Mestre e doutorando em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médico assistente do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Marco de Tubino Scanavino

Psiquiatra. Mestre e doutor em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Médico assistente do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Médico assistente do Hospital Dia Adulto do IPq-HC-FMUSP.

Disfunções sexuais
Definição

Disfunção sexual é a incapacidade de o indivíduo participar do ato sexual com satisfação. Essa dificuldade deve ser persistente ou recorrente, vivenciada como algo indesejável, desconfortável e incontrolável. Impede que o ciclo de resposta sexual (desejo, excitação, orgasmo) se processe com sucesso e/ou de modo adequado.

Epidemiologia

O Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB) identificou, na população masculina, 45,1% de prevalência de DE (1,7% para DE completa; 12,2% para DE moderada; 31,2% para DE mínima) e 25,8% de EP. Entre as mulheres, o transtorno de excitação sexual atinge 26,6% delas, enquanto 26,2% queixam-se de anorgasmia; 17,8%, de dispareunia (dor à relação); e 9,5%, de desejo sexual hipoativo.

Classificação
Tratamento
Ejaculação precoce
Disfunção erétil
Desejo sexual hipoativo em homens
Impulso sexual excessivo
Anorgasmia
Desejo sexual hipoativo e/ou inibição da excitação em mulheres
Dispareunia e dificuldade de lubrificação
Vaginismo
Disfunção sexual induzida por ISRS
Algoritmo para o diagnóstico e manejo de disfunções sexuais
Transtornos da preferencia sexual
Definição

Sexo saudável é aquele que almeja a obtenção de prazer e/ou a procriação. A parceria natural para essa prática é um ser humano adulto e vivo. Quando, de forma exclusiva ou repetitiva, a finalidade e/ou a parceria diferem das acima referidas, caracteriza-se o transtorno da preferência sexual ou transtorno parafílico.

Diagnóstico

No DSM-5, o diagnóstico de transtorno parafílico requer que o indivíduo preencha dois critérios:

Critério A: especifica a natureza do interesse parafílico (p. ex., transtorno exibicionista e transtorno pedofílico), que se expressa por impulsos, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos, por pelo menos 6 meses.

Critério B: indica que, ao ter ou executar o interesse parafílico especificado no critério A, o indivíduo o faz sem o consentimento de outra pessoa ou que os impulsos e as fantasias sexuais causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo social, profissional ou em outras áreas importantes. Quanto ao critério B, cabe ainda especificar que:

1) o interesse sexual atípico implica sofrimento pessoal. O sofrimento não é apenas decorrente da desaprovação da sociedade;

2) o desejo ou o comportamento sexual resulta em sofrimento (psicológico, lesões ou morte) de outro indivíduo, ou envolve pessoas que não querem ou são incapazes de dar o consentimento para práticas parafílicas.

Diagnóstico diferencial

Devem ser considerados esquizofrenia, transtornos da personalidade, transtornos do desenvolvimento, transtorno obsessivo-compulsivo, demência, condições médicas gerais, intoxicação por substâncias e episódios maníacos.

Tratamento

Medicação associada à psicoterapia (individual, em grupo ou familiar, dependendo do caso) apresenta resultados mais favoráveis, especialmente naqueles que têm motivação.

Antidepressivos (principalmente os ISRS) e neurolépticos, em doses crescentes até o controle da sintomatologia, são os medicamentos autorizados no Brasil.

Disforia de gênero (transtorno de identidade sexual)
Definição

Disforia de gênero refere-se ao sofrimento que pode acompanhar a incongruência entre a experiência ou a expressão de gênero do indivíduo e o sexo a ele atribuído.

Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

Condições como intersexo (fenótipo e/ou genitália ambígua, decorrente de alterações cromossômicas ou hormonais), estados psicóticos, transtorno dismórfico corporal e travestismo fetichista (um tipo de parafilia) fazem parte do diagnóstico diferencial.

Tratamento

O Conselho Federal de Medicina instituiu a regulação dos procedimentos de redesignação sexual por meio das Resoluções n. 1.482/1997 e n. 1652/2002. O tratamento envolve equipe multidisciplinar (psiquiatra, psicólogo, endocrinologista, urologista, ginecologista, cirurgião plástico, assistente social) para formulação diagnóstica correta, avaliação psiquiátrica, apoio psicológico e psicoterapia, administração/correção do uso de hormônios, avaliação das condições familiares e sociais, preparação para a cirurgia, ato cirúrgico e acompanhamento pós-operatório (em curto e longo prazos). O paciente deve ser acompanhado em psicoterapia desde a fase de definição diagnóstica, durante a terapia hormonal (androgênica, estrogênica, antiestrogênica ou antiandrogênica), na cirurgia de redesignação sexual e no pós-operatório.

Transtornos do ciclo sono-vigília
Autores

Rosa Hasan

Neurologista Assistente do Laboratório de Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Responsável pelo Laboratório de Sono da Faculdade de Medicina do ABC.

Alexandre Pinto de Azevedo

Psiquiatra. Coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade (GRECCO) do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Assistente do Programa de Transtornos do Sono do IPq-HC-FMUSP. Supervisor da Residência Médica em Medicina do Sono do HC-FMUSP. Mestre pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Stella Marcia Azevedo Tavares

Médica neurofisiologista clínica. Coordenadora do Laboratório de Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Classificação
Transtorno de insônia
Definição

A insônia é a queixa de sono mais comum na população de adultos, podendo ser agudo, crônico, secundário, um fator associado a outras doenças médicas e transtornos mentais ou, ainda mais raramente, um transtorno primário.

Os sintomas relacionados ao período principal de sono são: dificuldade em adormecer, dificuldade em permanecer dormindo com despertares ao longo do período de sono, despertar precoce, padrão de sono não restaurador ou combinações dos sintomas já mencionados.

Diagnóstico
Tratamento comportamental
Tratamento farmacológico

A farmacoterapia é o método de tratamento mais frequentemente utilizado pelo resultado mais rápido, mas deve sempre estar associado às mudanças comportamentais. Dentre as opções medicamentosas de escolha, estão os antidepressivos com ação hipnótica, como trazodona, mirtazapina e amitriptilina, em doses consideradas sub-terapêuticas para depressão, além dos hipnóticos não benzodiazepínicos, como zolpidem e zopiclone.

Transtorno de hipersonia
Classificação
Hipersonias recorrentes

O diagnóstico mais comum é a síndrome de Kleine-Levin (SKL). Na sua forma típica, apresenta episódios de hipersônia, hiperfagia e alterações psíquicas. Os episódios críticos duram de 12 horas a 3 a 4 semanas (mais comumente 4 a 7 dias), podendo ser desencadeados por ansiedade, infecção viral. Os intervalos assintomáticos podem durar de meses a anos. Durante o surto, o paciente dorme por períodos prolongados (18 a 20 horas), acordando geralmente para comer de maneira compulsiva, e nas formas atípicas não há compulsão alimentar. Podem ocorrer alterações do comportamento sexual (hiper ou hipossexualidade), agressividade, transtorno de memória, sintomas depressivos e até alucinações.

Hipersonia idiopática

Transtorno de etiologia desconhecida, provavelmente decorrente de uma disfunção da neurotransmissão no sistema nervoso central (SNC), caracterizado como um transtorno do sono não-REM (NREM) com sonolência excessiva diurna, cochilos prolongados não reparadores e sono noturno longo sem despertares. O paciente também apresenta dificuldade para despertar pela manhã, com confusão mental e agitação. A sonolência excessiva, por acarretar comportamentos automáticos, pode causar acidentes graves. Tipicamente, inicia-se na segunda década de vida.

Diagnóstico
Exames complementares
Hipersonia idiopática

A polissonografia (PSG) demonstra sono noturno prolongado, sem despertares e com aumento de sono delta. O Teste de Latências Múltiplas do Sono (TLMS) revela latências curtas de sono sem a presença de sono REM.

Tratamento

O tratamento da hipersônia idiopática se faz com as mesmas drogas estimulantes do tratamento da narcolepsia, sem a mesma eficácia.

Narcolepsia
Definição

Narcolepsia é definida como um transtorno neurológico crônico clinicamente caracterizado por sonolência excessiva crônica, pela presença de fenômenos de sono REM (cataplexia, alucinações hipnagógicas e paralisia do sono) e sono noturno fragmentado.

Diagnóstico
Tratamento

O tratamento da narcolepsia, assim como das hipersônias idiopáticas, é multifatorial e utiliza drogas estimulantes do SNC, antidepressivos, abordagens comportamentais e apoio psicossocial.

O tratamento comportamental inclui observação de horários constantes para dormir e acordar, evitar álcool, sedativos, abuso e abstinência de cafeína e privação de sono. Programação de cochilos durante o dia melhora significativamente o nível de alerta e de rendimento psicomotor e possibilita redução da dose de estimulantes.

O tratamento farmacológico inclui estimulantes do SNC, como metilfenidato, e o estimulante atípico modafinil. O tratamento da cataplexia, da paralisia do sono e das alucinações hipnagógicas, envolve o uso de agentes que aumentem a neurotransmissão noradrenérgica e serotoninérgica.

Transtornos do ritmo circadiano
Definição

A característica fundamental dos transtornos circadianos do sono é a interrupção do sistema de temporização circadiano ou de uma dessincronização entre o relógio circadiano endógeno e o ambiente físico e social de 24 horas externo, causando sintomas de dificuldade de dormir e/ou de sonolência excessiva, bem como prejuízos em áreas importantes de funcionamento e de qualidade de vida.

Diagnóstico
Síndrome do atraso da fase de sono

Essa síndrome caracteriza-se pelo tempo de sono habitual atrasado por 3 a 6 horas relativos aos desejados ou socialmente aceitáveis horários de sono-vigília O período principal de sono ocorre de maneira atrasada. Uma vez iniciado, o sono é geralmente normal, e esse dado é muito importante para o diagnóstico diferencial com outras formas de insônia.

Exames complementares

A polissonografia mostra arquitetura de sono normal para a idade quando o registro é realizado nos horários de preferência de sono.

Síndrome do avanço da fase do sono

Apresenta um período de sono habitual com duração e qualidade normais, porém com os horários de início de sono e de despertar várias horas mais cedo que o desejado, mimetizando e confundindo-se com o despertar precoce do transtorno depressivo maior.

É caracterizada por queixas de sonolência no final da tarde ou no início da noite, sono precoce e despertares espontâneos ainda durante a noite (escuro), levantando-se entre 2 e 5 horas da madrugada.

Exames complementares

O diagnóstico é clínico e utiliza o registro de diário de sono a polissonografia mostra arquitetura de sono normal para a idade quando o registro é realizado nos horários de preferência de sono.

Tratamento

O tratamento dos transtornos do ritmo circadiano é realizado essencialmente pelo estabelecimento da boa higiene de sono, com horários bem definidos para iniciar e finalizar o sono e restrição do tempo disponível para permanecer na cama, com objetivo de estabelecer a readequação dos horários de sono. Eventualmente, podem ser utilizados medicamentos hipnóticos para induzir o início antecipado do sono no atraso de fase de sono o uso de melatonina pode ser uma opção nesses casos.

Parassonias do sono REM
Transtorno comportamental do sono REM

O transtorno comportamental do sono REM (TCSREM) é caracterizado por comportamentos motores complexos que emergem principalmente durante o sono REM.

Diagnóstico
Exames complementares

O principal achado polissonográfico é a persistência de tônus neuromuscular durante o sono REM, ou seja, presença de sono REM sem atonia característica desse estágio do sono.

Diagnósticos diferenciais

É possível encontrar uma apresentação secundária do TCSREM relacionada à interrupção abrupta do uso de álcool, ao uso de medicamentos como antidepressivos tricíclicos, inibidores da monoamino-oxidase, inibidores de recaptação de serotonina, antidepressivos serotoninérgicos e noradrenérgicos (principalmente, venlafaxina, desvenlafaxina e mirtazapina), selegilina, agentes anticolinérgicos para doença de Alzheimer e biperideno.

O TCSREM pode ser a manifestação inicial de doenças degenerativas cerebrais, como síndrome de Parkinson, atrofia de múltiplos sistemas e demência dos corpúsculos de Lewy.

Tratamento

O tratamento do transtorno comportamental do sono REM requer medidas comportamentais e farmacológicas. O clonazepam é a medicação mais utilizada e parece ser a mais efetiva. A melatonina parece ser efetiva, indicada como terapia inicial e também naqueles que apresentem contraindicação ao tratamento com clonazepam.

Transtorno de pesadelo
Diagnóstico
Tratamento

Os tratamentos não farmacológicos utilizados no transtorno de pesadelo são a psicoterapia cognitiva comportamental e as técnicas de relaxamento. Quanto ao tratamento farmacológico, da mesma maneira que para o TCSREM, a droga de escolha é o clonazepam, nas mesmas doses sugeridas.

Parassonias do sono NREM
Transtorno do despertar

São considerados um despertar parcial do sono NREM com ativação parcial do sistema motor ou autonômico e possuem certas características em comum: têm histórico familiar positivo; surgem do sono delta (estágios 3 e 4 do sono NREM); ocorrem no primeiro terço do ciclo do sono; há amnésia parcial ou total para o evento; são comuns na infância e diminuem ou desaparecem com a idade; fatores desencadeantes incluem febre, privação de sono, uso ou retirada de álcool, retirada de benzodiazepínicos, uso ou retirada de antidepressivos, ansiedade e síndrome da apneia obstrutiva do sono.

Diagnóstico
Exames complementares

A polissonografia está indicada em casos de dúvida diagnóstica, necessidade de diagnóstico diferencial com epilepsia.

Diagnósticos diferenciais

Epilepsia.

Tratamento

Medidas gerais de higiene de sono e medidas de segurança no ambiente de sono são fundamentais. Os agentes farmacológicos mais usados são os benzodiazepínicos, os antidepressivos tricíclicos e as drogas antiepilépticas.

Síndrome das pernas inquietas
Definição

Caracterizado pela presença de uma necessidade irresistível e intensa de movimentar os membros, geralmente acompanhada de sensações sensoriais parestésicas desagradáveis ou dolorosas nas pernas entre o tornozelo e o joelho. O quadro apresenta característica circadiana, ocorrendo no horário noturno antes de dormir ou mesmo durante a noite.

Diagnóstico
Tratamento

O tratamento deve incluir medidas não farmacológicas que ajudam a aliviar os sintomas e o uso de agentes farmacológicos.

As principais classes de drogas usadas na SPI incluem os agentes dopaminérgicos, benzodiazepínicos, opioides, anticonvulsivantes e reposição de ferro para casos específicos. Os agentes dopaminérgicos têm sido os mais estudados e têm mostrado melhores resultados no tratamento da SPI e são atualmente as drogas de primeira escolha no tratamento. São eles: carbidopa/levodopa, agonistas dopaminérgicos dos receptores D2-D3 da classe não ergotamínicos (pramipexol, ropinirole, carbegolina) e ergotamínicos agonistas dopaminérgicos D1-D2-D3 (bromocriptina e pergolida).

Transtornos relacionados ao trauma e ao estresse
Autores

Felipe Corchs

Professor Colaborador Médico do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Programa do Programa de Análise do Comportamento do IPq-HC-FMUSP.

Sara Motta Berges Bottino

Médica Assistente do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Doutorado pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Paulo Jannuzzi Cunha

Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica pelo Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Pós-Doutorando pelo Laboratório de Investigação Médica LIM 21 (Neuroimagem em Psiquiatria) do HC-FMUSP.

Sandra Scivoletto

Professora-Assistente de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Responsável pela orientação acadêmica do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência (SEPIA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenadora da Residência em Psiquiatria da Infância e Adolescência do IPq-HC-FMUSP. Professora de Pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Definição

Quadros nos quais predominam outros sintomas além do padrão fóbico-ansioso tradicional, como anedonia, irritabilidade, agressividade e dissociações.

Epidemiologia

A prevalência ao longo da vida desses transtornos é variável, chegando, na população norte-americana geral, a 7,8% para o diagnóstico de TEPT.

Diagnóstico
TEPT
TEA

Basicamente, a principal diferença entre o TEA e o TEPT é o tempo de evolução. Enquanto o TEPT exige que os sintomas acima descritos durem no mínimo 4 semanas, o TEA tem duração que varia de 3 dias a 4 semanas.

Transtorno de ajustamento

O transtorno de ajustamento é descrito como uma resposta de acentuado sofrimento a um estressor que excede o que seria esperado gerando, na maioria dos casos, prejuízo no funcionamento em alguma área da vida social ou profissional e podem anteceder o início de outros transtornos.

Tratamento
TEA

O tratamento do TEA se baseia em evidências de que as reações ao trauma sejam naturais e adaptativas, constituindo-se um problema apenas quando temos persistência e/ou intensidade excessiva das mesmas. tem-se observado que intervir sobre tais reações pode não apenas ser inútil como até iatrogênico em alguns casos. Como um todo, medidas gerais de suporte e aconselhamento são as únicas intervenções que se mostram seguras e, em algum grau, eficazes.

TEPT

A terapêutica desse transtorno dispõe de uma ampla gama de tratamentos medicamentosos e psicoterápicos, sendo os ISRS considerados o tratamento de primeira linha. Esses medicamentos se mostraram eficazes nos três grupamentos de sintomas do TEPT, bem como no tratamento da comorbidade com depressão, que ocorre frequentemente. Há evidências sólidas de eficácia da venlafaxina e dos antidepressivos tricíclicos. A escolha inicial por um ISRS se baseia exclusivamente por sua segurança e tolerabilidade.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a abordagem com maior embasamento empírico em quadros de TEPT.

Transtorno de ajustamento

Seu tratamento consiste de intervenções breves, enquanto a farmacoterapia é limitada ao manejo sintomático da ansiedade ou insônia, uma vez que não existem estudos robustos demonstrando benefícios com o uso de antidepressivos.

Transtornos do sintoma somático e transtornos dissociativos
Autores

Daniela Meshulam Werebe

Médica Supervisora do Ambulatório Geral e de Transtornos Somatoformes do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Médica do Hospital Israelita Albert Einstein.

Elisa Maria de Mesquita

Médica preceptora da Residência de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Guilherme Ludovice Funaro

Médico residente em Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

Concomitantes somáticos: Como o próprio nome diz, são manifestações somáticas que acompanham apresentações psíquicas, porém não eliciando nenhuma compreensividade.

Diferentemente de mecanismos histéricos, a manifestação dos concomitantes somáticos não guarda nenhum simbolismo ou conexão qualitativa com o suposto evento deflagrador, sendo somente eliciado por um elemento quantitativo.

Epidemiologia

Estima-se algo entre 5 e 7% na população adulta, sendo superior na população feminina.

Transtornos do sintoma somático e dissociativos
Diagnóstico
Transtornos do sintoma somático

Após reformulação de grande parte das categorias diagnósticas psiquiátricas, na quinta edição do Manual diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, da American Psychiatric Association (DSM-5), é possível observar que os transtornos somatoformes foram definidos como "transtornos do sintoma somático" (somatic symptom and related disorders), sendo o transtorno factício e os "fatores psicológicos afetando outras condições médicas" (psychological factors affecting other medical conditions) incluídos como novas categorias dessa classe.

Transtorno do sintoma somático

Segundo o DSM-5, o transtorno do sintoma somático caracteriza-se pela presença de um ou mais sintomas somáticos debilitantes ou que resultam em prejuízo da vida diária.

Pensamentos excessivos, sentimentos ou comportamentos relacionados a tais sintomas ou preocupações associadas à saúde, que se manifestam por: pensamentos persistentes ou desproporcionais sobre a seriedade de um dos sintomas; alto nível de ansiedade relacionado ao tema; muito tempo e energia devotados a tais sintomas ou preocupações.

Embora um mesmo sintoma possa não estar continuamente presente, o estado sintomático é persistente (tipicamente mais de 6 meses).

Os sintomas podem ser específicos ou não. Não se exclui a possibilidade de uma condição médica concomitante, pois o prejuízo orgânico pode não explicar plenamente as queixas do paciente.

Transtorno ansioso diante da possibilidade de doença

Caracteriza-se pela preocupação em ter ou adquirir uma doença séria. Não há sintomas somáticos ou, se presentes, são de moderada intensidade.

Se outra condição médica estiver presente ou houver alto risco para desenvolver alguma condição médica, a preocupação é claramente excessiva ou desproporcional. Há alto nível de ansiedade com relação à saúde, e o indivíduo fica facilmente alarmado sobre seu status pessoal de saúde.

Apresenta excesso de comportamentos relacionados à saúde ou exibe evitação mal adaptativa. A preocupação com doença deve estar presente por, ao menos, 6 meses, mas a doença específica temida pode mudar com o tempo.

Transtorno conversivo

O transtorno conversivo caracteriza-se pela presença de um ou mais sintomas de alteração motora voluntária ou função sensória. Achados clínicos evidenciam incompatibilidade entre os sintomas e a condição médica. Os sintomas causam prejuízo clínico significativo, bem como social, ocupacional ou em outras áreas de funcionamento.

O transtorno é descrito com alguns especificadores: de acordo com o tipo de sintoma (p. ex., fraqueza ou paralisia, movimentos anormais, sintomas da deglutição, sintomas da fala, convulsões, anestesia ou perda sensorial, sintoma visual, olfatório ou auditivo e sintomas mistos), episódio agudo ou sintomas persistentes, com ou sem estressor psicológico.

Aqui, vale também a máxima de que uma causa clínica não exclui a coexistência desse transtorno. Por exemplo, a população na qual há maior incidência de pseudoconvulsões é a de portadores de epilepsia.

Fatores psicológicos afetando outras condições médicas

Uma condição médica está, necessariamente, presente. Fatores psicológicos afetam negativamente tal condição. Podem influenciar o curso da doença, representar risco adicional bem estabelecido, precipitar ou exacerbar os sintomas, interferir no tratamento.

Transtorno factício

Caracteriza-se pela falsificação de sinais ou sintomas físicos ou psicológicos ou indução de lesão ou doença de forma intencional. O comportamento existe mesmo na ausência de recompensas externas óbvias. O diagnóstico ainda pode conter a designação by proxy, quando o sintoma forjado é perpetrado em outro indivíduo.

Outros sintomas somáticos específicos

Essa categoria inclui:

• Transtorno do sintoma somático breve: duração dos sintomas é menor do que 6 meses.
• Transtorno ansioso breve diante da possibilidade de doença: duração também menor do que 6 meses.
• Transtorno ansioso diante da possibilidade de doença, sem excesso de comportamentos relacionados a tal condição.
• Pseudociese.

Transtornos dissociativos

O termo dissociação é utilizado em psiquiatria para descrever a existência de perturbação nas funções habitualmente integradas da consciência, memória, identidade, percepção, representação do corpo, controle motor e comportamento. O fenômeno dissociativo pode acontecer de forma súbita ou gradual, pode ser transitório ou tornar-se crônico.

Os transtornos psiquiátricos caracterizados, fundamentalmente, pelas alterações das funções descritas anteriormente são denominados transtornos dissociativos.

Amnésia dissociativa
Diagnóstico

Na amnésia dissociativa, o indivíduo torna-se incapaz de recordar informações pessoais relevantes e, em geral, a natureza dessa incapacidade relaciona-se a um evento traumático ou estressor. A extensão da amnésia não é compatível com esquecimento normal.

Os tipos mais comuns são a amnésia localizada (quando o indivíduo não se recorda dos fatos que ocorreram em um determinado período de tempo) e a amnésia seletiva (em que apenas uma parte dos fatos não é recordada). Existe ainda a amnésia generalizada, a sistematizada e a contínua, que são menos comuns.

Vale ressaltar que comportamentos auto e heteroagressivos podem estar presentes no episódio de amnésia, expondo o indivíduo a situações de risco.

O DSM-5 traz a fuga dissociativa como especificador. Ela caracteriza-se pelo afastamento súbito de casa ou local em que costuma exercer as atividades diárias, associada à amnésia relacionada à própria identidade ou a dados autobiográficos relevantes.

Diagnóstico diferencial

Diagnósticos diferenciais importantes de serem destacados são: lesões neurológicas de natureza vascular, traumática ou neoplásica, demência, delirium, epilepsia, uso de álcool e outras drogas. Além das condições clínicas citadas, transtornos psiquiátricos, como depressão, estresse pós-traumático, episódios psicóticos e outros TD e de personalidade, podem cursar com amnésia.

Transtorno de despersonalização e desrealização
Despersonalização

Experiência de estranhamento ou distanciamento de si próprio, vivida como uma impressão de ser observador externo de si mesmo. O indivíduo tem a sensação de não controlar os próprios pensamentos, sensações, corpo e ações durante os episódios. Entretanto, mantém a crítica de que o fenômeno experimentado não corresponde à realidade.

Desrealização

A desrealização caracteriza-se pelo estranhamento ou distanciamento do ambiente externo.

Diagnóstico

Aproximadamente metade dos indivíduos adultos apresenta ao menos um episódio de despersonalização ao longo da vida, quando sob o impacto de algum evento estressor. Por ser uma experiência comum, representará um transtorno propriamente dito, quando houver recorrência, riscos e sofrimento para o paciente e/ou aqueles que o cercam.

Diagnóstico diferencial

Deve-se diferenciar a despersonalização relacionada ao uso de substâncias daquelas ligadas a contextos culturais e religiosos ou, ainda, das ocorrências sobrepujadas por outros transtornos psiquiátricos.

Transtorno dissociativo de identidade
Diagnóstico

Caraceriza-se pela presença de duas ou mais identidades que assumem o controle do comportamento do indivíduo e podem ser descritas como experiência de possessão, associados a episódios de amnésia recorrente, não compatível com esquecimento normal. Ocorrem alterações de afeto, comportamento, consciência, percepção, cognição e funções sensório-motoras. A transição de uma identidade ou estado de personalidade para outro pode, por vezes, ser percebida pelo surgimento de sintomas autonômicos, como sudorese e palpitação, mudança do ritmo respiratório, do estado qualitativo de consciência, piscar de olhos rápido, alterações de expressão facial e da voz e sintomas conversivos.

Tratamento

O tratamento pode incluir abordagem psicoterápica, desde a terapia suportiva e a cognitivo-comportamental até a psicodinâmica e a analítica.

Outros transtornos dissociativos específicos

Essa categoria se aplica a condições dissociativas específicas que não preenchem critérios para os transtornos supracitados. Ao considerar tal categoria, é necessário descrever qual condição, entre as apresentadas a seguir, o paciente apresenta:


• Sindromes crônicas e recorrentes de sintomas dissociativos mistos: perturbações da identidade, podendo haver alguma descontinuidade do senso de eu o episódios de possessão, porém sem amnésia dissociativa associada.
• Perturbação da identidade causada por persuasão coerciva, intensa e prolongada.
• Reações dissociativas agudas decorrentes de eventos estressores.
• Transe dissociativo.

Tratamento

O tratamento dos SD, de forma geral, é multidisciplinar e exige investimento em longo prazo. É comum encontrar pacientes com sintomas dissociativos, conversivos, factício, em pronto-socorros e ambulatórios de diversas especialidades. Consequentemente, o profissional de saúde precisa estabelecer bom vínculo empático para conduzir a investigação diagnóstica e o tratamento. Dessa forma, evitam-se comportamentos de hostilidade diante do paciente e, até mesmo, investigações clínicas excessivas.

Apesar do tratamento envolver múltiplas disciplinas em saúde, é necessário que haja um intercâmbio de informações e, de preferência, uma figura central que avaliaria a necessidade de posterior investigação. Isso valeria para transtornos tão díspares quanto os fundamentados por mecanismos histéricos, bem como os factícios, por exemplo. Evitam-se, assim, reforços inadequados do papel de doente, hostilizações e condutas potencialmente iatrogênicas, fortalecendo o vínculo terapêutico.

Delirium
Autores

Orestes Vicente Forlenza

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Franklin Santana Santos

Geriatra. Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Pós-Doutor em Psicogeriatria pelo Karolinska Institutet – Suécia. Pesquisador Colaborador do LIM-27 e do Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Definição

Delirium é uma síndrome neuropsiquiátrica grave, de etiologia orgânica. Tem início abrupto, curso flutuante e alterações do ciclo sono-vigília.

Epidemiologia

No âmbito hospitalar, o delirium é a segunda síndrome neuropsiquiátrica mais frequente, perdendo apenas para o conjunto dos transtornos depressivos.

Fatores predisponentes
Principais desencadeantes para delirium
Diagnóstico
Diagnóstico diferencial
Exames complementares

A conduta diagnóstica no delirium exige a investigação ativa de causas orgânicas, sobretudo as potencialmente reversíveis (infecções, distúrbios metabólicos, doença sistêmica ou cerebral), que devem ser tratadas ou removidas assim que identificadas. Deve-se também rever uso de medicamentos ou substâncias com potencial de induzir ou perpetuar o estado de delirium

Roteiro para investigação laboratorial para pacientes em delirium
Roteiro de avaliação de pacientes com suspetita de delirium
Tratamento
Boas práticas clínicas no manejo do delirium
Transtorno neurocognitivo maior e menor na doença de Alzheimer
Autores

Cássio Machado de Campos Bottino

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Ivan Aprahamian

Médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Professor Colaborador da FMUSP. Mestre em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Tíbor Rilho Perroco

Psiquiatra. Pós-graduando do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Orestes Vicente Forlenza

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição
Epidemiologia

A prevalência global de demência em indivíduos com 65 anos ou mais, em seis diferentes países da América Latina, foi de 7,1%, semelhante à prevalência observada em países desenvolvidos; entretanto, a prevalência em indivíduos relativamente jovens (65 a 69 anos) foi mais alta nos estudos da América Latina, o que pode ter acontecido em razão da maior mortalidade observada nos países da nossa região.
A DA foi a causa mais comum de demência nos estudos avaliados, e a prevalência de demência em analfabetos foi duas vezes maior do que em idosos alfabetizados.

Diagnóstico
Exames complementares
Instrumentos de avaliação

A avaliação neuropsicológica é o padrão-ouro para a caracterização do tipo e da magnitude do comprometimento cognitivo em idosos; evidentemente, essa questão passa pelo cálculo do custo-benefício ou daquilo que é possível avaliar, em larga escala, no tempo e com a equipe de profissionais de que se dispõe.

Os testes cognitivos breves, que não foram desenvolvidos para o rastreio do CCL, são em geral pouco sensíveis para a identificação de déficits sutis. Há alguns testes cognitivos específicos para o rastreio do CCL, como o exame cognitivo de Montreal (MoCA), já adaptado e validado em português e disponível na internet.

Há também estudos, como o miniexame do estado mental (MEEM), o teste cognitivo de Cambridge (CAMCOG), o teste breve de performance cognitiva (SKT), o questionário do informante sobre o declínio cognitivo do idoso (IQCODE) e a combinação de vários testes de rastreio cognitivo (p. ex., MEEM, teste do desenho do relógio e teste de fluência verbal).

Investigação laboratorial

Os exames laboratoriais básicos que devem ser solicitados em casos suspeitos de demência são: hemograma completo, creatinina sérica, hormônio tireoestimulante, albumina, enzimas hepáticas, vitamina B12, ácido fólico, cálcio, reações sorológicas para sífilis e, em pacientes com idade inferior a 60 anos, com apresentações clínicas atípicas ou com sintomas sugestivos, sorologia para HIV.

Investigação de neuroimagem

Exames de neuroimagem estrutural (TC ou, preferencialmente, RNM) são indicados na investigação diagnóstica de síndrome demencial, para exclusão de causas secundárias. Exames de neuroimagem funcional (SPECT e PET), quando disponíveis, aumentam a confiabilidade diagnóstica e auxiliam no diagnóstico diferencial de outras formas de demência.

Investigação adicional
Comprometimento cognitivo leve

Novas tecnologias têm buscado indicar a presença dos processos patogênicos da DA em fase pré-demencial, agregando maior valor preditivo da evolução demencial ao diagnóstico clínico. Esses métodos ainda se encontram em fase final de validação experimental e não podem ser imediatamente transpostos para a prática clínica.

Exame do líquido cefalorraquidiano (LCR)

O exame do líquido cefalorraquidiano é preconizado em casos de demência de início pré-senil, com apresentação ou curso clínico atípicos, hidrocefalia comunicante e quando há suspeita de doença inflamatória, infecciosa ou priônica do sistema nervoso central.

Eletroencefalograma

O eletroencefalograma de rotina auxilia no diagnóstico diferencial de síndrome demencial com outras condições que interferem no funcionamento cognitivo.

Testes genéticos

A genotipagem da apolipoproteína E ou de outros polimorfismos de susceptibilidade não é recomendada com finalidade diagnóstica ou para avaliação de risco de desenvolvimento da doença. Os biomarcadores relacionados às alterações moleculares da DA ainda são de uso quase exclusivo em protocolos de pesquisa, mas quando disponíveis podem contribuir para maior precisão diagnóstica da doença.

Tratamento
Terapêutica específica

Terapêutica específica, que tem como objetivo reverter processos patofisiológicos que conduzem à morte neuronal e à demência (ainda em desenvolvimento).

Terapêutica sintomática

Terapêutica sintomática, que visa a restaurar, ainda que parcial ou provisoriamente, as capacidades cognitivas e comportamentais, assim como as habilidades funcionais dos pacientes são os medicamentos atualmente aprovados para o tratamento da demência.

Inibidores das colintesterases (I-ChE)

Os I-ChE (donepezil, galantamina e rivastigmina) são as principais drogas licenciadas para o tratamento sintomático da DA. Racional: aumento da disponibilidade sináptica de acetilcolina, por meio da inibição das suas principais enzimas catalíticas, a acetilcolinesterase e a butirilcolinesterase, buscando assim atenuar o déficit colinérgico que ocorre na doença. Têm efeito sintomático discreto sobre a cognição, beneficiando também certas alterações não cognitivas da demência.

Memantina

Os estudos randomizados iniciais com memantina em pacientes com DA moderada a grave demonstraram pequena, mas significativa, redução da deterioração cognitiva. Estudos posteriores envolvendo pacientes em estágio leve a moderado resultaram em melhora marginal dentro de um período de 6 meses, com melhora absoluta de 1% em cognição e funcionalidade.

Em pacientes com DA moderada a grave recebendo doses estáveis de I-ChE, o tratamento combinado com memantina, além de seguro e bem tolerado, pode favorecer desfechos mais favoráveis em parâmetros cognitivos, funcionais e comportamentais, apesar dos efeitos serem clinicamente discretos.

Terapêutica complementar

Busca o tratamento das manifestações psicológicas e comportamentais, como as alterações do humor e os distúrbios do sono.

Psicose

As manifestações psicóticas devem ser abordadas com neurolépticos típicos ou atípicos, sempre com baixas dosagens e reavaliações periódicas. Recomenda-se o uso da risperidona ou olanzapina, podendo-se recorrer aos neurolépticos típicos na impossibilidade da obtenção dos primeiros (haloperidol,), evitando-se as fenotiazinas com ação anticolinérgica pronunciada.

Sintomas depressivos e ansiosos

Estados depressivos e ansiosos requerem o uso de antidepressivos. Uma vez que a maioria das drogas disponíveis apresenta perfis de eficácia e latência de resposta semelhante, a escolha do antidepressivo depende muito mais do seu perfil de tolerabilidade: farmacocinética, efeitos colaterais, potencial de interações medicamentosas, das condições clínicas associadas: doenças físicas associadas drogas prescritas concomitantemente e características individuais do paciente, como sua história pregressa ou familiar de depressão, além de sua resposta prévia favorável a determinado antidepressivo.

Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina são, usualmente, as drogas de primeira opção no tratamento da depressão em idosos com demência, por serem drogas seguras e bem toleradas, além de apresentarem maior facilidade posológica.

Agitação e insônia

No controle da agitação intensa ou dos distúrbios de sono, antidepressivos sedativos, como a trazodona ou a mirtazapina, podem ser utilizados. Os hipnóticos zolpidem e zopiclone são mais seguros do que os benzodiazepínicos convencionais. Estes devem ser usados com extrema cautela e por períodos reduzidos, pelos efeitos deletérios sobre a cognição e pela dificuldade de descontinuação após o uso prolongado.

Transtorno neurocognitivo maior e menor nas demências degenerativas não Alzheimer
Demencia com corpos de Lewy (DCL)
Autores

Sonia Maria Dozzi Brucki

Livre-Docente em Neurologia pela Universidade de São Paulo. Co-Coordenadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

A DCL faz parte das sinucleinopatias, doenças em que há inclusões neuronais que contêm a proteína α-sinucleína e que incluem, além da DCL, a doença de Parkinson e a atrofia de múltiplos sistemas.

Epidemiologia

Considera-se que a DCL seja a segunda causa de demência degenerativa em idosos. A média de idade de início é de 75 anos, variando de 50 a 80 anos e um período médio de evolução de 9 anos. Em estudos neuropatológicos, a DCL aparece com uma frequência de 15 a 20% de todas as autópsias em idosos, sendo que a prevalência aumenta após os 65 anos.

Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

Os principais diagnósticos diferencias são com outras doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson e outras doenças em que, além do declínio cognitivo, há comprometimento motor caracterizado por hipertonia e bradicinesia, como a paralisia supranuclear progressiva e a degeneração corticobasal.

Exames complementares

O diagnóstico é auxiliado pelo encontro de atrofia cortical difusa que não predomina na formação hipocampal como na DA. SPECT ou PET podem revelar hipoperfusão ou hipometabolismo, respectivamente, mas lobos occipitais.

Tratamento

DCL pode apresentar boa resposta aos inibidores da colinesterase, que devem ser utilizados antes de neurolépticos no tratamento das alucinações. Há a necessidade de emprego cauteloso da levodopa, pois as alucinações podem se intensificar. Meman-tina pode ser utilizada nos casos mais graves.

Demência frontotemporal
Autores

Valéria Santoro Bahia

Doutora em Neurologia pela Universidade de São Paulo. Neurologista pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Leonel Tadao Takada

Neurologista. Pesquisador do GNCC do Departamento de Neurologia e Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

Em 1892, Arnold Pick descreveu casos de pacientes que apresentavam sintomas comportamentais e de alteração da linguagem associados à atrofia cerebral em regiões frontais e temporais anteriores. Em 1994, esses casos passaram a ser denominados como degeneração lobar frontotemporal (DLFT), que compreende as variantes de linguagem (afasias progressivas primárias [APP]: variante semântica e variante agramática) e a variante comportamental, que é denominada demência frontotemporal variante comportamental (DFTvc).

Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

Os pacientes com DFTvc podem ser diagnosticados erroneamente, nas fases iniciais da doença, como sofrendo de DA, de distúrbios psiquiátricos, de doença de Parkinson ou demência dos corpúsculos de Lewy quando há sinais parkinsonianos associados.

Exames complementares

Estudos de neuroimagem estrutural demonstram atrofia das regiões mediais, dorsolaterais e orbitais dos lobos frontais e lobos temporais anteriores, assim como exames de SPECT e PET mostram hipoperfusão e hipometabolismo nessas áreas, respectivamente.

Tratamento

Não há, por enquanto, tratamento curativo ou modificador do curso da doença para DFTvc. Enquanto isso, existe apenas medicação sintomática para os distúrbios comportamentais.

Transtornos cognitivos e demência da doença de Parkinson
Autores

Marcia Rubia R. Gonçalves

Mestre em Neurologia pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Grupo de Transtornos do Movimento do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

Historicamente, a doença de Parkinson (DP) tem sido reconhecida primariamente em razão das alterações motoras. Contudo, nos últimos anos, tem sido reconhecida a presença de múltiplos sintomas não motores em quase todos os pacientes, os quais contribuem de maneira significativa para a piora da qualidade de vida, a morbidade e a mortalidade. Em particular, sintomas não motores da esfera cognitiva podem ocorrer mesmo em estágios iniciais da doença.

Epidemiologia

Em razão da falta de critérios de consenso e disparidades de taxa de prevalência de CCL-DP entre 19-38%, recentemente. Vários estudos sugerem que a prevalência da DDP varia entre 20 e 40%.

Diagnóstico
Comprometimento cognitivo leve

Os critérios da força-tarefa da Movement Disorder Society (MDS) propõem um esquema operacional de dois níveis para o diagnóstico de CCL-DP resumidamente descritos abaixo:

• Nível I
        • Diagnóstico de DP baseado pelos critérios do banco de cérebros do Reino Unido (UK-PD Brain Bank).
        • Declínio gradual da habilidade cognitiva relatado quer pelo paciente ou informante ou observado pelo médico.
        • Déficits cognitivos em testes neuropsicológicos formais.
        • As alterações cognitivas não levam à interferência significativa na independência funcional do paciente, embora algumas dificuldades leves em tarefas funcionais complexas possam estar presentes.
• Nível II – confere maior certeza diagnóstica e envolve avaliação mais extensa como delineado a seguir:
        • Testes neuropsicológicos incluindo dois testes dentro de cada um dos cinco domínios cognitivos (atenção e memória de trabalho, funções executivas, visuoespaciais, linguagem e memória).
        • Prejuízo em pelo menos dois testes neuropsicológicos em um domínio cognitivo ou um teste com prejuízo em dois diferentes domínios cognitivos.
        • Prejuízo abaixo de cortes apropriados ou declínio significativo em testes cognitivos seriados ou declínio significativo de níveis pré-mórbidos. Excluem-se nesses critérios:
                • Outras causas que justifiquem o déficit cognitivo (quadro confusional, acidente vascular cerebral, depressão maior, alterações metabólicas, trauma de crânio, efeito medicamentoso).
                • Diagnóstico de DDP baseado nos critérios da Movement Disorder Society.
                • Comorbidades associadas à DP que possam influenciar a avaliação cognitiva (déficit motor, ansiedade, depressão, sonolência excessiva diurna ou psicose).

Demência da doença de Parkinson

Critérios para o diagnóstico de DDP:

• Características essenciais (nucleares):
        • Diagnóstico de DP segundo critérios UK-PD Brain Bank.
        • Síndrome demencial com instalação insidiosa e lenta progressão no contexto de DP estabelecida e diagnosticada por história, exame clínico e mental definida por: comprometimento de mais de um domínio cognitivo, declínio da condição pré-mórbida e déficit grave suficiente para prejudicar a atividade profissional ou cuidados pessoais independentemente dos prejuízos relacionados ao déficit motor e autonômico.
• Características clínicas associadas:
        • Aspectos cognitivos.
                • Atenção: prejuízo da atenção espontânea e focalizada e baixo desempenho em tarefas atencionais com flutuação.
                • Funções executivas: prejuízo em tarefas requerendo iniciativa, planejamento, formação de conceitos, regras, manutenção ou mudança de padrões: bradifrenia.
                • Funções visuoespaciais: baixo desempenho em tarefas de orientação visuoespacial, percepção ou construção.
                • Memória: prejuízo em evocação livre de eventos recentes ou em tarefas que necessitem de aprendizado de informações novas. Melhora com pistas.
                • Linguagem: funções essencialmente preservadas, podem ocorrer dificuldades de encontrar palavras ou compreender sentenças complexas.
• Características comportamentais:
• Apatia: redução da espontaneidade, motivação e interesse.
• Alterações na personalidade e no humor (depressão, ansiedade).
• Alucinações geralmente visuais, complexas (figuras de animais ou pessoas).
• Delírios: geralmente paranoides (infidelidade, estranhos em casa).
• Sonolência excessiva diurna.
• Considera-se ainda:
        • Características que não excluem a DDP, mas tornam o diagnóstico incerto, como a presença de outra anormalidade que por si só causa déficit cognitivo (p. ex., doença vascular), ou ainda, incerteza entre o intervalo das manifestações motoras e cognitivas.
        • Características que sugerem outras condições como causa do quadro mental que tornam impossível a confiabilidade do diagnóstico de DDP, como: quadro confusional agudo decorrente de doença física ou intoxicação por drogas e depressão de acordo com o DSM-IV.

Tratamento

Considerando a significância do CCL-DP e da DDP, há tendência do início precoce de tratamento. Nesse sentido, há relatos de benefício com inibidores da acetilcolinesterase para o déficit cognitivo.

Transtorno cognitivo maior e menor em doença de Huntington
Autores

Mônica Santoro Haddad

Mestre em Neurologia pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Grupo de Transtornos do Movimento do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

A doença de Huntington (DH) é uma doença neurodegenerativa e fatal do sistema nervoso central. A DH provoca alterações motoras, cognitivas e comportamentais progressivas.

Epidemiologia

A prevalência estimada é de 1 para cada 100.000 indivíduos e, embora tenha sido descrita em todas as raças, predomina naquelas de origem caucasiana.

Diagnóstico
Marcadores de alteração cognitiva

O comprometimento cognitivo nos estágios iniciais mostra comprometimento seletivo de algumas funções. Indivíduos pré-sintomáticos têm prejuízo de habilidades visuoespaciais e prejuízos nos testes de função do lobo frontal.

Os testes com pacientes recém diagnosticados com DH e sem queixas cognitivas demonstram prejuízo na habilidade de reter novas informações, na solução de problemas, concentração e memória de curto prazo reduzida e menor habilidade no acesso e recuperação de memória de longo prazo. Conforme a doença progride, essas disfunções se tornam progressivamente mais prejudicadas e as habilidades cognitivas diminuem. Certos aspectos são mais prejudicados, como o aprendizado de novas habilidades motoras, que parece mais diminuído que o de outras.

Instala-se uma demência global, com notada redução de fluência verbal. Entretanto, afasia, apraxia, agnosia e alexia são extremamente raras.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial deve ser feito basicamente com outras condições nas quais a coreia é um sintoma predominante, especialmente se houver história familiar.

Tratamento

Não há tratamento específico para a DH, sendo apenas possível tratamento sintomático.

Dentre os sintomas motores, a coreia pode ser tratada com antagonistas dopaminérgicos, sendo os neurolépticos convencionais mais eficazes nos casos de coreia grave, com disfagia. Os pacientes toleram doses usualmente mais altas sem sinais evidentes de impregnação extrapiramidal.

Os sintomas psiquiátricos, especialmente a depressão, respondem bem ao uso de antidepressivos em doses habituais, devendo ser evitados aqueles com mais ação anticolinérgica, pelo possível agravamento dos sintomas cognitivos. Os sintomas psicóticos costumam melhorar com uso de neurolépticos, podendo aqui serem usados os antipsicóticos atípicos. Não há evidências de melhora dos sintomas cognitivos com nenhuma droga comercialmente disponível para esse fim.

Doenças priônicas
Autores

Jerusa Smid

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Neurologista. Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Hospital das Clínicas da FMUSP. Neurologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

Doenças priônicas são doenças degenerativas raras do sistema nervoso central, de evolução fatal. As doenças priônicas humanas são: doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), doença de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS), kuru, insônia fatal (IF) e prionopatia variavelmente sensível à protease. Podem ser esporádicas, genéticas ou adquiridas (infecciosas).

Epidemiologia

Doença de Creutzfeldt-Jakob esporádica: forma mais comum de doença priônica, com incidência anual de 1 a 2 casos em 1 milhão.

Principais doenças priônicas e suas variantes
Tratamento

Ainda não existe tratamento específico para as doenças priônicas.

Transtorno neurocognitivo maior e menor associadas a doença cerebrovascular, trauma cerebral, neuroinfecção e outras etiologias
Transtorno neurocognitivo maior e menor associadas a doença cerebrovascular
Autores

Maria Niures P. S. Matioli

Médica Geriatra. Mestre em Ciências pelo Departamento de Neurologia da FMUSP. Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento, Departamento de Neurologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

O transtorno cognitivo maior e menor associado à doença cerebrovascular – "transtorno cognitivo vascular" (TCV) – corresponde a todas as formas de comprometimento cognitivo de origem vascular desde o comprometimento cognitivo leve (TCV menor) até a demência (TCV maior).

Epidemiologia

O TCV é a segunda causa mais comum de demência, precedida pela doença de Alzheimer (DA). Ocorre aumento na sua incidência e prevalência com a idade. A estimativa global é de 15 a 20% dos casos de demência, sendo de 2% na população de 65-70 de idade e de 20 a 40% em indivíduos acima de 80 anos. A prevalência de demência vascular é de 9,3 a 24,9% no Brasil.

Fatores de risco vascular
Diagnóstico
Diagnóstico diferencial

A história de déficit precoce de memória e piora progressiva da memória, linguagem, função executiva na ausência de lesões focais correspondentes na neuroimagem, são sugestivos de DA como primeiro diagnóstico. A demência por corpúsculo de Lewy é diferenciada de TCV por apresentar quadro de flutuação na cognição, alucinações visuais e parkinsonismo. Quadro insidioso e de progressão gradual de alterações comportamentais e prejuízo de linguagem são característicos de degeneração lobar frontotemporal.

O diagnóstico de TCV não deve ser feito quando outras doenças estão presentes e justificam o comprometimento cognitivo: tumor cerebral, esclerose múltipla, encefalite, desordens tóxicas e metabólicas.

Exames complementares

Devem ser realizados: hemograma, eletrólitos, glicose, testes de função renal, tireoideana e hepática, dosagem de vitamina B12 e testes sorológicos para sífilis, e exames para pesquisa de outros fatores de risco vascular.

Pesquisa de HIV, exame de líquido cefalorraqueano e eletroencefalograma somente em casos selecionados. Os exames de neurimagem estrutural como a tomografia computadorizada (TC) cerebral, ou preferencialmente a ressonância magnética (RM) são recomendadas.

Outros exames que podem auxiliar no diagnóstico são: espectroscopia de prótons por RM, perfusão por TC e RM, TC por emissão de fóton único (SPECT) e tomografia por emissão de pósitrons (PET).

Tratamento

Não existe tratamento específico para TCV. Controle e tratamento de fatores de risco vascular modificáveis são recomendados. Os dados ainda são insatisfatórios para o uso de anticolinesterásicos (donepezila, rivastigmina e galantamina) e de antagonista de receptor glutamatérgico (memantina) para o tratamento dos déficits cognitivos em todos os casos e tipos de TCV.

O benefício desses medicamentos parece ser mais evidente nos pacientes com TCV de origem subcortical, porém ainda não foram aprovados para essa finalidade.

Distúrbios cognitivos e comportamentais pós-traumatismo cranioencefálico
Autores

Renato Anghinah

Doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo. Neurologista. Pesquisador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento, Departamento de Neurologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

O traumatismo cranioencefálico (TCE) é um insulto cerebral de causa não degenerativa, não congênita causado pela ação de uma força mecânica externa com diminuição do nível de consciência que pode levar a uma lesão cerebral com repercussão cognitiva, física, ou no comportamento psicossocial de modo temporário ou permanente.

Epidemiologia

Os dados populacionais brasileiros apontam que cerca de 700 mil a 1,1 milhão de pessoas são vítimas de traumatismo cranioencefálico (TCE) anualmente. Cerca de 80% dessas pessoas sofrem traumatismos leves, sendo que 65 a 70% retomam a normalidade de suas vidas, porém 10 a 15 % desses traumas, considerados leves terão impacto na qualidade de suas vidas futuras.

Sequelas mais comumente encontradas
Síndromes comportamentais e psiquiátricas mais comuns pós-TCE
Exames complementares

As etapas iniciais do tratamento incluem avaliação global neuropsiquiátrica e testes cognitivos. Isso inclui o exame neurológico e psiquiátrico para documentar os déficits e diagnósticos de base.

Avaliação neuropsicológica

A bateria neuropsicológica documenta as habilidades cognitivas e limitações e fornece uma linha de partida a partir do qual os ganhos de reabilitação cognitiva podem ser aferidos.

Testes neurofisiológicos

Testes neurofisiológicos podem revelar disfunção cerebral e atividade irritativa.

Exames de neuroimagem

Neuroimagem pode mostrar isquemia hemorragia, encefalomalácia, perda neuronal e alteração do metabolismo cerebral ou da perfusão.

Tratamento

É preconizada a abordagem sistemática no tratamento do TCE, com três itens importantes para atuação:

• Identificação de sintomas-alvo;
• Consideração de problemas médicos coexistentes e contribuições iatrogênicas;
• Implementação de um tratamento não farmacológico, coadjuvante ou isoladamente.

Tratamento farmacológico
Sistema colinérgico

Foi o primeiro neurotransmissor direcionado para melhorar a recuperação após lesões cerebrais. A acetilcolina está envolvida na memória sendo corrente o uso de drogas colinérgicas na doença de Alzheimer. Existem evidências crescentes de que a Ach teria ação na plasticidade cortical. Acetilcolina tem sido associada com a aprendizagem e memória. Medicamentos anticolinérgicos utilizados para tratar a doença de Alzheimer têm demonstrado eficácia para melhorar problemas de memória após o TCE.

Medicação norádrenér

Os agonistas noradrenérgicos são utilizados com variados graus de sucesso para as sequelas comportamentais de lesão cerebral, como problemas de atenção, impulsividade e da velocidade de processamento cognitivo. Três medicamentos noradrenérgicos comumente estudados são anfetamina, metilfenidato, e L-treo-3, 4-dihydroxyphenylserine (L-DOPS).

Medicação dopaminérgica

A dopamina parece ser importante na memória, reatividade e função executiva. Medicamentos que afetam o sistema dopaminérgico são usados para tratar déficit de atenção e pouca reatividade após TCE.

Medicação serotoninérgica

A serotonina tem efeitos comportamentais e está envolvida no controle motor. Ainda não está claro se a medicação serotoninérgica tem apenas efeitos imediatos sobre o comportamento ou se eles teriam algum efeito de longa duração sobre a recuperação neuronal.

Transtornos cognitivos associados a neuroinfecção
Autores

Leonel Tadao Takada

Neurologista. Pesquisador do GNCC do Departamento de Neurologia e Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

Transtornos cognitivos podem ocorrer na fase aguda ou como sequelas de meningites agudas, encefalites, com destaque para a encefalite herpética, abscessos e meningites crônicas.

Transtorno cognitivo em caso de infecção por HIV
Diagnóstico
Quadro clínico
Sintomas cognitivos

Comprometimento cognitivo de padrão subcortical (déficit de atenção e concentração, alentecimento psicomotor, disfunção executiva e dificuldade em recuperar informações). Mais tardiamente, podem aparecer dificuldades com memória episódica, leitura, compreensão e cálculo. Outros sinais de comprometimento de linguagem e apraxia podem aparecer em fases avançadas.

Sintomas neuropsiquiátricos

Sintomas depressivos são frequentes. Apatia, perda de interesse sexual, ou ainda psicose podem aparecer. Mania é rara, mas já foi descrita em infecção avançada por HIV.

Sintomas motores

Distúrbio de marcha e tremores podem aparecer precocemente. Bradicinesia, disdiadococinesia, hiperrreflexia e sinais de liberação frontal podem ser encontrados com a evolução da doença.

Diagnóstico diferencial

• Infecções oportunistas (neurotoxoplasmose, neurocriptococose, neurotuberculose, neurossífilis, leucoencefalopatia multifocal progressiva, meningoencefalite por CMV ou herpesvírus, entre outras).
• Doenças neurodegenerativas (p. ex., doença de Alzheimer) e transtorno cognitivo por doença cerebrovascular.
• Neoplasia do sistema nervoso central (particularmente linfoma).
• Carências vitamínicas ou distúrbios metabólicos, como deficiência de vitamina B12 ou hipotireoidismo.

Exames complementares

• Sorologia para HIV-1 (ELISA e Western Blot), ou pesquisa direta por PCR.
• Carga viral e contagem de CD4 não são necessariamente associadas com grau de comprometimento cognitivo.
• Ressonância magnética de encéfalo: pode mostrar atrofia cortical e subcortical, particularmente em núcleo caudado e lobos frontais, além de hiperssinal simérico em T2/FLAIR na substância branca periventricular.
• Líquido cefalorraquidiano: importante para diagnóstico diferencial com outras neuroinfecções.

Tratamento

Tratamento da infecção por HIV: algumas drogas ARVs têm maior penetração em sistema nervoso central, mas não há evidências claras de que o uso dessas drogas é superior para evitar comprometimento cognitivo.

Tratamento de fatores de risco cerebrovasculares.

Transtorno cognitivo decorrente de neurossífilis (NS)
Definição
NS inicial

Na fase aguda da sífilis ou durante a sífilis recente (primeiro ano depois da infecção), pode ocorrer meningite sifilítica, que tende a melhorar mesmo sem tratamento.

NS tardia

A grande maioria das manifestações da NS ocorre na fase tardia (depois do primeiro ano da infeção).

A NS meningovascular em que podem manifestar-se sintomas de meningite crônica com acometimento de nervos cranianos (especialmente os motores oculares e o auditivo) acompanhados ou não de acidentes vasculares encefálicos isquêmicos geralmente manifesta-se depois de 2 a 10 anos anos após a infecção, enquanto a paralisia geral progressiva (PGP, caracterizada por sintomas cognitivos, psiquiátricos e motores) e a tabes dorsalis (caracterizada por ataxia sensitiva) são mais tardias ainda, ocorrendo 10 a 30 anos depois da infecção.

A goma sifilítica, formação inflamatória expansiva, tende a ocorrer também tardiamente, mas é muito rara.

Quadro clínico

NS meningovascular: os sintomas neuropsiquiátricos podem ser iniciados com crises convulsivas e sinais focais sugestivos de acidente vascular cerebral.

Paralisia geral progressiva, ocorre 10-25 anos após infecção primária (mas pode ocorrer mais precocemente).

Sintomas cognitivos: esquecimento leve e distúrbios de sono ocorrem nas fases iniciais; com a evolução da doença, aparecem declínio na memória, julgamento, desorientação, até demência franca.

Sintomas psiquiátricos: sintomas iniciais incluem irritabilidade, mudanças na personalidade. Com a progressão da doença, labilidade emocional, sintomas depressivos e/ou delírios podem aparecer. Mania também foi relatada, mas como sintoma raro.

Sintomas motores: disartria, tremores em face, língua e mãos. Crises epilépticas e alterações pupilares podem ser observadas.

Exames complementares

Sorologias: testes não treponêmicos (VDRL ou RPR) e testes treponêmicos (FTA-Abs, TPHA, ou ELISA). Na suspeita de NS, se um teste treponêmico for positivo no soro, deve-se solicitar coleta de LCR.

LCR: o VDRL é altamente específico, mas sua sensibilidade é baixa no LCR (em torno de 70%). O FTA-Abs é menos específico, porém tem alta sensibilidade no LCR (FTA-Abs negativo no LCR torna o diagnóstico de NS muito pouco provável). Caracteristicamente, a celularidade no LCR é ≥ 5 células (em geral 25-75) e proteinorraquia > 45 mg/dL (em indivíduos sem infecção por HIV concomitante).

Tanto na NS meningovascular como na paralisia geral progressiva, o diagnóstico é relativamente fácil de ser excluído. Teste treponêmico (FTA-abs, TPHA, ou ELISA) negativo no soro exclui o diagnóstico de NS.

Nos casos típicos de NS, o exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) revela pleocitose, aumento da concentração de proteínas, VDRL e teste treponêmico positivos.

Tratamento

Penicilina G cristalina, 24 milhões de unidades por dia (divididas em seis tomadas) por 10 a 14 dias. Em casos de paralisia geral progressiva, alguns autores, entre os quais nos incluímos, recomendam estender o tratamento por 20 dias.

O resultado é tanto melhor quanto mais precocemente iniciado. Na paralisia geral progressiva, diagnóstico tardio estabiliza a evolução mas não restitui o indivíduo ao seu nível cognitivo pré-mórbido.

Monitorização do tratamento com coleta de LCR a cada 6 meses, até negativação do VDRL e normalização da celularidade (o que deve ocorrer em até 2 anos após o tratamento).

Encefalopatias imunomediadas
Autores

Fábio Henrique de Gobbi Porto

Neurologista. Pesquisador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento, Departamento de Neurologia e do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Definição

O termo encefalopatia é frequentemente usado de maneira inespecífica para descrever distúrbios das funções cerebrais, que clinicamente se apresentam como alterações do estado mental, variando desde alterações cognitivas leves até distúrbios da vigília (sonolência, torpor, irresponsividade e coma). As encefalopatias imunomediadas têm ganhado importância na última década, figurando sempre no diagnóstico diferencial de alterações cognitivas de instalação subaguda, principalmente quando associadas à epilepsia de início tardio e alterações comportamentais.

As encefalopatias imunomediadas podem ser divididas em vasculíticas e não vasculíticas de acordo com a presença ou não de alterações inflamatórias nos vasos cerebrais, respectivamente

Encefalopatias límbicas
Definição

As encefalites límbicas (EL) são doenças inflamatórias que afetam predominantemente as regiões límbicas e paralímbicas (tipicamente córtices temporais anteromediais, hipocampos e amígdalas) e são classicamente associadas a um tumor maligno, principalmente ao carcinoma pulmonar de pequenas células. Porém, recentemente foram relatados casos de encefalite límbica em pacientes jovens, sem tumores ou com tumores benignos, como teratoma de ovário e timoma.

Quadro clínico

A tríade clássica das encefalites límbicas é caracterizada por declínio cognitivo (normalmente subagudo), epilepsia com predomínio de crises de origem temporal e alterações de comportamento variadas.

Sintomas clínicos que podem levar à suspeita diagnóstica além da tríade clássica são: hiponatremia, presença de movimentos anormais (discinesias oromandibulares, coreoatetose, crises oculogíricas, distonia e rigidez), sinais de acometimento hipotalâmico como sonolência excessiva, perda de peso e alterações do apetite, sinais de hiperexcitabilidade do sistema nervoso periférico (fasciculações e miotonias) e disautonomia (hipertermia, taquicardia, hipersalivação, hipertensão, bradicardia, incontinência urinária e disfunção erétil). Um pródromo viral também pode ocorrer em alguns caso.

Exames complementares

O achado típico da RM é o hipersinal na sequência FLAIR nos lobos temporais mediais. O LCR pode mostrar hiperproteinorraquia e pleocitose de predomínio linfocítica e o EEG pode confirmar as crises de origem temporal.

O diagnóstico confirmatório é feito pela pesquisa do anticorpo específico no soro e no LCR. É importante ressaltar que o índice de suspeita deve ser grande e mesmo os exames complementares normais não excluem totalmente a possibilidade do diagnóstico.

Tratamento

O tratamento das encefalites límbicas é baseado na detecção e ressecção de um tumor subjacente e imunoterapia. Nas formas clássicas, em que predomina a imunidade celular e na qual os anticorpos são marcadores, a imunoterapia é pouco eficaz e o tratamento consiste fundamentalmente na ressecção do tumor. Nas formas com anticorpos contra antígenos da superfície da membrana neuronal, corticosteroides, imunoglobulina humana e plasmaférese são as medidas de primeira linha, seguida por ciclofosfamida e rituximab, em pacientes refratários.

Encefalopatias responsivas a esteroides
Definição

Um grupo importante de encefalopatias imunomediadas são as chamadas encefalopatias responsivas a esteroides (ERE). Essas entidades são definidas pela resposta ao tratamento (diagnóstico retrospectivo) e não ao conjunto de características clínicas e paraclínicas.

Encefalopatia responsiva a esteroides associadas à tireoidite autoimune

Caracteriza-se por alterações cognitivas e comportamentais com a presença de anticorpos antitireoidianos (antitireoglobulina, antitireoperoxidase e antirreceptores de TSH).

Quadro clínico

O quadro clínico é extremamente variável, sendo comumente encontrados, além das alterações cognitivas e comportamentais, tremores, mioclonias, convulsões e alterações de sono. Sintomas neurológicos transitórios similares a isquemias cerebrais podem ocorrer.

Exames complementares

Os anticorpos antitireoidianos são por definição elevados, mas não há correlação entre a titulação destes e gravidade da encefalopatia. A função tireoidiana usualmente é normal ou discretamente alterada (hipotireoidismo subclínico). A RNM pode evidenciar hiperintensidades na substância branca nas sequências de T2 e FLAIR ou realce meníngeo, porém na maioria dos casos é normal. O LCR normalmente mostra níveis elevados de proteína e ocasionalmente discreta pleocitose linfocítica. O EEG é quase sempre alterado, porém com achados inespecíficos.

Tratamento

O tratamento é baseado em esteroides em altas doses, sendo comumente utilizado a metilprednisolona intravenosa seguida por um curso oral de prednisona. Outras terapias incluem metotrexato, azatioprina, ciclofosfamida e imunoglobulina humana.

Meningoencefalites inflamatórioas não vasculíticas

Esse grupo heterogêneo de afecções inflamatórias do sistema nervoso central é caracterizado por encefalopatia associada a doenças autoimunes, com a síndrome de Sjögren, síndrome do anticorpo antifosfolipídio, lúpus eritematoso ou a evidência inespecífica de inflamação como alterações no LCR (aumento de proteína, pleocitose, aumento na produção de IgG, bandas oligoclonais) e alterações inflamatórias séricas (VHS e PCR aumentados).

Quadro clínico: encefalopatias responsivas a esteroides (ERE)/meningoencefalites inflamatórioas não vasculíticas

A classificação se baseia na ausência de sinais clínicos e radiológicos de vasculite (ocasionalmente, encontra-se microvasculite em estudos anatomopatológicos) e pela responsividade a corticoterapia.

Síndrome de Morvan

A síndrome de Morvan (SM), também chamada de coreia fibrilar, é caracterizada pela associação entre encefalopatia e hiperexcitabilidade neuromuscular periférica, normalmente associada a anticorpos contra VGKC.

Quadro clínico

Achados típicos incluem neuromiotonia, mioquimias, insônia grave, hiper-hidrose e outros sinais de disautonomia (pressão arterial lábil, taquicardia, piloereção e salivação excessiva). O quadro cognitivo é caracterizado por confusão mental, alucinações e flutuação cognitiva.

Exames complementares

A eletroneuromiografia (ENMG) revela fasciculações, mioquimias e descargas miotônicas. A RM de encéfalo pode mostrar alterações típicas de EL, mas usualmente é normal. A polissonografia pode demonstrar anormalidades da arquitetura do sono.

Tratamento

A base do tratamento é a imunoterapia e ressecção de tumor subjacente (quando existente).

Transtorno neurocognitivo maior e menor associado a condições médicas gerais
Autores

Milena Gross de Andrade

Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Psiquiatra do Projeto Região Oeste (PRO) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Renério Fráguas Júnior

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Grupo de Interconsulta Hospitalar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Diagnóstico
Transtorno cognitivo maior
Transtorno cognitivo menor
Principais condições médicas gerais associadas a transtorno cognitivo
Lupus eritematoso sistêmico (LES)
Sintomas neuropsiquiátricos

A síndrome neuropsiquiátrica do LES, presente em 50-80% dos pacientes, que inclui transtornos de humor, de ansiedade, psicose, disfunções cognitivas e delirium.

Sintomas cognitivos

Entre 19 e 37% dos indivíduos com LES apresentam disfunção cognitiva compatível com os critérios dessa síndrome. A presença de comprometimento cognitivo relaciona-se com a atividade do LES.

Exames complementares

O estabelecimento de transtorno cognitivo maior em pacientes portadores de LES pode ser resultado de múltiplos infartos isquêmicos cerebrais causados pelos anticorpos antifosfolípides. Em exames de neuroimagem, pode ser observada uma redução volumétrica cerebral e de corpo caloso, além de atrofia hipocampal.

Tratamento

O uso crônico de ácido acetilsalicílico pode prevenir declínio cognitivo, especialmente em pacientes mais velhos.

Encefalopatia hepática crônica
Sintomas neuropsiquiátricos

Sua apresentação é bastante variável, sendo a forma leve caracterizada por irritabilidade. Na progressão da encefalopatia hepática, ocorre alteração do ciclo sono-vigília, tremores, flapping, incoordenação motora e sonolência, que pode progredir para um rebaixamento do nível de consciência, com letargia e coma.

Sintomas cognitivos

O comprometimento cognitivo caracteriza-se por déficit atencional e de memória e discreta confusão mental.

Tratamento

O transtorno cognitivo associado à encefalopatia hepática crônica é potencialmente reversível com o controle do desequilíbrio metabólico ou após transplante hepático. O consumo de alimentos em intervalos curtos e regulares, bem como a ingestão de probióticos, contribuem para a melhora dos déficits cognitivos. Algum grau de comprometimento cognitivo em memória operacional, inibição de resposta e aprendizado, mesmo com a remissão da encefalopatia, podem persistir cronicamente.

Hipotireoidismo
Sintomas cognitivos

Hipotireoidismo é associado a transtorno cognitivo reversível. Nesse quadro, observa-se alteração de funcionamento hipocampal, importante área relacionada à memória, com déficits em memória verbal, espacial e associativa.

Tratamento

O tratamento contínuo com levotiroxina sintética parece impedir o desenvolvimento/progressão do comprometimento cognitivo.

Hipertireoidismo
Sintomas cognitivos

Embora mais raro, o hipertireoidismo também pode estar relacionado a transtornos cognitivos. Na tireotoxicose de Graves, embora os pacientes queixem-se de disfunção cognitiva, ela não é observada em testes neuropsicológicos. Assim, o mais provável é que tal percepção derive de alterações afetivas e somáticas da própria tireotoxicose.

Álcool
Sintomas cognitivos

Mais da metade dos abusadores crônicos de álcool apresentam déficits cognitivos em testes neuropsicológicos. O lobo frontal é uma das regiões mais afetadas pela perda neuronal e relaciona-se a falhas na memória operacional.

Síndrome de Wernicke
Sintomas cognitivos

Caracteriza-se pela tríade de confusão mental, oftalmoplegia, ataxia.

Tratamento

Reposição de tiamina 100 mg/dia, inicialmente por via intramuscular ou endovenosa e posteriormente por via oral.

Síndrome de Korsakoff
Sintomas cognitivos

É uma manifestação neuropsiquiátrica tardia da encefalopatia de Wernicke na qual há marcada amnésia seletiva retrógrada e anterógrada, desorientação e comprometimento de memória recente. A memória de longo prazo e outros domínios cognitivos estão relativamente preservados e a fabulação é uma característica comum.

Tratamento

Reposição de tiamina. A resposta é pior do que na encefalopatia de Wernicke. O indivíduo geralmente necessita de supervisão nas atividades de vida diária. O uso de inibidores da acetilcolinesterase e/ou memantina é empírico e ainda necessita de mais estudos.

Deficiências vitamínicas outras
Vitaminas associadas a transtornos cognitivos
Niacina
Características clínicas

Sua deficiência causa uma doença conhecida como pelagra, bastante rara atualmente, caracterizada por dermatite pigmentada fotossensível, diarreia e transtorno cognitivo. Pode ocorrer insônia, ansiedade, desorientação, confusão mental, alteração da sensopercepção e déficit cognitivo.

Condições predisponentes

Associa-se com alcoolismo, anorexia nervosa e pós-operatório de cirurgia bariátrica.

Tratamento

O tratamento consiste na reposição de niacina.

Cobalamina
Características clínicas

Quadro de anemia megaloblástica, presença de neutrófilos hipersegmentados em sangue periférico, pancitopenia, ataxia e parestesia. Baixos níveis de cobalamina atingem o SNC causando perda de memória, transtorno cognitivo, irritabilidade e sintomas extrapiramidais.

Condições predisponentes

Sua deficiência deve-se a problemas absortivos associados à anemia perniciosa ou secundários a alguma alteração gástrica. Vegetarianos e pacientes submetidos a cirurgia bariátrica apresentam maior risco de deficiência.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito por dosagem sérica.

Tratamento

O tratamento consiste na reposição por via intramuscular.

Ácido fólico
Características clínicas

Quadro de anemia megaloblástica, presença de neutrófilos hipersegmentados em sangue periférico, pancitopenia, ataxia e parestesia. O déficit de ácido fólico pode causar aumento do nível sérico de homocisteína, que está relacionado a risco de doença arterial, transtorno cognitivo e Alzheimer.

Condições predisponentes

O ácido fólico está presente em produtos animais e folhas verdes e sua deficiência normalmente está associada à dieta inadequada ou alcoolismo.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito por dosagem sérica.

Tratamento

O tratamento consiste na reposição por via oral.

Avaliação, diagnóstico e diretrizes
Anamnese psiquiátrica ao longo da vida
Autores

Táki Athanássios Cordás

Coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Coordenador do Programa Transtornos Alimentares (AMBULIM) do IPq-HC-FMUSP. Professor dos Programas de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da USP e do Programa de Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP.

Débora Pastore Bassitt

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médica Assistente Comissionada do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenadora da Enfermaria de Geriatria do IPq-HC-FMUSP.

Renato Luiz Marchetti

Doutor em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Projeto de Epilepsia e Psiquiatria (PROJEPSI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Coordenador da Residência de Psiquiatria do Instituto Bairral de Psiquiatria.

Renato Del Sant

Diretor do Hospital-Dia de Adultos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do CREMESP. Mestre em Psiquiatria pela FMUSP.

Objetivo

O objetivo da entrevista clínica psiquiátrica é obter informação útil a respeito dos problemas mentais, que deverá ser elaborada e codificada de acordo com os diferentes métodos psicopatológicos, com o objetivo de planejar tratamentos, motivando o paciente a aderir a eles e criando e mantendo uma relação terapêutica sustentável.

O local da entrevista

O local de exame deve ser adequado para a tarefa. Deve haver silêncio, privacidade garantida e conforto.

Exame físico e neurológico

A necessidade de realização de exame físico geral e especializado e exame neurológico deve ser definida pelo problema e pelo contexto apresentados pelo paciente. Esses exames poderão ser postergados para um segundo encontro ou realizados por um especialista. O exame neurológico é importante, por conta da proximidade de doenças neuropsiquiátricas.

O exame do estado mental

O exame do estado mental é uma atividade complexa que tem a psicopatologia como referência. Há diferentes métodos de realização e de sistematização desse exame e parece que nenhum deles tem a primazia sobre os outros. É importante que o método se adeque ao referencial cognitivo do entrevistador, aos problemas apresentados pelo paciente e às circunstâncias em que o exame se realiza.

Três perspectivas fundamentais direcionam o exame do estado mental do paciente durante a entrevista clínica psiquiátrica: processo de coleta de informações, detecção de sinais de transtornos mentais e detecção de situações de emergência.

Exame psicopatológicos

O exame fenomenológico também compreende a apreensão do psíquico nos rendimentos do indivíduo, utilizando certas condições que incitam o paciente a objetivar seu psíquico. Serão, então, apreendidas as funções rendimentais, como memória, atenção, orientação temporal e espacial, inteligência, motricidade, linguagem, forma de pensamento e elaborações do juízo.

Hábitos

Importância de descrever os comportamentos e as condutas sociais, como hábitos alimentares, vida sexual, sono, uso de drogas e álcool, higiene, rituais, impulsividades, tentativas suicidas e condutas antissociais.

Vida familiar

Descrever também a vida familiar e a conjugal, o grau de autonomia ou dependência, a escolaridade, a vida profissional, a cultura, os passatempos, a religiosidade, os projetos, descrever o examinado como homem social.

Narrativa biográfica

Elaborar a biografia do examinado, descrevendo vivências, acontecimentos, realizações, frustrações, atos e obras. Não é mera descrição da sucessão regular da vida de um homem, mas apresentar uma configuração qualitativa, na qual se apreende o psíquico na existência daquela pessoa.

Exames biológicos complementares

Os exames complementares são imprescindíveis para o diagnóstico diferencial dos quadros somáticos ou para firmar o diagnóstico dos quadros psiquiátricos de causa somática.

Os exames laboratoriais não devem ser solicitados de modo rotineiro, assim como não devem ser valorizados isoladamente, mas inseridos em um contexto global, na anamnese clínica e na psicopatologia.

Testes psicológicos

Os testes psicológicos são métodos indiretos para se investigar o psíquico. Não são métodos exclusivos, e suas indicações dependem do que se precisa investigar.

Particularidades da avaliação de psiquiátrica de crianças e adolescentes
Autores

Sandra Scivoletto

Professora-Assistente de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Responsável pela orientação acadêmica do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência (SEPIA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenadora da Residência em Psiquiatria da Infância e Adolescência do IPq-HC-FMUSP. Professora de Pós-graduação do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Ênio Roberto de Andrade

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretor do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Ambulatório de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) do IPq-HC-FMUSP.

Marcelo Marui Biondo

Psiquiatra da Infância e da Adolescência. Médico Preceptor da Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Objetivos da avaliação inicial
Fontes de informação

Um dos principais aspectos da avaliação clínica psiquiátrica de crianças e adolescentes é a obtenção de informações de múltiplas fontes: paciente, pais, familiares, professores, amigos, colegas de escola e outros profissionais da área da saúde. Isso visa à avaliação do funcionamento do paciente de forma global, levando-se em consideração os diversos ambientes e contextos frequentados pelo indivíduo.

Entrevista com os pais

É interessante que sejam realizadas as consultas com os pais separadamente e de forma conjunta com o paciente, a fim de que o médico possa ter contato com os diversos pontos de vista em relação aos problemas apresentados pelo paciente. Com crianças muito pequenas (até 7 anos), costuma-se realizar a entrevista com os pais antes da entrevista com a criança. Já com crianças maiores de 10 anos e adolescentes, preconiza-se a entrevista com o paciente em primeiro lugar, especialmente para estabelecer vínculo com ele.

Perguntas aos pais essenciais na avaliação psiquiátrica de crianças e adolescentes
Aspectos a serem investigados na entrevista psiquiátrica com crianças e adolescentes e estratégias de investigação
Pergunta para avaliação psiquiátrica de crianças e adolescentes
Itens a serem considerados para a boa prática psiquiátrica na avaliação de crianças e adolescentes
Particularidades da avaliação neuropsiquiátrica de idosos
Autores

Florindo Stella

Instituto de Biociências, Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Orestes Vicente Forlenza

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Impacto dos distúrbios neuropsiquiátricos nos pacientes e familiares e cuidadores
Dificuldades no relato de familiares e cuidadores
Avaliação de pacientes portadores de demência

Para a avaliação dos distúrbios neuropsiquiátricos no paciente idoso, inicialmente, faz-se necessário investigar se eles ocorrem na vigência de eventos clínicos agudos caracterizados por quadro confusional, agravamento agudo de comorbidades clínicas crônicas ou de enfermidades psiquiátricas prévias, efeitos adversos de medicamentos – particularmente, benzodiazepínicos ou antidepressivos tricíclicos – ou se representam a progressão natural de um processo demencial. Nesse contexto, torna-se absolutamente decisivo que o clínico identifique os diagnósticos diferenciais.

Condições clínicas que podem causar distúrbios neuropsiquiátricos
Comorbidades neuropsiquiátricas nas diferentes gravidades da demência
Escalas para avaliação de sintomas neuropsiquiátricos no idoso com demência
Intervenções não farmacológicas
Avaliação breve de personalidade
Autores

Antonio de Pádua Serafim

Psicólogo e Neuropsicólogo. Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador Geral do Núcleo Forense e Psicólogo Supervisor do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo.

Fabiana Saffi

Psicóloga Clínica e Forense. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Psicologia Jurídica e em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica. Psicóloga do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia e do Projeto de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Personalidade

A personalidade engloba um processo dinâmico e contínuo de conciliar características individuais ao ambiente, determinando a qualidade de interação do sujeito com o seu meio. Essas características estão presentes da infância à adolescência e, em sua maioria, permanecem imutáveis ao longo da vida, o que na prática se aplica ao conjunto de características psicológicas traduzi- das na forma de pensar, sentir e agir. É constituída de um caráter, pautado nos aspectos cognitivos e em um temperamento adicionado dos fatores afetivos-conativos e no julgamento moral.

Clusters de personalidade segundo o DSM-5
Modelos de estudo da personalidade
Como avaliar a personalidade?
Entrevista clínica

É fundamentada pela escuta clínica (entrevista clínica), que se perpetua como um pilar, visto que se configura como um conjunto de técnicas de investigação cujo objetivo é descrever e avaliar os aspectos pessoais, relacionais, sistêmicos e sintomáticos. Uma vez que a entrevista é soberana na prática clínica, ela propicia ao entrevistador treinado o acesso amplo e profundo ao outro, bem como ao modo de sua estruturação e a sua forma de se relacionar.

Testes psicológicos
Projetivos

• Zulliger
• Teste de apercepção temática (TAT)
• Teste das pirâmides coloridas (Pfister)
• Psicodiagnóstico de Rorschach
• Psicodiagnóstico miocinético (PMK)
• Desenho da casa, árvore e pessoa (HTP)

Objetivos

• Inventário fatorial de personalidade (IFP)
• Escala fatorial de ajustamento emocional/neuroticismo (EFN)
• Bateria fatorial de personalidade (BFP)
• Inventário de personalidade (NEO PI-R)

Etapas do processo de avaliação da personalidade
Terapias psicológicas: indicações e considerações gerais sobre as diferentes abordagens psicoterápicas
Autores

Patrícia de Campos Lindenberg Shoueri

Doutora em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenadora do Grupo de Psicoterapia Breve do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Eva Helena Costa Cardoso Zoppe

Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Supervisora do Grupo de Psicoterapia Breve do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Maria Cecília Fernandes Silva

Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro Filiado do Instituto Durval Marcondes da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Psicóloga Supervisora e Coordenadora do Ambulatório de Família (AMFAM) do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Felipe Corchs

Professor Colaborador Médico do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Programa do Programa de Análise do Comportamento do IPq-HC-FMUSP.

Francisco Lotufo Neto

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Elementos para a formulação psicodinâmica

a) A relação entre significados, sentimentos e representações conscientes e inconscientes é fundamental na compreensão da psicopatologia;

b) Impulsos, sentimentos e fantasias sexuais e agressivas ligadas às necessidades de apego e dependência constituem o eixo motivacional dos seres humanos;

c) Toda a vida emocional é caracterizada por conflitos entre desejos, sentimentos e representações de si mesmo e dos outros que se opõem, causando ansiedade;

d) A proteção diante dessa ansiedade é feita por meio dos mecanismos de defesa inconscientes;

e) Todos os sintomas e os traços de personalidade são expressões dos conflitos intrapsíquicos ou de déficits e de seu manejo;

f) A personalidade é moldada com base na percepção subjetiva da qualidade emocional das interações com os cuidadores primários e irmãos na infância.

Variáveis para a construção de uma formulação psicodinâmica da personalidade
Aspectos cognitivos

Avaliação da inteligência, do julgamento, da atenção, da memória, da orientação da resposta ao insight e teste de realidade.

Aspectos afetivos

Avaliação da habilidade, da capacidade de discriminação e da expressão das emoções, além da qualidade do humor e sua estabilidade.

Relações objetais

Refere-se ao mundo interno e ao grau de diferenciação entre objetos internos e externos. Inclui a avaliação da extensão na qual os objetos parciais permanecem cindidos ou integrados e sua estabilidade nas representações de si mesmo e dos outros.

Relações interpessoais

Refere-se à manifestação externa das relações objetais internas descritas no item anterior. Inclui a capacidade de construir relacionamentos íntimos, estáveis e significativos e a habilidade de contemplar as necessidades do eu e dos outros, além de manter o equilíbrio entre a empatia e um egoísmo saudável. É fundamental avaliar a capacidade e a forma do paciente estabelecer relações afetivas de reciprocidade e mutualidade em contraposição aos relacionamentos explosivos, mal adaptados e meramente complementares, ou seja, motivados apenas pela necessidade.

Defesas

São avaliadas em relação ao grau de maturidade.

Funcionamento do superego

Refere-se à internalização dos valores que governam o comportamento. Avalia-se o grau de rigidez que varia de uma postura cuidadosa até uma autoavaliação severa e punitiva. Ele forma a base de autoestima, ambição, valores éticos e morais, capacidade de humor e capacidade de ter uma perspectiva realista e afetiva em relação às capacidades e às dificuldades de si mesmo e dos outros.

Conflitos básicos

Refere-se à presença ou à ausência de conflitos relacionados ao nível de organização egoica.

Grau de maturidade das defesas do ego
Temas de conflitos básicos
Tipos de conflitos neuróticos
Formulação psicodinâmica e o tratamento

A compreensão psicodinâmica dos comportamentos e dos sintomas dos pacientes instrumentaliza o profissional, favorecendo a condução do tratamento, o manejo da sua relação com o paciente e a equipe multidisciplinar, principalmente quando se trata de pacientes internados. Essa compreensão também se estende para a busca de um sentido para a doença na vida do paciente, o que pode mobilizá-lo em direção ao tratamento.

Um olhar sobre a família

Atualmente, o reconhecimento da interferência da dinâmica familiar na compreensão do quadro, na evolução do tratamento e no risco de recidiva é de suma importância.

Avaliação das funções cognitivas
Autores

Daniel Fuentes

Psicólogo Especialista em Neuropsicologia pelo Conselho Federal de Psicologia. Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretor do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Silviane Pinheiro Campos de Andrade

Psicóloga especialista em Neuropsicologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mestre em Ciências pelo Departamento de Psicobiologia da Unifesp. Pesquisadora Colaboradora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Candida Helena Pires de Camargo

Psicóloga Especialista em Neuropsicologia e Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia. Coordenadora da Neuropsicologia e Reabilitação Neuropsicológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Diretora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do IPq-HC-FMUSP.

Leandro Fernandes Malloy-Diniz

Psicólogo. Doutor em Farmacologia Bioquímica e Molecular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor Adjunto do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

Definição

A avaliação neuropsicológica engloba o funcionamento cerebral, podendo ser útil para definir a natureza e a gravidade de problemas comportamentais e emocionais resultantes de lesões ou disfunções cerebrais. Estabelece também informações sobre cognição, características de personalidade, comportamento social, estado emocional e adaptação a limitações do paciente. Consiste em um exame complementar importante para a medicina no estabelecimento tanto do diagnóstico quanto do prognóstico.

Indicações para avaliação neuropsicológica

Deve-se buscar a avaliação neuropsicológica em:

Condições nas quais ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas, afetivas e sociais, decorrentes de eventos que atingiram primária ou secundariamente o sistema nervoso central (SNC). Condições nas quais o potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática, acadêmica, profissional ou social, pelo fato de os indivíduos apresentarem formas e organizações de suas funções mentais diferentes ou discrepantes do que é esperado.

Condições geradas ou associadas a alguma desregulação no balanço bioquímico ou elétrico do cérebro, decorrendo disso modificações ou prejuízos cognitivos/afetivos.

Atenção
Definição

A atenção não é uma entidade única; tem vários componentes, como concentração, monitoramento, tempo de reação, vigilância, focalização de estímulos relevantes e inibição de estímulos distrativos, além da capacidade de alternar o foco atencional quando se fizer necessário.

Instrumentos utilizados para a avaliação atencional
Funções executivas
Definição

Correspondem a um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e longo prazo.

Instrumentos utilizados para a avaliação da funções executivas
Memória
Definição

A capacidade de codificar, armazenar e evocar informações.

Figura esquemática da associação entre os componentes de memórias de longo prazo e áreas anatômicas
Instrumentos utilizados para a avaliação mnéstica
Linguagem
Definição

Capacidade de codificar ideias em sinais para a comunicação com o outro por meio de signos convencionais (p. ex., sonoros, gráficos e gestuais), podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos; o que leva à distinção de várias formas, como visual, auditiva e tátil.

Diagrama simplificado dos processos de linguagem oral e a relação com estruturas anatômicas
Instrumentos utilizados para a avaliação da linguagem
Percepção
Definição

A capacidade de integração das impressões sensoriais em informações com significado.

Modalidades

• Tátil
• Auditiva
• Visual
• Sinestésica

Instrumentos utilizados para a avaliação da percepção
O exame neurológico do paciente psiquiátrico
Autores

Jerusa Smid

Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Neurologista. Pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) do Hospital das Clínicas da FMUSP. Neurologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Ricardo Nitrini

Professor Titular do Departamento de Neurologia da FMUSP. Coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento (GNCC) e Diretor do Centro de Referência em Distúrbios Cognitivos (CEREDIC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Exame neurológico breve
Exame do equilíbrio e da marcha

Equilíbrio estático com olhos abertos e fechados; marcha habitual e marcha tandem.

Exame da motricidade

• Força muscular: examinar principalmente as extremidades; procurar identificar as assimetrias.
• Tono muscular: inspeção, palpação dos músculos, movimen-tação passiva dos segmentos, balanço passivo.
• Reflexos: pesquisar o patelar e o cutâneo-plantar (sinal de Babinski); procurar assimetrias.
• Coordenação: índex-nariz com olhos abertos e fechados; movimentos alternados de pronação e supinação das mãos ou mãos abertas e fechadas alternadamente, batendo sobre as coxas.

Exame da sensibilidade

Pesquisar se há queixas ou desequilíbrio ao fechar os olhos.

Exame dos nervos cranianos

• Assimetria de pupilas; pedir para o paciente olhar para ambos os lados nas direções horizontal e vertical.
• Assimetria facial ao realizar movimento como um sorriso.

Teste de fluência verbal
Semântica

Pede-se ao paciente que diga todos os nomes de animais (ou frutas) que for capaz de se lembrar no menor tempo possível.

Escores dependem da escolaridade, mas, para indivíduos com mais de 4 anos de escolaridade, esperam-se escores superiores a 12.

Fonêmico

Pode ser feito do mesmo modo, utilizando-se separadamente as letras F, A e S (não são permitidos nomes próprios, nem palavras derivadas como faca, faquinha, facão, facada, p. ex.) ou apenas com a letra P.

São esperados escores de pelo menos 30 na soma das três letras.

Teste do relógio

Pode ser útil para verificar como o paciente se organiza quando lhe é solicitado que desenhe o mostrador de um relógio marcando 2 horas e 45 minutos.

Alterações neuro-oftalmológicas em doenças neuropsiquiátricas
Exames laboratoriais, marcadores genéticos e biomarcadores
Autores

Martinus T. van de Bilt

Psiquiatra. Coordenador do Ambulatório de Psicoses do LIM-27 do Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Helena Paula Brentani

Psiquiatra. Professora Doutora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Exames laboratoriais básicos em psiquiatria
Doenças clínias que cursam comumente com sintomas psiquiátricos
Medicamentos comumente utilizados em psiquiatria
Fenotipagem em psiquiatria

Uma importante limitação dos testes farmacogenéticos é a necessidade de sua validação em diferentes cenários clínicos e étnico-populacionais.

Exames de imagem cerebral
Autores

Marcus Vinicius Zanetti

Psiquiatra. Pesquisador do Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria (LIM-21) e do Grupo de Psicoses (LIM-27), Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Indicação

A despeito do grande desenvolvimento da neuroimagem nas últimas décadas, hoje o uso de técnicas de imagem cerebral na prática clínica psiquiátrica restringe-se quase que exclusivamente à exclusão de causas secundárias de transtornos mentais.

Principais indicações de exames de imagem
Avaliação neurofisiológica
Autores

Kette Dualibi Ramos Valente

Neurologista e Neurofisiologista. Doutora em Neurologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretora do Laboratório de Neurofisiologia Clínica.

Silvia de Vincentiis

Médica Assistente do Setor de Eletroencefalografia do IPq-HCFMUSP.Membro do corpo clínico responsável pelo Estágio em Eletroencefalografia do IPq-HCFMUSP. Colaboradora do NAPNA - Núcleo de Apoio à Pesquisa em Neurociência Aplicada - USP.

Natascha Fonseca

Neurologista.

Álvaro Pentagna

Neurologista. Médico colaborador do Laboratório de Neurofisiologia Clínica.

Rosa Hasan

Neurologista Assistente do Laboratório de Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Responsável pelo Laboratório de Sono da Faculdade de Medicina do ABC.

Stella Marcia Azevedo Tavares

Médica neurofisiologista clínica. Coordenadora do Laboratório de Sono da Neurofisiologia Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Eletroencefalograma
Definição

O EEG convencional consiste no registro gráfico das correntes elétricas resultantes dos potenciais pós-sinápticos excitatórios e inibitórios gerados nos dendritos apicais das células piramidais. Os aspectos técnicos principais estão relacionados com a captação, a amplificação e a edição dos sinais.

EEG normal

O EEG normal é caracterizado por oscilações de potencial elétrico na faixa de 0,5 a 70 Hz, com amplitudes entre 20 e 100 microvolts. Basicamente, são descritos quatro ritmos: delta (0,5-3,5 Hz), teta (4-7,5 Hz), alfa (8-13 Hz) e beta (> 13 Hz).

Durante o registro em vigília, a atividade elétrica cerebral consiste na mistura de ondas alfa, beta e teta.

Padrões típicos de atividade cerebral
Elementos do laudo do eletroencefalograma
Anormalidades eletroencefalográficas

• Alterações da atividade elétrica cerebral ou atividade de base
        • Atividade de base lenta:
                • Intermitente
                • Continua
        • Atividade delta rítmica e regular intermitente
        • Excesso de atividade beta
        • Assimetria de atividade elétrica cerebral
• Atividade epileptiforme
        • Atividade epileptiforme interictal ou intercritica
        • Atividade epileptiforme ictal ou critica

Alterações secundárias ao uso de fármacos
Videoeletroencefalograma
Definição

O videoeletroencefalograma (VEEG) é um método diagnóstico não invasivo, caracterizado pelo registro do EEG concomitante com o registro em vídeo de eventos clínicos paroxísticos, fornecendo correlação inequívoca entre esses dados. o VEEG é um exame-padrão para a avaliação de eventos paroxísticos.

Videoeletroencefalograma ou monitorização prolongada

O exame pode ser realizado com a internação do paciente, sob monitorização contínua dentro de uma unidade adequada às suas necessidades, onde seus eventos são registrados durante 24 horas, por um período de tempo que, em média, varia de 3 a 7 dias.

Videoeletroencefalograma breve ou monitorização-dia

A monitorização do paciente, sem que haja necessidade de hospitalização e com uma permanência mais breve (4 a 12 horas), é denominada de VEEG dia e tem como um de seus objetivos primordiais minimizar o desconforto da monitorização prolongada. Entretanto, em decorrência de sua curta duração, tem menor sensibilidade do que o VEEG prolongado.

Indicações da VEEG
Eletroencefalografia quantitativa
Definição

É um método no qual é realizada a análise computadorizada do sinal obtido por meio do registro eletroencefalográfico digital, desempenhando um papel significativo nos estudos científicos envolvendo o funcionamento cerebral e nos diagnósticos clínicos baseados no EEG convencional.

Indicações clínicas

Deve-se considerar que, atualmente, o uso clínico dessa técnica ainda é limitado e, muitas vezes, não possibilita a realização de diagnósticos para um dado paciente em particular. Porém, o EEGq apresenta enorme potencial de crescimento na compreensão da fisiopatologia dos transtornos neurológicos e psiquiátricos, na indicação e na avaliação de resposta a tratamentos medicamentosos, na reabilitação, na pesquisa básica e clínica e no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e menos dispendiosos.

Polissonografia
Definição

É um exame no qual múltiplas variáveis fisiológicas são analisadas durante a noite. Um exame básico de polissonografia avalia três grupos principais de informação: a arquitetura do sono, a movimentação e o comportamento durante o sono e os fenômenos ventilatórios.

Teste de latências múltiplas de sono

É um método de análise quantitativa da sonolência excessiva diurna. Durante o dia, a cada 2 horas, o paciente é submetido a cinco oportunidades de sono e é medida a média das latências de sono das chances de cochilo.

Indicações

A polissonografia está indicada principalmente nas suspeitas de SAOS e na investigação das parassonias. Nos transtornos psiquátricos, a principal indicação nos casos de insônia refratária e má percepção do sono e nos casos em que possa haver comorbidades ou para auxílio no diagnóstico diferencial.

Terapêutica psiquiátrica
Principios básicos de psicofarmacologia
Autores

Clarice Gorenstein

Professora Associada do Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Pesquisadora do Lim-23, Laboratório de Psicofarmacologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).

Táki Athanássios Cordás

Coordenador da Assistência Clínica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Coordenador do Programa Transtornos Alimentares (AMBULIM) do IPq-HC-FMUSP. Professor dos Programas de Pós-Graduação do Departamento de Psiquiatria da USP e do Programa de Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia da USP.

Farmacocinética

Os psicofármacos estão sujeitos aos mesmos processos farmacocinéticos – absorção, distribuição, biotransformação e excreção – que os fármacos de ação sistêmica. O que os distingue dos demais é que seu efeito terapêutico depende da passagem pela barreira hematoencefálica.

Absorção

A quantidade de fármaco disponível para exercer sua ação depende inicialmente da absorção, ou seja, da velocidade de transferência do fármaco do local de sua administração para o sangue.

Aspectos que influenciam a absorção

Para os fármacos administrados por via oral, o caráter acidobásico do fármaco influencia a velocidade de absorção. A absorção é mais rápida com o estômago vazio; em contrapartida, para uma absorção mais lenta, ou para proteção contra fármacos que provocam irritação gástrica, é recomendável a administração após as refeições.

A formulação farmacêutica também interfere na absorção: fórmulas líquidas são absorvidas mais rapidamente do que as demais.

Distribuição

O psicofármaco atravessa a barreira hematoencefálica por transporte ativo ou difusão em razão da sua alta lipossolubilidade. A maior parte dos psicofármacos tem alta afinidade por proteínas plasmáticas, o que modula sua passagem para o sistema nervoso central (SNC).

Aspectos que influenciam a distribuição

Assim, indivíduos desnutridos ou com redução natural das proteínas pelo processo de envelhecimento podem apresentar maior quantidade de droga livre e, consequentemente, maior quantidade de droga ativa no SNC.

Biotransformação

Após a ingestão, parte do fármaco administrado por via oral pode sofrer metabolização precoce no intestino ou no fígado (metabolização de primeira passagem), o que diminui a fração do fármaco que atinge a corrente sanguínea. Antes da eliminação, os psicofármacos passam pelo processo de biotransformação, sobretudo no fígado.

Aspectos que influenciam a biotransformação

Muitos fármacos induzem (aumentam) ou inibem a atividade enzimática hepática, alterando assim a disponibilidade da droga no organismo, diminuindo (indução) ou prolongando sua ação (inibição enzimática).

Farmacodinâmica

Os psicofármacos e seus metabólitos ativos alteram a ação de neurotransmissores, como as catecolaminas (noradrenalina, serotonina, dopamina e adrenalina), os aminoácidos excitatórios (glutamato e aspartato) e os aminoácidos inibitórios (ácido gama-aminobutírico e óxido nítrico).

Eles podem atuar nas diferentes etapas dos processos de transmissão neuronal: em receptores específicos, ou interferir modificando a síntese, a liberação e a metabolização dos neurotransmissores, tanto em nível pré como pós-sináptico.

Fatores ligados ao paciente que interferem na farmaconcinética e farmacodinâmica de psicofarmacos

• Características individuais (idade, sexo, peso, composição corpórea, Alimentação, fatores genéticos)
• Estados patológicos (disfunção hepática, cardíaca, infecções)
• Padrão de uso (via de administração, dose, ambiente em que o fármaco é usado, hora do dia em que a droga é administrada)
• Interação medicamentosa
• Uso de álcool ou tabaco

Principais classes de psicofarmacos
Antidepressivos

São utilizados para tratamento de quadros depressivos, transtornos ansiosos (p. ex., transtorno de pânico, ansiedade generalizada), transtorno obsessivo-compulsivo, incontinência urinária, em síndromes caracterizadas por dor crônica, nevralgias, enxaqueca, entre outros. Eles têm em comum a latência de cerca de 2 semanas para início dos efeitos terapêuticos.

Estabilizadores do humor

Os estabilizadores do humor têm como indicação principal o transtorno afetivo bipolar, sendo eficazes na prevenção tanto das fases de mania, quanto das de depressão.

Antipsicóticos

Os antipsicóticos são utilizados clinicamente na esquizofrenia, episódios de mania, estados mistos maníaco-depressivos, depressões psicóticas, comportamento de violência impulsiva e distúrbios de comportamento em doenças de Alzheimer e Parkinson.

Hipnóticos e ansiolóticos
Benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos (BDZ) são utilizados como ansiolíticos, hipnóticos, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. Em função do risco de dependência, não devem ser utilizados por períodos prolongados.

Hipnóticos não benzodiazepínicos

O zolpidem e o zopiclone são hipnóticos não benzodiazepínicos com menor potencial de abuso.

Ansiolíticos não benzodiazepínicos

A buspirona é um ansiolítico não benzodiazepínico, com potencial de abuso menor do que o dos BDZ, mas com latência de cerca de 2 semanas para os efeitos terapêuticos.

Psicoestimulantes

Os psicoestimulantes são substâncias utilizadas no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na infância, na adolescência e na idade adulta, sendo eficazes no controle de falta de atenção, hiperatividade, labilidade emocional e impulsividade. Os disponíveis no Brasil são o metilfenidato e a dexanfetamina.

Eletroconvulsoterapia
Autores

Eric Cretaz

Médico assistente do Serviço de Terapias Biológicas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médico colaborador do Programa Terceira Idade do IPq-HC-FMUSP.

Sérgio Paulo Rigonatti

Mestre e Doutor em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Presidente do Conselho Penitenciário do Estado de São Paulo. Coordenador do Serviço de Tratamentos Biológicos (ECT-TMS) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Conceito

A eletroconvulsoterapia (ECT) consiste na indução de atividade epilética por meio da passagem controlada de corrente elétrica pelo encéfalo. Tal corrente provoca a despolarização das membranas neuronais de forma sincronizada, levando a um episódio convulsivo generalizado. Trata-se do principal tratamento biológico existente atualmente em psiquiatria e apresenta altas taxas de eficácia terapêutica. Para os quadros depressivos graves, estima-se eficácia de 80 a 90% na redução de sintomas.

Indicações

• Episódios depressivos refratários ao tratamento farmacológico ou com sintomas psicóticos e alta suicidabilidade.
• Episódios maníacos resistentes ao tratamento medicamentoso.
• Catatonia e síndrome neuroléptica maligna.
• Esquizofrenia refratária ao tratamento com clozapina.
• Transtornos psiquiátricos em gestantes.

Contraindicações

• Lesões intracranianas expansivas e condições que provoquem aumento da pressão intracraniana.
• Hemorragia cerebral recente (menos de 6 meses), aneurismas ou malformações vasculares.
• Coagulopatias.
• Patologias cardiovasculares agudas ou descompensadas (infarto agudo do miocárdio, valvopatias, arritmias, hipertensão arterial sistêmica).
• Glaucoma ou descolamento de retina.
• Patologias respiratórias: doença pulmonar obstrutiva crônica, infecções de vias aéreas altas ou baixas.

Sugestão de protocolo de avaliações preliminares pré-ECT

• Realização de exames de propedêutica armada, os quais incluem provas de função hepática e renal, dosagens de hormônios da tireoide, dosagens de eletrólitos, hemograma, coagulograma, radiografia de tórax, eletrocardiograma e exames de neuroimagem.
• Avaliação odontológica, visto que a aplicação de corrente elétrica próxima aos músculos da face causa sua contração, o que pode acarretar fraturas odontológicas e hemorragias gengivais.

Principais efeitos adversos
Déficits cognitivos

As perturbações cognitivas secundárias ao método podem variar de leves ou praticamente inexistentes, chegando em alguns casos até quadros importantes, com grave limitação funcional. Essa questão torna-se especialmente importante quando se considera o uso da ECT em pacientes idosos, uma vez que indivíduos nessa faixa etária são mais suscetíveis a distúrbios cognitivos, como quadros demenciais, estados confusionais e transtornos cognitivos leves.

Evidências sugerem que o uso da ECT bilateral esteja associado a mais prejuízos mnésticos.

Queixas somáticas

Cefaleia, mialgias e náuseas de intensidade branda a moderada. Usualmente, esses sintomas manifestam-se minutos após o despertar da indução anestésica e tendem a remitir de forma espontânea em questão de horas após o procedimento.

O uso de medicações sintomáticas apresenta boa resposta no controle dessas queixas.

Neuroestimulação por estimulação magnética transcraniana (EMT) e por estimulação transcraniana por corrente contínua
Autores

André Russowsky Brunoni

Coordenador do Serviço de Estimulação Magnética Transcraniana/Interdisciplinar de Neuromodulação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Coordenador do Centro Interdisciplinar de Neuromodulação Aplicada do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.

Pedro Shiozawa

Psiquiatra. Coordenador do Laboratório de Neuromodulação Clínica, Centro de Atenção Integrada em Saúde Mental, Santa Casa de São Paulo.

Marcel Simis

Laboratório de Neuromodulação do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Laboratório de Neuromodulação da Neurologia da Santa Casa de São Paulo.

Neuromodulação não invasiva

Engloba uma variedade de tratamentos que possuem em comum três aspectos:

1. São técnicas focais de estimulação de áreas do sistema nervoso central (SNC).
2. Utilizam eletricidade (correntes elétricas) para estimular essas áreas de maneira não invasiva.
3. Possuem finalidade terapêutica, ou seja, o tratamento dos transtornos neuropsiquiátricos, em monoterapia ou em terapia adjuvante com fármacos ou outras intervenções.

Vantagens e desvantagens da neuromodulação não invasiva
Vantagens

• Técnicas virtualmente ausentes de efeitos colaterais.
• Possibilidade de potencialização de psicofármacos, aumentando e acelerando a resposta clínica, podendo ser útil em pacientes refratários.
• Possibilidade de substituição de psicofármacos em pacientes que não podem ou não toleram o uso de remédios.

Desvantagens

• Necessidade de receber a estimulação diariamente, durante várias semanas.
• Custo pode ser maior do que o da farmacoterapia.
• Não é amplamente disponível e necessita de treinamento e equipe especializada para aplicação.

Protocolos clínicos

Protocolos clínicos de EMTr e ETCC são realizados em sessões diárias, de segundas às sextas-feiras, com a sessão de estimulação durando cerca de 30 minutos por dia. Realizam-se de dez a vinte sessões de estimulação consecutivas (ou seja, a fase de tratamento agudo dura de 2 a 4 semanas).

Tanto a EMTr e quanto a ETCC são técnicas indolores, que não necessitam de sedação ou monitoramento cardiovascular e não estão associadas a efeitos colaterais cognitivos de curto ou longo prazo.

Estimulação magnética transcraniana

Consiste na indução eletromagnética gerada pela passagem de uma corrente elétrica através de uma bobina, a qual é colocada sobre a cabeça.

Indicações

A EMTr é, atualmente, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Conselho Federal de Medicina para uso em transtornos depressivos, alucinações auditivas refratárias e planejamento neurocirúrgico.

Contraindicação absoluta

A única contraindicação absoluta da EMTr é o fato de a bobina ficar próxima de aparelhos metálicos implantáveis (p. ex., implante coclear), o que pode causar a desconfiguração dos aparelhos.

Contraindicações relativas

• Epilepsia não tratada,
• lesões no SNC,
• uso de múltiplas medicações que diminuam o limiar convulsivo,
• metais implantados no cérebro (com exceção de materiais de titânio).

Principais efeitos adversos

Crises convulsivas foram relatadas em < 1% dos pacientes que receberam EMTr de alta frequência.

Um efeito colateral relativamente frequente é a ocorrência de cefaleia em 5-20% dos pacientes

Estimulação transcraniana por corrente contínua
Indicações

A ETCC ainda carece de aprovação da Anvisa, sendo usada, no presente momento, exclusivamente em pesquisa.

Contraindicações relativas

• Posicionamento de eletrodo sobre malformações anatômicas.
• Lesões do SNC.
• Placas metálicas.
• Implantes metálicos na cabeça.

Principais efeitos adversos

A ETCC apresenta efeitos colaterais brandos, transitórios e bem tolerados, que ocorrem particularmente no local e durante a aplicação. São eles: eritema, cefaleia, prurido, formigamento e sensação de "queimação".

Quando não aplicada corretamente, a ETCC pode levar a queimaduras na pele.

Intervenções neurocirúrgicas para o tratamento de transtornos mentais
Autores

Antonio Carlos Lopes

Psiquiatra. Doutor em Ciências pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médico pesquisador do Programa de Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC) e médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Manoel Jacobsen Teixeira

Professor Titular da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Euripedes Constantino Miguel

Chefe da Disciplina de Psiquiatria da Infância e Adolescência e Professor Titular do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Erich Talamoni Fonoff

Médico Neurocirurgião Assistente da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Coordenador do Grupo de Neurocirurgia Funcional da Disciplina de Neurocirurgia do Departamento de Neurologia da FMUSP.

Principio

O princípio do tratamento cirúrgico em psiquiatria é atuar diretamente no funcionamento desses circuitos, interrompendo a conexão entre as alças neuronais envolvidas na fisiopatologia do transtorno (nas chamadas neurocirurgias ablativas), ou modificando o funcionamento delas (como na estimulação encefálica profunda).

Principios da indicação de cirurgia para o tratamento de transtornos mentais
Principais contraindicações de cirurgia para o tratamento de transtornos mentais
Regulamentação

As Resoluções n. 1.407 e n. 1.408, do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 1994, estabeleceram preceitos éticos básicos para a realização de tratamentos neurocirúrgicos dos transtornos mentais.

A Resolução n. 226 (de 25/03/2011) passou a exigir que a cirurgia para tratamento de transtornos mentais fosse realizada apenas mediante consentimento do paciente ou seu responsável e após manifestação de um comitê externo de avaliação, designa- do pelo CREMESP para esse fim.

O Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução n. 2.057/2013 (de 12/11/2013), arts. 19 e 20, estabeleceu que a indicação do tratamento cirúrgico de um transtorno mental deverá ser realizada por um médico assistente, respaldado por laudo de um psiquiatra e de um neurocirurgião de outro serviço.

Terapias psicológicas: indicações e considerações gerais sobre as diferentes abordagens psicoterápicas
Autores

Patrícia de Campos Lindenberg Schoueri

Doutora em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenadora do Grupo de Psicoterapia Breve do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Eva Helena Costa Cardoso Zoppe

Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Supervisora do Grupo de Psicoterapia Breve do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Maria Cecília Fernandes Silva

Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro Filiado do Instituto Durval Marcondes da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Psicóloga Supervisora e Coordenadora do Ambulatório de Família (AMFAM) do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Oswaldo Ferreira Leite Netto

Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Psiquiatra e Psicanalista. Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalitical Association. Diretor do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Milena Gross de Andrade

Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Psiquiatra do Projeto Região Oeste (PRO) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Felipe Corchs

Professor Colaborador Médico do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Médico assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Programa do Programa de Análise do Comportamento do IPq-HC-FMUSP.

Ana Claudia Andrade West

Psicóloga. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Formada em Psicoterapia Interpessoal pelo Western Psychiatric Institute and Clinic (University of Pittsburgh School of Medicine). Membro da Sociedade Internacional de Psicoterapia Interpessoal (isIPT).

Fabiana Saffi

Psicóloga Clínica e Forense. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Especialista em Psicologia Jurídica e em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica. Psicóloga do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia e do Projeto de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Giovana Del Prette

Psicóloga comportamental no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP) e no Núcleo Paradigma. Pós-doutoranda no IPq-HC-FMUSP. Mestre e Doutora pelo Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC) em 2012.

Regina Christina Wielenska

Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre e Doutora em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Supervisora em terapia analítico-comportamental no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP) e no Hospital Universitário da USP.

Carolina Escalona Perroni Corchs

Psicóloga comportamental no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Supervisora clínica do curso de especialização do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento.

Francisco Lotufo Neto

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Aspectos gerais

Diversas técnicas psicoterápicas podem ser usadas no manejo dos distúrbios psiquiátricos, dependendo da situação considerada.

Psicoterapia de orientação psicanalítica

A psicoterapia psicodinâmica é, geralmente, o tratamento de escolha para os pacientes com organização neurótica, sendo realizado por meio do trabalho interpretativo e do vínculo terapêutico. Para os pacientes com organização psicótica, sem sintomas psicóticos formais, como alucinações e delírios, ela, por meio da capacidade de continência e tolerância, ajuda a discriminação dos sentimentos e a construção de um eu mais estruturado.

Psicoterapia psicodinâmica breve

Pode ser entendida como uma forma de psicanálise aplicada, em função da alteração do setting e da condução do tratamento, com delimitação do material a ser trabalhado, manejo específico da transferência e prioridade da situação de término.

Psicoterapia familiar

A psicoterapia familiar surgiu em um momento histórico no qual as instituições necessitavam de outros dispositivos de tratamento e a família, que durante muito tempo foi afastada do doente mental, passou a ser incluída em seu projeto terapêutico.

Existem muitas escolas de terapia familiar, mas os principais referenciais teóricos são o sistêmico e o psicanalítico.

Modelo psicanalítico

Neste modelo, a família é concebida como uma unidade psíquica, na qual se pode observar toda dinâmica pulsional em movimento no seu interior e cujas forças em confronto são mobilizadas e mobilizam fantasias originárias, desdobramentos da sexualidade infantil que se manifestam no interjogo das relações familiares.

Modelo sistêmico

A concepção sistêmica vê o mundo em termos de relações e de integração. O foco da visão clínica deixa de ser o intrapsíquico para ser o inter-relacional.

A família é compreendida como um sistema aberto que se autogoverna por meio de regras que definem o padrão de comunicação. Assim, mantém-se uma interdependência entre os membros e entre estes e o meio, no que diz respeito à troca de informações. O aspecto fundamental é que o ser “doente” ou a pessoa que apresenta problemas é apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. A ênfase é para a mudança no sistema familiar, sobretudo em relação à organização da comunicação entre os membros da família.

Psicoterapia interpessoal

A psicoterapia interpessoal (TIP) foi desenvolvida como uma abordagem individual, focal e de tempo limitado.

A TIP baseia-se na premissa de que a doença ocorre sempre em um contexto interpessoal e social que influencia seu início, resposta ao tratamento e prognóstico. Alguns eventos comuns são: separação conjugal, conflitos conjugais, caso extraconjugal, perda do emprego, mudança de bairro ou cidade, morte de alguém próximo, aposentadoria e diagnóstico médico. O trabalho psicoterapêutico atua na facilitação de aspectos comprometidos no contexto atual do paciente, visando à melhora sintomatológica, do curso da doença e do ajustamento psicossocial do indivíduo. As estratégias clínicas desta abordagem focalizam o tratamento em quatro áreas problemas: luto, conflitos interpessoais, transições de papéis e déficits interpessoais.

Análise do comportamento

Duas são as premissas fundamentais da análise do comportamento:

• A primeira é considerar a psicologia nos moldes das ciências naturais como a física, a química e a biologia e, portanto, basear sua construção na observação empírica, na experimentação.
• A segunda premissa fundamental é um posicionamento monista fisicalista em relação à psicologia, ou seja, a análise do comportamento rejeita qualquer entidade extranatural ou de natureza não física. É importante ressaltar que isso é drasticamente diferente de rejeitar aspectos subjetivos, complexos, privados ou qualquer outro tipo de aspecto relevante à psicologia.
• Os analistas do comportamento entendem que existem duas principais formas de aprendizagem: por condicionamento respondente (também dito condicionamento clássico ou pavloviano) e por condicionamento operante, que inclui comportamentos mais complexos, como o verbal. Todos os comportamentos, mesmo os mais complexos, como pensamentos e emoções, são produtos especialmente desses dois processos.
• Em terapia, as sessões iniciais destinam-se a construir a relação terapêutica e coletar informações relevantes à compreensão dos problemas e variáveis mais importantes em sua perpetuação. Nas sessões intermediárias a ênfase é na intervenção, baseada em teorias de aprendizagem e dados de pesquisa. Como um todo, a terapia tem como meta que as mudanças de comportamento (pensar, sentir, agir) do cliente se sustentem em seu ambiente natural, trazendo ganhos significativos para si e aqueles com os quais conviva.

Terapia cognitiva

A terapia cognitiva provém de várias formas de atuação clínica e conhecimento científico. Sua forma mais conhecida foi desenvolvida por Aaron T. Beck, no início da década de 1960. Inicialmente desenvolvida para tratar a depressão, atualmente é utilizada para trabalhar diversas patologias e vários aspectos das relações humanas.

Terapia construtivista

Na concepção construtivista, a psicopatologia também resulta de pensamentos e crenças, mas aqui não se considera que eles estejam distorcidos e gerem emoções negativas.

As disfunções e os distúrbios emocionais surgem quando a pessoa não se sente autorizada a reconhecer, sentir ou até mesmo validar determinadas emoções.

Terapia processual

A terapia processual (TP) simula um processo judicial a partir do qual o paciente aprende a avaliar suas crenças disfuncionais, atuando como promotor e advogado.

A base racional para a proposta da TP é que esta pode ser útil em fazer com que os pacientes se tornem conscientes das crenças sobre si mesmos (autoacusações) e engajem-se em um processo construtivo para desenvolver crenças mais positivas e funcionais.

Avaliação e manejo do paciente com risco de suicídio
Autores

Taís Michele Minatogawa-Chang

Médica Supervisora do Ambulatório de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médica Assistente do IPq-HC-FMUSP.

Débora Luciana Melzer-Ribeiro

Médica Supervisora do Ambulatório de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médica do Serviço de Terapias Biológicas (ECT) do IPq-HC-FMUSP. Mestranda do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Chei Tung Teng

Médico Coordenador do Serviço de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Diretor Clínico da Clínica de Ansiedade e Depressão (CLIAD).

Miguel Angelo Boarati

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Coordenador do Ambulatório de Transtornos Afetivos e Hospital-Dia Infantil do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Epidemiologia

O suicídio é a 11a causa de morte para todas as idades e a segunda causa de morte entre 25 e 34 anos de idade. Mortes decorrentes de suicídio são as mais associadas com antecedentes de uma ou mais tentativas de suicídio e ideação suicida persistente.

A grande maioria dos suicídios é associada a transtornos mentais, particularmente depressão e outros transtornos de humor e abuso de substâncias.

Fatores de risco para o suicídio
Elementos fundamentais da prática clínica para a detecção e prevenção de risco de suicídio
Elementos para melhoria da qualidade do atendimento e satisfação em pacientes com risco de suicídio
Elementos da estratégia de intervenção
Intervenções com ação para redução de atos suicidas
Medicações

Quando utilizados em longo prazo, o lítio, que é um estabilizador do humor com propriedades antidepressivas, e o antipsicótico clozapina estão associados com a redução de atos suicidas recorrentes.

Não existe nenhuma informação de que os antidepressivos apresentem essa propriedade.

Psicoterápicas

Existem evidências consideráveis de que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é eficaz na prevenção de tentativas de suicídio entre pacientes identificados em serviços de emergência.

Modelo de seguimento clássico

O modelo mais difundido de estratégia de prevenção do suicídio envolve um encontro inicial com um profissional com conhecimento e habilidades clínicas em suicídio seguido por um acompanhamento regular ao longo de 18 a 24 meses.

"Cartões de crise"

Descrevem como obter ajuda em qualquer momento. Tal intervenção provoca a significativa redução de comportamentos de autoagressão.

Intervenções ambientais

As mais eficientes são: remover o acesso a armas letais, manter contato após a alta de pacientes que foram hospitalizados e manter uma via de fácil acesso em momentos de crise.

Parametros para a avaliação de risco de suicídio
Abordagem na emergência psiquiátrica
Autores

Débora Luciana Melzer-Ribeiro

Médica Supervisora do Ambulatório de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médica do Serviço de Terapias Biológicas (ECT) do IPq-HC-FMUSP. Mestranda do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Taís Michele Minatogawa-Chang

Médica Supervisora do Ambulatório de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Médica Assistente do IPq-HC-FMUSP.

Miguel Angelo Boarati

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Coordenador do Ambulatório de Transtornos Afetivos e Hospital-Dia Infantil do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Chei Tung Teng

Médico Coordenador do Serviço de Interconsultas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Diretor Clínico da Clínica de Ansiedade e Depressão (CLIAD).

Definição de emergência psiquiátrica

A emergência psiquiátrica é uma alteração aguda de comportamento, pensamento ou sentimento de um paciente que, se não tratada, pode levar a prejuízos para o indivíduo ou outras pessoas.

Fatores de risco para transtornos mentais secundários
Agitação psicomotora
Definição

Agitação psicomotora, agressividade e violência são comportamentos que podem ser observados em diversos transtornos psiquiátricos. A agitação caracteriza-se pelo aumento da excitabilidade, inquietação, resposta exacerbada a estímulos internos e externos, irritabilidade e atividades motora e verbal inapropriadas e repetitivas. Já a violência pode ser entendida como a agressão física dirigida a determinada pessoa.

Fatores associados ao aumento do risco de violência em portadores de transtornos mentais
Condições clínicas associadas a risco de agitação psicomotora e violência
Contenção mecânica
Aspectos técnicos da postura da equipe para a contenção mecânica

• Um membro da equipe assistencial deve assumir a coordenação da abordagem junto ao paciente, aos familiares e a outros profissionais envolvidos.
• Cabe ao coordenador promover o vínculo terapêutico logo no início do atendimento.
• Ouvir o paciente e informá-lo sobre sua evolução e seu tratamento.
• Identificar os fatores de melhora e piora da agitação/agressividade.
• Intervir junto à equipe e aos familiares.
• Falar em voz baixa e ficar atento aos comportamentos verbais e não verbais da equipe e dos familiares.
• Providenciar para que as avaliações e as medidas tomadas sejam registradas no prontuário do paciente.
• Considerar as abordagens e as condutas mais adequadas após a avaliação dos fatores de risco, da situação clínica e da segurança.
• Preferencialmente, priorizam-se as técnicas de atenuação.

Abordagem comportamental da agitação
Algoritmo para sequencia de ações durante o processo de contenção mecanica
Equipe e equipamentos mínimos para realização adequada de contenção mecânica

A contenção física adequada necessita de cinco pessoas treinadas, uma para cada membro e uma protegendo a cabeça.

A contenção deve ser realizada com faixas específicas que não comprimam os vasos sanguíneos e plexos nervosos e em camas e leitos adequados para tal finalidade.

Medicações para o manejo da agitação psicomotora
Objetivo

O objetivo do uso de medicações é tranquilizar o paciente o mais rapidamente possível, reduzindo o risco de auto e heteroagressividade e a ocorrência de efeitos colaterais, mas de maneira a permitir a continuidade da investigação diagnóstica e da abordagem terapêutica.

Riscos e cuidados
Medicações mais utilizadas
Principais situações de emergência psiquiátrica com crianças e adolescentes
Abordagem dos transtornos psiquiátricos na gestação e no puerpério
Autores

Vera Tess

Psiquiatra. Mestre em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médica Assistente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Responsável pelo Ambulatório de Gestantes do Serviço de Interconsultas do IPq-HC-FMUSP.

Momentos de risco associados aos tratamentos psiquiátricos durante o ciclo gravídico-puerperal

• risco do feto decorrente da exposição ao medicamento;
• risco da doença não tratada para a mãe e para o feto;
• risco de recaída associada à retirada de um tratamento de manutenção.

Gestação
Sintomas concordantes entre depressão e gestação

• cansaço;
• letargia;
• labilidade emocional;
• mudança de apetite;
• diminuição do desejo sexual;
• distúrbios de sono.

Riscos associados ao não tratamento de transtornos do humor e ansiosos
Riscos associados a interrupção da medicação
Suspenão precoce da medicação

A maior parte das gestantes em tratamento para transtornos depressivos e ansiosos interrompe a medicação quando se descobre grávida, causando a recaída na maioria – 68% das pacientes recaíram após descontinuarem o tratamento antidepressivo próximo à concepção.

No transtorno bipolar, o risco de recaída é particularmente alto nas pacientes que interrompem o tratamento profilático, sobretudo se a retirada for abrupta – 85% das gestantes que interromperam o tratamento com lítio recaíram (a maioria no primeiro trimestre).

Uso de doses inadequadas para o manejo do transtorno psiquiátrico

Muitas gestantes usam medicação em doses inadequadas, em geral pelo receio de exposição do feto à farmacoterapia, comportamento que expõe o feto ao risco simultâneo da medicação e da doença não tratada.

Descontinuar um tratamento de manutenção é uma decisão importante. Só deve ser feito com avaliação cuidadosa da história da doença e em conjunto com a paciente e o obstetra.

Princípios do tratamento farmacológico
Psicotrópicos na gestação e risco de efeitos fetais
Fatores que influem o nível sérico da droga durante a gestação

Mudanças no volume plasmático, aumento do metabolismo hepático e do clearance renal durante a gestação podem afetar o nível sérico da droga. Muitas vezes, é necessário aumentar a dose do antidepressivo ao longo da gestação (especialmente, no terceiro trimestre).

Uso de antidepressivos durante a gestação

São os psicotrópicos mais prescritos e estudados na gestação. Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) são os antidepressivos mais utilizados e, portanto, com mais informação na literatura.

Os estudos que investigam a associação entre malformação e uso de antidepressivos em geral diferem metodologicamente, e seus resultados são raramente replicados.

A gravidade da doença materna é o parâmetro mais relevante para as decisões clínicas que devem ser tomadas pela paciente, em conjunto com seu parceiro e o obstetra.

Impacto dos antidepressivos no pós-parto

Recém-nascidos expostos a antidepressivos no final do terceiro trimestre podem apresentar sintomas causados seja pelo efeito tóxico da medicação, seja pela sua descontinuação.

Orientações sobre o uso de lítio durante a gestação
Orientações sobre o uso de anticonvulsivantes durante a gestação
Puerpério
Transtornos depressivos puerperais
Disforia puerperal

Disforia puerperal (ou blues) pode ser identificada em até 85% das puérperas (labilidade emocional, choro fácil, ansiedade, insônia, irritabilidade e sentimentos de inadequação, com início, geralmente, nos primeiros dias após o parto, tendendo a desaparecer espontaneamente em até 2 semanas). Por não estar as- sociada ao comprometimento do funcionamento da puérpera e por ser transitória, não requer nenhum tratamento específico.

Depressão puerperal

A depressão pós-parto (DPP) (10-15% das puérperas) caracteriza-se por um quadro depressivo semelhante ao das não grávidas, porém com maior frequência de obsessões com conteúdo de agressão ao bebê, humor lábil e sintomas de ansiedade. O início da DPP é insidioso, ocorre geralmente até 6 semanas após o nascimento do bebê, mas pode surgir meses após o parto, sendo os primeiros 3 meses o período mais crítico.

O diagnóstico e seu tratamento precoce são essenciais. Depressão puerperal não tratada pode comprometer o cuidado com o recém-nascido e o vínculo afetivo entre mãe e bebê, com efeitos negativos sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança. Além disso, aumenta o risco de suicídio materno e de cronificação da depressão.

Fatores que influenciam no diagnóstico da depressão puerperal

É difícil diagnosticar depressão nas primeiras semanas após o parto. Vários sintomas sugestivos de depressão, como alterações de sono, de apetite e de desejo sexual, estão presentes no pós-parto; contudo, é um erro considerar os sintomas neurovegetativos características normais do puerpério.

Psicose puerperal

A psicose puerperal é uma emergência psiquiátrica caracterizada por quadros graves, de início precoce, com instalação nas primeiras 3 semanas após o parto, em geral entre as primeiras 48 e 72 horas. Estão presentes em 0,1-0,2% das parturientes. Os sintomas prodrômicos são inquietação, irritabilidade e alteração do sono, que evoluem rapidamente para um quadro psicótico caracterizado por humor depressivo ou eufórico, comportamento desorganizado, labilidade emocional, delírios e alucinações. Também são frequentes quadros confusionais, como o delirium. Patologias orgânicas, como eclâmpsia, tireoidopatias, tromboflebite cerebral e encefalites devem ser descartadas como causas desses quadros.

A psicose puerperal deve ser tratada prontamente. A ausência de tratamento adequado, quase sempre envolvendo internação hospitalar, coloca a mãe e o bebê em risco. A taxa de infanticídio associada à psicose puerperal não tratada tem sido estima- da em 4%.

Manejo dos transtornos depressivos puerperais
Boas práticas para o manejo de portadoras de transtornos mentais no período perinatal
Terapêuticas de transtornos mentais em pacientes com comorbidades clínicas
Autores

Eduardo de Castro Humes

Coordenador do Ambulatório da Divisão de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP). Responsável pelo Ambulatório Didático de Psiquiatria dos internos do HU-USP. Pós-graduando do Departamento de Psiquiatria da FMUSP.

Renério Fráguas Júnior

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Grupo de Interconsulta Hospitalar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Objetivo das intervenções

Objetiva-se obter a remissão dos sintomas mentais, preservar boa qualidade de vida e contribuir para melhora do prognóstico da condição médica associada.

Estratégia

É preciso estabelecer a conduta, dividindo as escolhas e as decisões com o paciente e incluindo métodos para alívio de sintomas físicos e estratégias para tratamento de eventuais transtornos mentais.

Sempre importante observar

• Impacto psicológico das restrições imposto pela comorbidade clínica e dos procedimentos terapêuticos (reações de adaptação).
• Impacto no sistema nervoso central (SNC) de mudanças fisiopatológicas da própria condição clínica ou de seu tratamento (síndromes mentais orgânicas).
• Não aderência contribui de modo significativo para a piora do prognóstico.
• Motivos para a não aderência incluem: problemas na relação médico paciente, descrença na eficácia do tratamento, complexidade dos procedimentos terapêuticos, atitude passiva em relação às decisões do próprio tratamento.

Pontos essenciais do tratamento

• Tratam-se os aspectos biológicos e psicossociais que estejam atuando etiologicamente ou como mantenedores do transtorno.
• Detectar e cuidar de problemas da relação médico paciente (p. ex., reforço em relação à participação do paciente nas decisões e no monitoramento de sua doença aumentam a aderência).
• Detectar e tratar transtornos mentais (p. ex., depressão está associada à dificuldade para aderir tanto a tratamentos medica- mentos como comportamentais, incluindo dietas e atividade física).

Situações que o não psiquiatra deve considerar a solicitação de interconsulta
Uso de ECT

A evolução da técnica da eletroconvulsoterapia (ECT) permite que ela seja utilizada em pacientes com transtornos mentais associados a diversas condições médicas preservando-se alguns cuidados.

Particularidades do tratamento farmacológico na criança e no adolescente
Autores

Ênio Roberto de Andrade

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diretor do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP). Coordenador do Ambulatório de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) do IPq-HC-FMUSP.

Miguel Angelo Boarati

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Coordenador do Ambulatório de Transtornos Afetivos e Hospital-Dia Infantil do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP).

Lee Fu-I

Psiquiatra da infância e adolescência. Doutora em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médica assistente do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínica da FMUSP. Responsável Geral do Programa de Atendimento aos Transtornos Afetivos (PRATA) no mesmo serviço. Supervisora de médicos residentes de Psiquiatria da Infância e Adolescência.

Introdução

O tratamento psicofarmacológico é apenas uma parte da abordagem terapêutica, pois intervenções sociais, familiares e individuais sempre devem ser consideradas. Existem quadros psicopatológicos em que o tratamento psicofarmacológico é essencial, como psicoses e transtorno bipolar (TB). Mesmo nesses casos o tratamento é multimodal e sempre iniciado após a avaliação clínica detalhada, com diagnóstico definido.

Uma importante particularidade a ser considerada é que a decisão do tratamento de crianças e adolescentes não depende exclusivamente deles. Cabe, aqui, a correta orientação aos responsáveis sobre a importância do tratamento farmacológico, o armazenamento e sua administração. É necessária a atenção para os riscos de mau uso, como abuso de substâncias e/ou tentativa de suicídio.

Particularidades do tratamento em crianças

Crianças diferem dos adultos tanto do ponto de vista do desenvolvimento neuropsicológico, quanto em relação às particularidades da farmacocinética e da farmacodinâmica.

A taxa de absorção pode ser mais rápida e, consequentemente, o pico plasmático pode ocorrer mais cedo.

O metabolismo hepático é bem maior quando comparado ao dos adultos (p. ex., entre 6 e 10 anos, é duas vezes maior) e equivalente ao dos adultos acima dos 15 anos. Outro aspecto a ser levado em consideração é a filtração glomerular, que é mais rápida nas crianças se comparada à dos adultos. Também devem ser consideradas a puberdade e a presença de hormônios sexuais que irão competir com as enzimas hepáticas. Drogas lipossolúveis tendem a ser liberadas mais lentamente em razão da maior presença proporcional de gordura no primeiro ano de vida, que diminui gradativamente até a puberdade.

A resposta também pode diferir nas crianças quando compara- das com os adultos em virtude dos fatores farmacodinâmicos, entre eles maturação das vias neuronais e/ou de suas funções (p. ex., a densidade sináptica dopaminérgica apresenta seu pico por volta dos 3 anos).

Principais psicofármacos utilizados em crianças e adolescentes
Antipsicóticos
Estabilizadores do humor
Antiderpressivos
Psicoestimulantes e outras medicações
Particularidades do tratamento farmacológico do idoso
Autores

Paulo Renato Canineu

Geriatra. Doutor em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor Assistente-Doutor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Introdução

Os psicofármacos, quando bem indicados para o idoso, também se mostram bastante eficazes, devendo ser usados nessa população com respeito às particularidades individuais.

Deve-se considerar sempre que, nessa faixa etária, a possibilidade de efeitos adversos também é maior, daí a prescrição ser mais cuidadosa.

As medidas preventivas devem ser sempre mentalizadas, inclusive, se possível, que os medicamentos tenham uso por tempo não prolongado.

Particularidades do tratamento em idoso
Farmacodinâmica

As pessoas tornam-se muito mais sensíveis à ação dos medicamentos durante o período de envelhecimento de maneira geral.

Em relação a alterações dos mecanismos homeostáticos, há modificações que afetam direta e indiretamente o sistema nervoso central (SNC): os barorreceptores sofrem variações, influindo no controle postural da pressão arterial e podendo também ocorrer dificuldades na termorregulação, diminuição na resposta imunológica, maior intolerância à glicose e alterações da sensibilidade enzimática.

Ocorrem diminuição do número e da afinidade de betarreceptores, menor resposta dos alfarreceptores, também menor resposta dos receptores colinérgicos à atropina, além de maior sensibilidade dos receptores GABA aos benzodiazepínicos.

Farmacocinética
Implicações éticas e legais da prática psiquiátrica
Autores

Daniel Martins de Barros

Psiquiatra. Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador da Sessão de Psiquiatria Forense do Programa de Psiquiatria Forense e Psicologia Jurídica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Antonio de Pádua Serafim

Psicólogo e Neuropsicólogo. Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador Geral do Núcleo Forense e Psicólogo Supervisor do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da FMUSP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo.

Internações involuntárias
Fluxograma de decisão para internações involuntárias
Legislação relacionada às internações involuntárias

Lei Federal n. 10.216/2001

Familiar responsável legal

Do art. n. 1.775 do Novo Código Civil:

O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito.

§ 1° – Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto.

§ 2° – Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.

§ 3° – Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador.

Laudo psiquiátrico
A perícia psiquiátrica

Com intuito de buscar as respostas colocadas pelos advogados, juízes, delegados, promotores etc., o médico realiza um exame – chamado de exame pericial –, utilizando entrevistas, propedêutica armada, consultas a prontuários anteriores e o que mais julgar conveniente. O relatório desse trabalho – cuja estrutura é padronizada – chama-se laudo médico.

A perícia psiquiátrica em relação a clínica

A perícia psiquiátrica não difere em sua realização da entrevista psiquiátrica usual. Como o objetivo nesse caso é responder as questões judiciais, e não o tratamento as regras de sigilo são diferentes, estando o perito desligado do sigilo estrito, podendo transmitir às autoridades requisitantes tudo o que julgar pertinente ao caso.

Integração da psiquiatria à atenção primária a saúde: dez ideias sobre por que e como
Autores

Hermano Tavares

Professor-Associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Coordenador do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (IPq-HC-FMUSP).

Lygia Maria de França Pereira

Psiquiatra da Universidade de São Paulo. Mestre e Doutora em Saúde Mental pela Universidade Estadual de Campinas.

Prevalências e custo elevado dos transtornos mentais pedem estratégias custo-efetivas

• Sistemas de saúde centrados na atenção primária propiciam melhores níveis de saúde e custos mais baixos.
• Em 2020, a projeção é de que os transtornos mentais serão responsáveis por 78% da carga global de doença nos países em desenvolvimento.

O equivoco histórico da separação entre saúde mental e saúde física precisa ser corrigido

• O resgate das questões da mente para a prática médica geral retifica uma falsa concepção pervasiva na filosofia ocidental iniciada com Platão e popularizada por Descartes – o dualismo mente e corpo.
• Transtornos mentais e DCNC são altamente prevalentes e comumente associadas.
• Transtornos mentais e DCNC compartilham fatores de risco, como sedentarismo, dieta inadequada, obesidade, abuso de álcool, tabaco e outras substâncias.

Transtornos mentais interagem com outros grandes desafios da saúde coletiva

• Mesmo quando não associadas diretamente ao agravo em questão, questões comportamentais, como abuso de álcool, tabaco, depressão, comportamento sexual e violência, continuam sendo fatores decisivos em outras causas prevalentes de incapacidade e morte prematura, como doenças cardiovasculares, câncer, doenças pulmonares, HIV e causas externas (acidentes de trânsito, suicídio, homicídio etc.).
• A comorbidade entre um transtorno mental e uma DCNC, por exemplo, depressão e diabete, além de comum implica desafios para a eficácia e a adesão ao tratamento de ambas as condições.
• O tratamento conjunto de ambas as condições é mais custo-efetivo.

A atenção primária é o campo ideal para ações preventivas em saúde mental

• Esses programas idealmente devem ser implantados sob a perspectiva do desenvolvimento vital, em uma estratégia combinada que privilegia segmentos críticos da população e os transtornos mentais mais comuns, por exemplo, promoção da saúde materno-infantil; educação em saúde mental e intervenções precoces para crianças e adolescentes em risco para transtornos externalizantes e internalizantes; intervenções precoces para indivíduos que exibem sintomas associados à psicose; promoção do envelhecimento saudável e prevenção do declínio cognitivo.

Promoção e prevenção em saúde mental funcionam: programas de saúde materno-infantil

• Evidências mostram que intervenções baseadas em um programa estruturado de visitas regulares por profissional de nível técnico ou profissional de saúde com nível superior são capazes de melhorar a sensibilidade e a responsividade materna às demandas do bebê, reduzem a negligência paterna e promovem um desenvolvimento mais adequado da criança.

Intervenções educacionais para prevenção em saúde mental

• Atividades voltadas para esclarecimento de pais, tutores e educadores ajudam a promover a “alfabetização” da sociedade nas questões de saúde mental e reduzem o estigma, contribuem para a redução do atraso de chegada para tratamento e são, até o momento, a melhor estratégia para favorecer a eficácia do tratamento de transtornos psicóticos e prevenção da cronificação de transtornos mentais em geral.

Educação permanente em saúde mental para profissionais da atenção primária

• A educação permanente em saúde mental é imprescindível para aprimorar o reconhecimento dos transtornos mentais, reduzir o estigma e o niilismo terapêutico associados a eles.

Foco e capacitação assistencial: o modelo de cuidados colaborativos

• O leque de atribuições assistenciais da atenção primária em saúde mental é amplo e variado e representa um desafio à capacitação dos seu profissionais.
• A capacitação, nesse caso, inicia-se pela prática e dessa forma combina de forma inextricável os processos de educação permanente e assistência.
• Esse processo envolve métodos diversos como: disseminação de informações e diretrizes de tratamento, cursos e seminários, interconsulta psiquiátrica, encaminhamento para serviço psiquiátrico de referência e, finalmente, o modelo de cuidado colaborativo (MCC).
• A estrutura do MCC é variável, mas em termos gerais ela é descrita como uma intervenção multifacetada, na qual estão envolvidos três ou mais indivíduos trabalhando em colaboração de formação profissional distinta, em geral um gerente de caso, um médico ou enfermeiro de atenção primária e um especialista em saúde mental.

Modelos custo-efetivos de tratamento progressivo

• Em um conflito no qual a ética coletiva do melhor emprego do recurso público prevalecerá sobre a ética individual do direito de acesso ao melhor tratamento possível.
• Esse impasse pode e deve ser resolvido pelo emprego da estratégia de cuidados progressivos, em que é oferecido um continuum de cuidados que progridem de modelos mais custo-efetivos (porém menos eficazes), para tratamentos mais custosos e complexos.

Integração efetiva da atenção primária em uma rede pública de serviços de saúde mental apoiada em sistemas de informação

• Modelos assistenciais colaborativos pautados em um processo de cuidados contínuos progressivos dependem inevitavelmente de uma rede de apoio, que tem a atenção primária em seu centro e expande os seus limites, integrando-a aos serviços especializados de psiquiatria e saúde mental, superando o modelo tradicional de hierarquia vertical.
• Essa rede precisa ser dotada de um sistema efetivo de referência e contrarreferência e os profissionais da atenção primária deveriam contar com retaguarda ampla e disponível a centros de tratamento intensivo (CAPS, hospitais-dia e ambulatório especializado) e leitos psiquiátricos quando necessário.
• As informações do paciente relativas ao seu acompanhamento na atenção primária e as informações registradas no prontuário do centro de atenção especializada devem ser integradas e os profissionais das duas pontas devem ter acesso fácil a essas informações.


Editores
  • Eduardo de Castro Humes
  • Orestes Vicente Forlenza
  • Euripedes Constantino Miguel

Coordenador técnico
  • Rogério Teixeira Costa (Manole Educação)

Desenvolvedor
  • Raphael Agneli (Manole Educação)

Autores
  • Alexandre Pinto de Azevedo
  • Álvaro Pentagna
  • Ana Clara Floresi
  • Ana Claudia Andrade West
  • Ana Gabriela Hounie
  • André Malbergier
  • André Russowsky Brunoni
  • Antonio Carlos Lopes
  • Antonio de Pádua Serafim
  • Beny Lafer
  • Candida Helena Pires de Camargo
  • Carmita Helena Najjar Abdo
  • Carolina Escalona Perroni Corchs
  • Camila Magalhães Silveira
  • Cássio Machado de Campos Bottino
  • Chei Tung Teng
  • Clarice Gorenstein
  • Daniel Fuentes
  • Daniel Lucas da Conceição Costa
  • Daniel Martins de Barros
  • Daniela Meshulam Werebe
  • Débora Luciana Melzer-Ribeiro
  • Débora Pastore Bassitt
  • Doris Hupfeld Moreno
  • Eduardo de Castro Humes
  • Eduardo Wagner Aratangy
  • Elisa Maria de Mesquita
  • Ênio Roberto de Andrade
  • Eric Cretaz
  • Erich Talamoni Fonoff
  • Eva Helena Costa Cardoso Zoppe
  • Fabiana Saffi
  • Fábio Corregiari
  • Fábio Henrique de Gobbi Porto
  • Fábio Pinato Sato
  • Fábio Tápia Salzano
  • Felipe Corchs
  • Fernando Ramos Asbahr
  • Florindo Stella
  • Francisco Baptista Assumpção Jr
  • Francisco Lotufo Neto
  • Franklin Santana Santos
  • Giancarlo Spizzirri
  • Giovana Del Prette
  • Guilherme Ludovice Funaro
  • Guilherme Vanoni Polanczyk
  • Helena Paula Brentani
  • Helio Elkis
  • Henrique Moura Leite Bottura
  • Hercilio Pereira de Oliveira Júnior
  • Hermano Tavares
  • Ivan Aprahamian
  • Jerusa Smid
  • Juliana Belo Diniz
  • Kette Dualibi Ramos Valente
  • Lee Fu-I
  • Leandro Fernandes Malloy-Diniz
  • Leonel Tadao Takada
  • Luis Augusto Rohde
  • Lygia Maria de França Pereira
  • Manoel Jacobsen Teixeira
  • Marcel Simis
  • Marcelo Marui Biondo
  • Marcelo Queiroz Hoexter
  • Marcia Rubia R. Gonçalves
  • Márcio Bernik
  • Márcio Gerhardt Soeiro-de-Souza
  • Marco de Tubino Scanavino
  • Marcos Tomanik Mercadante – in memoriam
  • Marcus Vinicius Zanetti
  • Maria Alice De Mathis
  • Maria Antônia Simões Rêgo
  • Maria Cecília Fernandes Silva
  • Maria Niures P. S. Matioli
  • Mario Rodrigues Louzã Neto
  • Martinus T. van de Bilt
  • Miguel Angelo Boarati
  • Milena Gross de Andrade
  • Mirella Martins de Castro Mariani
  • Monica Kayo
  • Mônica Santoro Haddad
  • Natascha Fonseca
  • Orestes Vicente Forlenza
  • Oswaldo Ferreira Leite Netto
  • Paula Villela Nunes
  • Paulo Germano Marmoratto
  • Paulo Jannuzzi Cunha
  • Paulo Renato Canineu
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  • Pedro Shiozawa
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  • Renato Anghinah
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  • Ricardo Nitrini
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  • Roseli Gedanke Shavitt
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  • Sara Motta Berges Bottino
  • Sérgio Paulo Rigonatti
  • Sheila Cavalcante Caetano
  • Silvia de Vincentiis
  • Silviane Pinheiro Campos de Andrade
  • Sonia Maria Dozzi Brucki
  • Stella Marcia Azevedo Tavares
  • Taís Michele Minatogawa-Chang
  • Tais S. Moriyama
  • Táki Athanássios Cordás
  • Tíbor Rilho Perroco
  • Valéria Santoro Bahia
  • Vera Tess

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